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Para cientista, o país está sob o domínio da política do ‘eu quero o meu’

Para o professor Alberto Aggio, da Universidade Estadual de São Paulo, o governo e o PT são parte desse sistema

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 12h51 - Publicado em 27 abr 2024, 13h31

Diante de um orçamento apertado, o Congresso está em vias de aprovar a PEC do Quinquênio, que vai engrossar aumentar as despesas em estimados 42 bilhões de reais em vantagens que serão pagas a juízes e outras categorias do serviço público. Reportagem de VEJA desta semana mostra este descompasso com o mundo real. No município baiano de Dias D’Ávila, por exemplo, os professores foram “agraciados” com um reajuste salarial de inacreditáveis 46 centavos.  Para o cientista político Alberto Aggio, da Universidade Estadual Paulista, os setores mais organizados têm prevalecido cada vez mais na definição do Orçamento, inclusive porque atores políticos importantes do passado perderam força. Para ele, o próprio PT não tem mais a capacidade de articular com segmentos da sociedade para tentar democratizar o Orçamento. Essa é a realidade. E o governo Lula é parte dela.

O Senado pode aprovar uma lei que vai destinar 42 bilhões a juízes e outras categorias. Enquanto isso, na Bahia, os professores recebem aumento de 46 centavos. Qual a razão dessa disparidade? Os setores mais organizados, com peso estrutural no estado brasileiro, como o Judiciário, acabam mostrando sua força nessa dinâmica da montagem orçamentária. Mesmo um partido como o PT e lideranças como o Lula não conseguem mais cimentar acordos como faziam antes. Quem fez a carreira política valorizando associativismo, o mundo dos interesses, como o Lula e o PT, não conseguem mais controlar isso, a não ser fazendo alianças.

O governo e o PT, então, são reféns desse sistema? Lula e o PT são obrigados a fazer alianças com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e com todos os interesses que ele representa. Caso não faça essas alianças, Lula pode seguir um caminho igual ao da então presidente Dilma Rousseff, que se isolou e sofreu impeachment. Mas não reféns. As coisas não estão difíceis para o presidente Lula porque o mundo é mau, mas porque Lula participou da construção desse mundo, do qual ele faz parte. Um sociólogo do Rio de Janeiro disse que o Lula ‘está sendo acossado pela Faria Lima’. Não, o Lula não está sendo acossado pela Faria Lima, pelo Judiciário, pelo Arthur Lira. Ele é parte desse mundo.

O senhor vê alguma perspectiva de mudança nesse cenário? O Brasil está desafiado a enfrentar um momento de reestruturação da dinâmica da sociedade com o Estado. O PT perdeu o controle disso, não mostra mais para a sociedade capacidade para fazer isso. O partido não tem novas lideranças. Aliás, as lideranças que tentam emergir vivem sob a batuta do presidente. Veja o que o Lula fez com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foi cobrado em público. O PT envelheceu, é um partido de cabeças brancas.

Qual é a consequência disso na prática? A partir do momento em que há uma incapacidade de administração do grande ator democratizador, que é o presidente, o que fica é a marca do PT, na qual o interesse do partido é o que prevalece. Na democracia lulista, o meu interesse vale tudo. Se o meu interesse vale tudo, é legítimo o que fazem os homens do Judiciário, por exemplo. É a política do ‘eu quero o meu’. O governo Lula é uma barafunda, e só não está pior porque as circunstâncias econômicas melhoraram — em termos. O emprego aumentou, mas todo mundo sabe que isso não pode ser considerado nem um voo de galinha.

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