Os investigados que devem testar o “efeito CPI” nas urnas em 2022
Pelo menos cinco alvos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia pretendem disputar as eleições em outubro
Um ano depois de ter sido instalada no Senado, a CPI da Pandemia se mostrou uma vitrine eleitoral para uma série de personagens que passaram por ela no período em que esteve em funcionamento, seja na condição de investigador ou de investigado. Estimulados pela superexposição, os dois lados agora pretendem testar o resultado disso nas urnas. Além dos parlamentares que integraram a CPI, pelo menos cinco investigados pretendem tentar se eleger a algum cargo na disputa marcada para outubro deste ano.
Dos que foram indiciados pela CPI – um total de 77 –, Nise Yamaguchi, Mayra Pinheiro, Eduardo Pazuello, Walter Braga Netto e Otávio Fakhoury avaliam explorar os efeitos eleitorais da comissão em possíveis candidaturas nas eleições de 2022.
Médica infectologista, Nise Yamaguchi foi um dos principais alvos dos senadores da oposição durante a CPI, encerrada em outubro do ano passado. Defensora do uso de cloroquina para tratar os doentes, Yamaguchi foi investigada por supostamente integrar o chamado “gabinete paralelo”, um grupo que dava assessoramento extraoficial a Bolsonaro na pandemia.
“O fato de meu depoimento ter sido transmitido ao vivo fez com que a população pudesse julgar melhor a integridade das pessoas que participaram tanto no papel de arguidores, como de depoentes como eu”, afirmou a infectologista, que se filiou ao PROS e deve concorrer ao Senado por São Paulo.
Assim como Yamaguchi, a pediatra Mayra Pinheiro também foi catapultada para fora do anonimato pela forma truculenta como os senadores a interrogaram na CPI. A ex-secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde ficou conhecida como “capitã cloroquina”. Aos parlamentares, ela admitiu ter recomendado o uso desse remédio ineficaz para tratar pacientes com Covid-19. Por isso acabou sendo indiciada no relatório final, por crimes contra a humanidade, crime de epidemia e prevaricação. Pinheiro filiou-se ao PL e pretende disputar uma vaga a deputada federal pelo Ceará.
Dois dos maiores alvos da comissão também decidiram testar o “efeito CPI” nas urnas. Suspeito por ser um dos responsáveis pela demora do governo em comprar vacinas, o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, é pré-candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro pelo PL, o mesmo partido de Bolsonaro.
Embora nem tenha sido ouvido pelos senadores da comissão, o ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, alvo de várias acusações no relatório, também pode tirar proveito com a projeção que seu nome recebeu naquele período. Seu nome é cotado para ser vice do presidente Bolsonaro na disputa à reeleição, ambos pelo mesmo partido, o PL. O general foi indiciado no relatório pelo crime de endemia com resultado de morte.
Empresário indiciado pela CPI por financiar a disseminação de notícias falsas durante a pandemia, Otávio Fakhoury também deve se favorecer com o surgimento de seu nome ao longo das investigações. Segundo apurou VEJA, ele estuda ser candidato ao Senado pelo Amapá. Oficialmente, porém, Fakhoury, que é filiado ao PTB, de Roberto Jefferson, nega qualquer pretensão eleitoral até o momento.