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Para ganhar cargo, Vieira alegava que Anac era ‘muito’ tucana

Rubens Vieira dizia a Rosemary de Noronha que Anac precisava de mais petistas - sendo que ele mesmo não era então filiado ao partido

Por Ana Clara Costa
30 nov 2012, 06h26

O contato do ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira com Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose, ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, ganhou mais força no início de 2009. Até então, a ‘protegida’ de Lula tinha um contato mais constante com o irmão de Rubens, Paulo – tido como chefe da quadrilha de venda de pareceres de órgãos públicos, e que também está preso. Rubens estreitou laços com Rose para que ela o ajudasse a conseguir o cargo de diretor da Anac. Para isso, passou quase um ano prestando-lhe favores, como o custeio e a reforma do restaurante que ela estava abrindo, o Yatai, em São Paulo, e o divórcio de seu atual marido, João Vasconcelos. Em sua estratégia para pressionar a ex-chefe de gabinete, Rubens argumentava que na Anac havia “muitos” tucanos. Assim, ele, que se dizia petista, seria uma escolha melhor para alinhar o andamento da agência aos interesses do governo.

Rubens Vieira era corregedor da agência desde 2006, mas estava cobiçando a vaga de Ronaldo Seroa – diretor indicado pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim, e que, na época, estava prestes a deixar o posto. Segundo trechos do inquérito da Operação Porto Seguro, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira, ao qual VEJA teve acesso, Vieira encaminhou e-mail a Rose em janeiro de 2009, sete meses antes da saída de Seroa, descrevendo a si mesmo como o candidato ideal para a vaga de diretor. Rose pediu seu currículo e alguns artigos publicados e ordenou que ele fosse a um evento onde o PR (sigla usada para se referir a Lula, o então presidente da República) estaria. “Vou te (sic) colocar na lista VIP, aí você vai cumprimentá-lo, para que ele se lembre de você”, escreveu ela.

Em fevereiro, Rubens escreveu a Paulo dizendo que a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff havia afirmado ao ministro Jobim sua intenção de indicar alguém para o lugar de Seroa. “Tudo indica que é desdobramento da nossa questão”, respondeu Paulo, lançando a hipótese de que a vontade de Dilma era resultado do pedido feito a Rose. No e-mail, Paulo indicou vários cenários que ilustrariam a atitude da atual presidente. E, pensando mais além, disse que precisavam preparar a defesa de Rubens para a hipótese de ele ser associado ao infeliz parecer que deu ao diretor Josef Barat, permitindo que viajasse às custas da TAM para os Estados Unidos. “Precisamos estudar uma defesa, associar você ao PT (…), pois você nem filiado é”, escreveu.

Nos meses seguintes, a cada novidade sobre uma possível vaga na diretoria da Anac, Rubens escrevia ao irmão e a Rose – muitas vezes anexando reportagens que saíam na imprensa sobre assuntos envolvendo os diretores. Sempre que podia, Rubens os apelidava de “tucanos”. Em abril, sem nenhuma resposta afirmativa de Rose sobre a indicação, escreveu a Paulo dizendo que a ex-diretora da Anac Solange Vieira e o então diretor – e atual presidente – Marcelo Guaranys iriam para Chile e Austrália para visitar aeroportos. Depois, esticariam algumas semanas de férias na Oceania, com suas respectivas famílias.

“Quem segura a Anac nesse período, acredite, é o Waldin Rosa de Lima, um tucano. Ele foi o consultor financeiro da campanha do Geraldo Alckmin, atuando dentro da Nossa Caixa, onde tinha cargo de diretor”, escreveu. Em resposta, Paulo disse: “Mande isso para a Rose no e-mail do Hotmail”.

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Vestir a carapuça de petista para conquistar a confiança de Rose foi uma estratégia temporária. Depois de ser nomeado diretor da Anac, as atitudes de Rubens na agência tinham muito pouca, ou nenhuma, influência petista – a não ser o caráter de ‘toma lá dá cá’ de suas interlocuções com Rose. Quando se tratava de convicções econômicas, Rubens mostrava-se tão liberal quanto os que ele criticava. “Ele era até muito liberal e não apreciava o intervencionismo”, conta uma fonte ligada ao diretor que não quis ter seu nome citado. “Não havia qualquer vestígio da ideologia petista nele, a não ser a própria indicação do governo”, diz a fonte que trabalhou com Rubens na agência.

Sem legado – Apesar dos amplos esforços para chegar à diretoria, Vieira não deixou legado que mereça lembranças. Não colecionou amigos, nem pilotou grandes projetos. “Ele só participou da sessão do leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, por mera burocracia e como executor. Nada naquele projeto de privatização teve as mãos dele”, afirma um técnico que participou do projeto.

Em um movimento inteligente, Vieira manteve grande parte dos técnicos da diretoria de Infraestrutura da Anac oriundos da gestão anterior (do diretor Alexandre Barros) justamente por desconhecer a complexidade do ofício. Além disso, Vieira não podia fazer contratações para cargos técnicos sem que houvesse a assinatura do diretor-presidente da agência. “Não é que ele seja ignorante. Ele, em alguns momentos, se esforçava para contribuir da melhor forma. Mas estava longe de ter o preparo necessário para assumir aquele cargo. Não tinha mérito técnico”, lembra um alto funcionário da Anac.

No gabinete, o diretor tinha função de revisor: ou seja, levava para a votação da diretoria colegiada os pareceres sobre o que estava sendo executado em sua área. Por vezes, quando conversava com técnicos sobre trabalho, se mostrava aéreo e desinteressado – como se não tivesse tempo (e vontade) de ouvir sobre o que se passava na agência. Dava a impressão, segundo pessoas próximas, de estar voltado para outros temas. E, não raramente, passava horas a fio em conversas no bate-papo MSN quando entravam em sua sala para conversar sobre assuntos técnicos.

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