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Para economistas e oposição, BC perdeu a independência

Mercado financeiro e parlamentares da oposição avaliam que decisão de cortar juros em 0,5 ponto porcentual foi tomada após pressão do Planalto

Por Benedito Sverberi e Ana Clara Costa
1 set 2011, 08h34

A decisão do Banco Central (BC) de cortar em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros do país (Selic) foi recebida de forma bastante negativa entre economistas. A decisão não só surpreendeu o mercado, como também sucitou dúvidas sobre a independência da autoridade monetária em relação ao Planalto. Analistas esperavam ou a manutenção da taxa de juros em 12,5% ou, no máximo, um aumento de 0,25 ponto percentual – o que já era visto como um movimento ousado do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, tendo em vista a atual dificuldade do órgão em controlar a inflação.

Diante disso, insinuações de falta de independência do órgão diante de tal decisão se multiplicam. “Há um risco elevado de interferência política e um forte viés deste BC para querer cortar juros em detrimento das condições do cenário econômico. O mercado avaliava friamente que haveria, no máximo, espaço para uma queda dos juros em outubro, se persistisse o quadro de deterioração da economia internacional. Esta queda agora é fora de propósito”, afirma o economista Guilherme Maia, da gestora M. Safra.

Para os analistas, apesar dos sinais claros de desaceleração da atividade econômica – o último dado da produção industrial apontou queda de 0,3% em relação a 2010 -, não há ainda razões que permitam uma queda dos juros, tendo em vista que a inflação segue preocupante. “A confiança do consumidor e do empresário estão em níveis historicamente elevados; o crédito voltou a crescer; o mercado de trabalho permanece muito aquecido; e a renda continua em uma trajetória de alta muito forte. Baixar juros agora é dar combustível para a inflação”, afirma Juan Jensen, economista da Tendências Consultoria.

Outro fator preocupante leva em consideração a perda de credibilidade do BC diante de seu papel de controlar as expectativas do mercado. A participação do governo na decisão de reduzir os juros ficou clara, segundo analistas, não só pelo componente surpresa, como também pelo fato de o ministro Guido Mantega haver anunciado, dois dias antes, um aumento do ajuste fiscal com o objetivo de liberar espaço para o BC reduzir os juros. “Um indício de que há algo de errado com esse BC é a frequência com que passa de uma estratégia a outra. Deve ser a quinta vez que o BC muda de estratégia e estamos apenas na sexta reunião do ano”, afirma Jensen.

Inicialmente, o órgão começou a aumentar juros de forma tímida, apostando, primeiro, nas medidas macroprudenciais como forma de controlar o câmbio e a inflação. Ao perceber sua ineficácia, o BC iniciou uma trajetória de aumento gradual dos juros, que passaram de 11,25% a 12,5% entre janeiro e julho deste ano. Agora, tal estratégia parece ter sido desmontada, fazendo com que a percepção do mercado em relação ao BC seja afetada. As críticas à queda de 0,5 ponto percentual nos juros são unânimes nas análises recebidas e conversas tidas com economistas pelo site de VEJA.

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Cenário político – No Congresso, a queda dos juros também gerou consternação, mas para a oposição. Enquanto os petistas comemoram o que classificam como a obtenção do comando do BC pela presidente Dilma Rousseff, tucanos e democratas temem pela perda de independência da autoridade monetária.

A presidente Dilma comemorou o corte na taxa básica de juros e negou que tenha feito pressão sobre o órgão. A oposição apoiou a redução da Selic, mas, pela forma como a decisão foi tomada, sob pressão do Planalto e do Ministério da Fazenda, avalia que o BC perdeu independência.

O senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM e líder do partido no Senado, disse que a decisão foi tomada pelo BC depois de Dilma ter anunciado, “de forma responsável”, que pouparia mais receita para abater na dívida. Para Agripino, o governo foi responsável ao mostrar que “não gastaria de forma perdulária os 10 bilhões de reais arrecadados com aumento da receita e ao dizer que esse dinheiro era para fazer superávit e pagar os juros da dívida”.

Dilma comemora – A presidente Dilma comemorou a redução dos juros. Em conversas reservadas, disse que tinha certeza do acerto na decisão de aumentar a meta fiscal do governo, anunciando uma economia extra de mais 10 bilhões de reais neste ano. Na avaliação do Planalto, após cinco aumentos seguidos dos juros, o BC deu sinais de que iniciará um novo ciclo de queda. O governo, porém, nega que tenha exercido pressão sob a instituição.

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Corte – Na noite de quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu reduzir a taxa de juros para 12% ao ano pelos próximos 45 dias, dando início um ciclo de baixa. A decisão – que surpreende o mercado, o qual se encontrava dividido entre a aposta de manutenção e de redução de 0,25 p.p. – não tem viés e contou com a maior parte dos votos dos diretores do BC: cinco em seu favor e apenas dois pela permanência da Selic em 12,5% ao ano.

Em comunicado, o BC argumenta que, ao reavaliar o cenário internacional, percebeu uma deterioração substancial, com destaque para as fortes reduções nas projeções de crescimento para as economias desenvolvidas. Os diretores do órgão avaliaram, então, que haverá condições para o recuo da inflação no cenário internacional, haja vista que os países enfrentam um ambiente de restrição fiscal e porque “parece limitado o espaço para utilização de política monetária”.

(com Agência Estado)

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