O novo julgamento de um dos réus do 8 de Janeiro
Defesa de empresário acusado de atos golpistas apontas erros em denúncia e demonstra que seu cliente não esteve em acampamento no dia 8 de janeiro
O empresário gaúcho Eduardo Zeferino Englert, 42 anos, tornou-se o primeiro réu do 8 de Janeiro a derrubar uma decisão do ministro Alexandre de Moraes. Na terça-feira passada, o magistrado anulou a votação do plenário virtual do Supremo Tribunal Federal, na qual ele já havia proferido voto para condenar o acusado a 17 anos de prisão por crimes como golpe, abolição violenta do estado democrático de direito e dano contra o patrimônio da União.
Durante o julgamento, Moraes afirmou que Englert chegou a Brasília no dia 7 de janeiro e ficou no acampamento bolsonarista na frente do Quartel-General do Exército até o dia seguinte. A defesa do réu apontou erros na denúncia do Ministério Público. Um novo julgamento foi marcado para o próximo dia 17.
O advogado Marcos Vinícius Rodrigues de Azevedo demonstrou que seu cliente jamais esteve no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília e que só teria chegado ao Palácio do Planalto para a manifestação no final da tarde de domingo, por volta de 17 horas, quando as instalações já estavam todas depredadas.
Um laudo da Polícia Federal feito com base em georreferenciamento de celular, anexado pela defesa ao processo, confirmou que o empresário jamais passou pelo acampamento no QG do Exército. Englert afirma que ele estava almoçando num local bem distante da Esplanada no momento em que houve a invasão e depredação dos prédios.
“A comida era um carreteiro à moda gaúcha”, disse Englert em depoimento ao juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes. Depois do almoço, ele afirma que abriu um site de busca na internet para ir à Esplanada, onde chegou às 17 horas.
O laudo da Polícia Federal confirma que ele saiu de ônibus de Santa Maria (RS) no dia 6. Na madrugada do dia 8, o ônibus ainda estava em Marília (SP). Englert só chegou ao terminal rodoviário de Brasília às 14h15 do dia 8, quando a manifestação já havia começado.
Após circular pela Praça dos Três Poderes, Englert se aproximou do Palácio do Planalto. De início, conta, pensou que as bombas de gás eram fogos de artifício. Quando chegou em frente à sede do Executivo, disse que um helicóptero fez um voo rasante e despejou mais bombas. Foi neste instante que ele afirma ter entrado na sede do governo, assustado, para buscar abrigo. “A rampa do Palácio do Planalto estava liberada”, diz o empresário.
Minutos depois, policiais militares entraram no Planalto e prenderam todos os manifestantes. Englert foi algemado e levado para o presídio, ficou preso por sete meses, foi liberado e continua sob monitoramento. O laudo da Polícia Federal também diz que no celular do empresário não foram encontradas fotos ou vídeos feitos no dia 8 de janeiro com “cenas de destruição”.