Paulo Preto diz que não arrecadou para campanhas
Ex-diretor da Dersa, ligado ao PSDB, fala à CPI do Cachoeira, nega atuação eleitoral e dá recado: "Os incompetentes devem continuar com medo de mim"
Em depoimento à CPI do Cachoeira, o ex-diretor da estatal de transportes de São Paulo, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, se disse injustiçado e negou ter angariado recursos para eleições. “Nunca atuei na área financeira de qualquer campanha política”, disse ele, que depõe há mais de cinco horas.
O ex-diretor da Dersa reclamou de “calúnias” sobre acusações de ter, em 2010, desviado 4 milhões para campanha do PSDB à Presidência: “É muito difícil resistir a uma saraivada de denúncias e calúnias”. E completou: “Eu não saio desta Casa antes de entregar todos os documentos comprobatórios do que eu falar. Eu pedi a Deus para ser convocado para esta CPI, porque acho que os incompetentes devem continuar com medo de mim. Essa frase é para todos que foram ingratos.”
Souza demonstrou ressentimento com a forma como deixou o governo , em 2010. “Eu fui demitido oito dias após entregar as três maiores obras do país”, disse. O engenheiro foi exonerado no governo de Alberto Goldman (PSDB), em 2010. Segundo Souza, Goldman o achava vaidoso e arrogante. Questionado sobre sua relação com o ex-governador José Serra, Paulo Souza foi evasivo e reafirmou que seu padrinho no governo federal e no governo paulista era o senador Aloysio Nunes, de quem se disse amigo.
Durante dez minutos, o depoente descreveu seu currículo profissional, destacando sua atuação no governo federal, sobretudo na Casa Civil, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Enumerou suas obras na chefia da Dersa, no estado de São Paulo, e destacou sua atuação em intervenções durante as gestões dos governadores José Serra e Geraldo Alckmin. “Mesmo assim, creio ser um desconhecido da classe política.” Ele também queixou-se do apelido Paulo Preto, classificado por ele como “pejorativo”. Tentou fazer colar novas alcunhas, como “iron man”, “Batman” e “homem-bomba”. Questionado por parlamentares, chegou até a mencionar a presidente Dilma Rousseff, em referência a um debate eleitoral na campanha de 2010. Na ocasião, a então candidata reforçou acusações de que ele teria sumido com 4 milhões da campanha tucana. Disse sentir-se constrangido por ter contra a presidente uma representação. “Espero imensamente que a presidente um dia reconsidere essa postura”, disse. “Tenho que a presidente fez essa acusação baseada em uma informação infundada.” Delta – Convocado oficialmente para esclarecer o elo da construtora Delta com obras supostamente superfaturadas do governo de São Paulo, Paulo Souza se limitou a dizer que conheceu Fernando Cavendish, mas nunca participou de reuniões em que o ex-diretor da Delta solicitou contratos com a Dersa. “Eu não conheço a Delta profundamente, nem nenhuma empreiteira”, disse. Souza rebateu afirmação de Luiz Antonio Pagot de que, em reunião com o chefe do Dnit, pressionou pelo aditamento de contratos das obras do Rodoanel. “Eu nunca vim falar com o doutor Pagot com menos de quatro pessoas”, disse. Questionado se aceitaria acareação com o ex-diretor do Dnit, afirmou que aceitaria “acareação com qualquer pessoa do planeta Terra”. Sobre Cavendish, o ex-chefe da Dersa disse ainda que encontrou-se duas vezes com ele: “Uma em 2008 e outra na inauguração da Marginal”. Ataque – Depois de o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot, confirmar à CPI do Cachoeira que usou o cargo para arrecadar recursos para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência, o PT se esforça para recolocar o PSDB como alvo da Comissão Parlamentar de Inquérito. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), abriu a sessão desta quarta-feira afirmando que o PSDB “está sangrando” com as investigações sobre o esquema de Cachoeira, que estendeu seus tentáculos sobre o governo tucano em Goiás. O deputado Mendes Thame (PSDB-SP), líder da minoria na Câmara, reagiu: “Nunca ouvi uma declaração política tão sórdida, tão deletéria quanto esta do líder do PT”. O também deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) ressaltou o caráter autoritário da perseguição petista à oposição: “Não somos nem oposição. Somos resistência, para que o Brasil ainda possa dizer: respiramos democracia”. Sávio lembrou ainda que o PT é quem está na mira da Justiça, com o julgamento no Supremo Tribunal Federal, do escândalo do mensalão.