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O maior desastre ambiental do RS impõe duro teste a Eduardo Leite

O saldo final da gestão da crise poderá ser decisivo para o futuro de sua carreira

Por Adriana Ferraz Atualizado em 10 Maio 2024, 11h21 - Publicado em 10 Maio 2024, 06h00

A rotina é de guerra. Desde o dia 29, quando as chuvas se avolumaram e a destruição começou a se espalhar pelo Rio Grande do Sul, o dia a dia do governador Eduardo Leite (PSDB) e de seus principais auxiliares virou de cabeça para baixo. A nova agenda inclui ligações de prefeitos com pedidos de socorro na madrugada, monitoramento em tempo real dos eventos meteorológicos, reuniões de emergência para restabelecer serviços básicos e acompanhamento do atendimento aos atingidos pelos temporais. Tudo ao mesmo tempo e sem uma estrutura adequada, já que tanto o centro administrativo do governo quanto o centro logístico da Defesa Civil estão alagados. Com os deslocamentos praticamente impedidos em razão dos bloqueios de estradas ou das dificuldades de pousar um helicóptero, o Palácio Piratini, sede do governo, virou uma espécie de QG da tragédia. “Às vezes, a rede não funciona nem no meu gabinete e temos de trabalhar todos da área residencial do palácio, que atualmente é a minha casa”, contou a VEJA Leite, que diz dormir agora quatro horas por noite. “É adrenalina pura.”

O jovem e promissor político gaúcho enfrenta o maior desafio de sua carreira, em meio a uma enxurrada de emergências. O saldo final de sua gestão na crise pode ser determinante para o futuro de sua carreira. Para quem tinha dúvidas se ele estava à altura de um desafio desse tamanho, o começo do trabalho parecia confirmar as piores expectativas, quando concentrou a comunicação nas redes sociais. Apenas no X (ex-­Twitter) foram mais de cinquenta posts, inclusive um para pedir a ajuda de Lula para a catástrofe que se desenhava. Vários usuários ironizaram a publicação pelo fato de Leite acionar o presidente por esse canal, e ela se somou a outras mensagens polêmicas (veja o quadro). Para os mais críticos (e exagerados), a opção soou como uma tentativa do tucano de gerir a crise pela internet em busca de likes.

Independentemente de o governador ter escolhido um meio heterodoxo para acionar o presidente, o fato é que o tuíte foi respondido pelo petista pouco tempo depois, por meio de uma ligação telefônica que selou a entrada do governo federal em peso na cena. “O Brasil é um país federativo e, em situações como essa, o socorro tem que vir mesmo de Brasília, que comanda as Forças Armadas”, afirma o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV. O alinhamento é desejável também para o período pós-crise, pois caberá à União o financiamento de um projeto de reconstrução da infraestrutura e da economia do estado. O diálogo do governador tucano com o presidente petista, deixando de lado divergências políticas, foi um bom sinal, mas era o mínimo que se poderia esperar de autoridades neste momento. Para Lula, o reconhecimento da população foi quase que imediato. Pesquisa Genial/Quaest feita entre 2 e 6 de maio mostra que no Sul a aprovação a Lula subiu 7 pontos — foi a única região onde a avaliação do petista melhorou. O mesmo instituto apontou que a aprovação de Leite é de 54%.

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No comando do estado que se tornou símbolo dos extremos climáticos no Brasil, ora com seca, ora com chuvas, Leite tem sido cobrado nessa área. Uma das críticas é sobre a flexibilização radical na legislação ambiental promovida por ele em 2019, que teria aberto caminho para o desmatamento de áreas protegidas. Também é lembrado o fato de ele ter reservado apenas 50 000 reais para aparelhamento da Defesa Civil em 2024, mesmo após o estado ter vivido outra catástrofe ambiental em setembro de 2023, quando 55 pessoas morreram. O governo alega que os investimentos totais previstos com prevenção e combate a desastres climáticos chegaram a 117 milhões de reais. “Os governantes precisam trabalhar muito ainda para mitigar as consequências dessa era de catástrofes”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Eleito governador pela primeira vez aos 33 anos, o mais jovem do país à época, o tucano se orgulha de ter avançado com as reformas administrativa e da previdência que fizeram o estado voltar a pagar os salários em dia, de ter colocado de pé um robusto programa de concessões e privatizações e de ter negociado a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, numa tentativa de retomar a capacidade de investimento. Não conseguiu ser candidato à Presidência em 2022, mas permanece com a intenção de disputar o posto daqui a dois anos, como uma alternativa de centro. Antes disso, precisa mostrar serviço no Sul. Infelizmente, mais chuvas virão — e há um estado a ser reconstruído. O maior desafio da carreira dele está longe de acabar.

Publicado em VEJA de 10 de maio de 2024, edição nº 2892

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