A campanha da candidata do governo à Presidência, Dilma Rousseff, já tem uma estratégia para tentar contornar a polêmica em torno de suas posições em relação à legalização do aborto: a petista vai adotar um discurso de valorização da vida. Esse será o mote do primeiro programa de TV da candidata na volta do horário eleitoral, na sexta-feira.
A ideia dos marqueteiros de Dilma é que o programa de TV funcione como um antídoto contra as críticas de setores contrários ao aborto, segundo a edição desta quarta-feira do jornal O Estado de S. Paulo. A estratégia começou a ficar clara já na terça-feira, em entrevistas concedidas por Dilma após uma reunião com os governadores e senadores eleitos da base aliada.
“Eu sou e sempre fui a favor da vida. Se não fosse assim, não tinha colocado a minha vida em risco em determinado momento”, afirmou a candidata, que no passado defendeu publicamente uma mudança na lei de forma a legalizar o aborto. No decorrer da campanha, no entanto, a petista não apresentou essa mesma posição.
Também na terça, um dos coordenadores da campanha de Dilma surpreendeu ao dizer que a polêmica em torno da questão é falsa – o que não faz sentido, já que o próprio PT afirma que o debate sobre o tema teve impacto na eleição. “Nós não vamos ficar reféns de uma falsa polêmica, levantada de maneira pouco ética por nossos adversários e disseminada de forma insidiosa”, afirmou ele.
Cardoso foi um dos parlamentares que, em 2008, defendeu na Câmara dos Deputados um projeto que descriminaliza o aborto no país. O projeto foi rejeitado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa por 57 votos a 4. Os votos a favor da legalização do aborto partiram de José Genoino (PT-SP), Eduardo Valverde (PT-RO), José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) e Régis de Oliveira (PSC-SP).
Mudança de posição – Até mesmo os aliados de Dilma listam entre as razões pelas quais a petista não venceu a eleição no primeiro turno o debate sobre o aborto. O assunto ganhou força quando começaram a circular pela internet vídeos e entrevistas em que Dilma defende abertamente o aborto – posição que ela mudou pouco antes de se tornar candidata. “Acho que tem de haver descriminalização do aborto”, disse em 2007, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. “No Brasil, é um absurdo que não haja.”
Em 2009, Dilma voltou a falar sobre o tema, à revista Marie Claire: “Abortar não é fácil para mulher alguma. Duvido que alguém se sinta confortável em fazer um aborto. Agora, isso não pode ser justificativa para que não haja a legalização”. Em uma Carta Aberta ao Povo de Deus, divulgada no primeiro turno, Dilma diz que cabe ao Congresso Nacional discutir “aborto, formação familiar, uniões estáveis e outros temas relevantes”, sem detalhar a posição pessoal em relação aos assuntos.