PMDB endurece com PT e insiste na candidatura de Pezão
Partido, agora, afirma que está disposto a abrir mão da vaga de Sérgio Cabral na disputa pelo Senado, desde que aliança seja mantida no Rio com apoio ao nome de Pezão
Sem ter mais o que oferecer ao PT para evitar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), e empenhado em manter o vice-governador Luiz Fernando Pezão como postulante ao governo do Rio, o PMDB passou a usar o futuro político de Sérgio Cabral como moeda de troca. O presidente do diretório fluminense do partido, Jorge Picciani, afirmou, no Palácio Guanabara, que Cabral está disposto a abrir mão de sua vaga na disputa pelo Senado em favor da manutenção da aliança no Estado com os petistas – desde que Pezão seja o cabeça de chapa. Uma outra leitura possível do movimento é mais simples: a desistência de Pezão pode custar bem mais caro ao PT do que supõe o governo federal.
“Cabral colocou seu nome à disposição para o Senado. Mas ele tem dito internamente que a prioridade é a eleição para o governo e a manutenção da parceria nacional e estadual entre PT e PMDB. Portanto, ele abre a possibilidade (de não se candidatar ao Senado), por mais que tenha um esforço de seus companheiros. Não abrimos mão da candidatura do Pezão”, disse Picciani.
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A declaração foi feita após reunião de caciques do PMDB, entre eles o vice-presidente da República, Michel Temer. Participaram do encontro o presidente nacional do PMDB, Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o prefeito Eduardo Paes, Cabral, Pezão e Picciani. Foi a primeira reação pública ao último lance do PT, de oferecer que Cabral seja o candidato ao Senado da chapa PT-PMDB – em favor de uma candidatura ao governo liderada por Lindberg. O presidente do diretório fluminense do PT, Washington Quaquá, chegou a afirmar que a “chapa dos sonhos” teria o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), como candidato a vice-governador, Cabral para senador e Lindbergh para governador. Apesar disso, Crivella ainda se posiciona como candidato ao Palácio Guanabara.
Picciani, por sua vez, diz que o partido negocia o apoio de 12 a 15 partidos para a campanha de Pezão ao Palácio Guanabara. Enquanto peemedebistas tentam tirar o fôlego de uma candidatura petista ao governo do Rio, o PT mantém a disposição de entregar os cargos no governo estadual para dar uma aparente independência, após sete anos de parceria, a uma candidatura de Lindbergh. A saída já foi adiada duas vezes e marcada para março, a pedido do PMDB nacional. Quaquá vai se reunir nesta quarta-feira com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, para tratar do assunto.
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A aliança de 2010
Em 2010, PT e PMDB selaram uma aliança no Rio de Janeiro para eleger Dilma Rousseff e reeleger Sérgio Cabral. Os partidos caminharam lado a lado e celebraram o clima festivo como um legado de Lula. A parceria estava tão consolidada que, naquele ano, Lindbergh chegou a dizer em um discurso que Luiz Fernando Pezão seria o próximo governador do Rio, como ficou registrado em um vídeo no YouTube.
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Lindbergh põe o pé na estrada
Lindbergh começou 2013 com o pé no acelerador. Acertou com João Santana, o marqueteiro de Dilma e Lula, para fazer seus programas de TV e assumiu a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O ex-líder dos ‘cara pintada’ pretendia desfazer de vez a imagem de comunista e apresentar-se mais maduro para o empresariado e uma parte do eleitorado que ainda o considera inexperiente. Lindbergh também iniciou o planejamento de caravanas para percorrer o Estado – chegou a tomar banho na casa de moradores e participar de aniversários de futuros eleitores. O modelo de candidatura está claro em uma das inserções de TV produzidas no ano passado.
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A pré-campanha de Pezão
Luiz Fernando Pezão transformou as inaugurações, como vice-governador e secretário de Obras do Estado, em fase inicial de sua pré-campanha. O candidato natural do PMDB investiu em sua imagem, com dieta para redução de peso e contratação de um serviço para acabar com a timidez diante dos microfones. O jeito menos extrovertido – oposto ao de Cabral – já foi alvo de brincadeiras entre aliados. Em uma reunião recente do PSL, no Clube Municipal, na Tijuca, o tema foi abordado pelo deputado estadual Átila Nunes: “Quem disse que precisa de carisma para ganhar? Tem que ser trabalhador”. A frase, dirigida a minimizar um dos problemas do vice-governador, o incomodou. “Ganhei duas eleições no primeiro turno em Piraí. Se isso não é ter carisma…”, retrucou Pezão. A falta de traquejo fez com que, em vários momentos do ano, houvesse a especulação de que Eduardo Paes seria o candidato do PMDB à sucessão de Cabral. Sem pressa para alçar voos mais altos, Paes rejeita a ideia e afirma que quer ser o prefeito do Rio durante as Olimpíadas de 2016. Simples assim.
A cúpula do PMDB adotou mais diplomático nesta segunda-feira, mas Picciani já declarou antes que o partido não ajudaria na campanha de Dilma Rousseff à presidência caso seja mantida a candidatura de Lindbergh.
Enquanto se digladia com o PT no Rio, o PMDB negocia com a presidente Dilma mais pastas na reforma ministerial prevista para o começo do ano. Temer iria se encontrar com Dilma nesta segunda-feira para tratar do assunto. Houve especulação inclusive de que Cabral ou Pezão receberiam, como prêmio de consolação, um ministério para se aliar a Lindbergh no Rio. Raupp e Picciani evitaram comentar as negociações com a presidente.
Pouco depois do lance em que Cabral foi rifado publicamente pelo PMDB, Raupp disse que o partido pretende lançar entre 18 e 20 candidaturas a governos estaduais em 2014. Reconheceu que, assim como no Rio, o partido tenta evitar uma disputa regional com o PT em alguns Estados.
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