PF encontra dois celulares em vistoria na cela de Daniel Silveira no Rio
Inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias de como os aparelhos foram parar com o deputado federal preso, que foi transferido para prisão da PM
A Polícia Federal informou que encontrou dois aparelhos celulares no alojamento onde estava preso o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), em vistoria feita na tarde desta quinta-feira, 18, dentro da Superintendência da força policial no Centro do Rio de Janeiro. Ele foi preso por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) na última terça, após desferir ataques a ministros da Corte e defender o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que recrudesceu a Ditadura Militar (1964-1987) no país.
Desde então, o deputado estava detido em um cômodo destinado aos policiais federais, local em que os aparelhos foram encontrados hoje. “Foi determinada a instauração de inquérito policial para apurar as circunstâncias dos fatos”, informou a PF, em uma breve nota.
Por determinação judicial, o parlamentar foi transferido e deu entrada na Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, região metropolitana do Rio, no início da noite desta quinta-feira. Embora tenha tido uma passagem relâmpago na PM como soldado, ele está afastado das funções desde 4 de outubro de 2018 e não recebe mais salário da corporação.
Eleito há dois anos com 31 789 votos, Silveira queria conquistar mais visibilidade desferindo ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) nas redes sociais e, assim, agradar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ilustre desconhecido até o pleito de 2018, ele ganhou repercussão após quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL).
Trajetória conturbada
Com uma passagem turbulenta de menos de seis anos pelos quadros da Polícia Militar fluminense, Daniel Lúcio da Silveira, de 38 anos, foi excluído dos quadros da corporação em 4 de outubro de 2018 – mesma data em que sua imagem viralizou nas redes sociais quebrando a placa de Marielle junto ao amigo pessoal e deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) e ao governador afastado Wilson Witzel (PSC). Sempre foi soldado, sem jamais ter escalado na hierarquia da PM. Com menos de dez anos de serviço militar, deixou a corporação para se candidatar. “A passagem dele foi breve. Ele não recebe mais salário, não faz mais parte da PM”, disse a VEJA o major Ivan Blaz, porta-voz da corporação.
Meses antes, em boletim interno, a PM classificara como “mau comportamento” as atitudes do então soldado Lúcio, como ficou conhecido entre os policiais. A corporação se preocupava com a virulência com que ele atacava jornalistas em vídeos divulgados no Facebook, quando aparecia trajando farda dentro da viatura policial. Diz o boletim da PM: “(Daniel Silveira) erodia preceitos éticos em vigor na Polícia Militar e repercutia negativamente a imagem da corporação”.
Ainda de acordo com o documento, em sua rápida carreira na PM, entre 2013 e 2017, ele chegou a ficar preso por 80 dias, receber 14 repreensões e acumular mais duas advertências – 96 sanções no total. Essas transgressões tornaram “cristalina sua inadequação ao serviço policial militar, mesmo tendo recebido inúmeras oportunidades, confirmando ineficiência do caráter educativo”, segundo o mesmo boletim da PM.
Em 2007, antes de entrar na PM, Silveira registrou sua primeira passagem pela polícia, sob acusação de apresentar atestados médicos falsos quando trabalhava como cobrador de ônibus. O Ministério Público estadual o denunciou ao lado de outros seis colegas de empresa em 2014, mas o caso prescreveu em 2016, sem que nenhum dos envolvidos tenha sido punido.
As passagens policiais – houve outra, dessa vez por uma briga de rua – quase o impediram de ingressar na PM. O setor de pesquisa social, que vasculha a vida pregressa dos aspirantes, recomendou que ele fosse vetado. O ano era 2010, e Silveira recorreu na Justiça. Ganhou e assim conseguiu fazer parte dos quadros da PM em 2013. No mesmo ano, foram registradas as primeiras infrações com a farda.
Como deputado, Silveira invadiu o colégio Pedro II em outubro de 2019, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio, sem a permissão do reitor da escola federal. Objetivo declarado: “vistoriar” a unidade. De novo, ele estava acompanhado de Rodrigo Amorim. A Polícia Federal chegou a ser chamada, mas eles não foram presos.