Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O general em campanha: Mourão fará o seu primeiro voo-solo eleitoral

Alvo da desconfiança de Bolsonaro desde a posse, o vice vai encarar a disputa ao Senado no Rio Grande do Sul pelo Republicanos

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 mar 2022, 08h00

Habituado a se proteger da Covid-19 com máscaras do Flamengo, seu time de coração, o vice-presidente Hamilton Mourão surgiu na Expointer, tradicional feira do agronegócio em Esteio (RS), usando uma com o emblema do modesto Guarany de Bagé. Circulou entre produtores, premiou uma novilha e mostrou suas habilidades montando um cavalo campeão. Em outro evento recente, na abertura da Festa da Uva de Caxias do Sul, exaltou o “trabalho árduo da gente que habita a Serra Gaúcha”. Nos últimos seis meses, não faltaram ao vice esses e outros compromissos típicos de candidato no estado onde nasceu: foram seis viagens (por dez cidades), cinco entrevistas à mídia local e oito agendas em Brasília recebendo autoridades e políticos gaúchos.

Tanto empenho reflete o seu objetivo neste ano: sem espaço na chapa presidencial, vai encarar a disputa ao Senado no Rio Grande do Sul pelo Republicanos, ao qual se filiará na quarta 16, deixando para trás o PRTB. Após passar três anos tentando se mostrar mais moderado e habilidoso politicamente que Bolsonaro e fazendo frequentes contrapontos às sandices do presidente — o que lhe rendeu até a pecha de traidor —, o general fará o seu primeiro voo-solo eleitoral em um dos estados onde o bolsonarismo é mais forte. Com apenas uma vaga ao Senado em disputa, o maior desafio do general será justamente o de conquistar os votos dos bolsonaristas.

AMEAÇA - Ana Amélia: a ex-senadora deve disputar votos com o vice -
AMEAÇA - Ana Amélia: a ex-senadora deve disputar votos com o vice – (Jefferson Rudy/Agência Senado)

O ponto de partida para aparar as arestas será a definição da aliança que incluirá Mourão. Nos bastidores políticos dos pampas dá-se como bem encaminhado — e inevitável — um arranjo para que ele ocupe a vaga na chapa encabeçada pelo ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro, que se filiará ao PL para disputar o governo. “Temos interesse em reproduzir a aliança nacional nos palanques estaduais. Há boas sinalizações do Republicanos e, com a filiação de Mourão, ele passa a ser uma opção”, diz Rodrigo Lorenzoni, filho de Onyx e secretário de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre. “Estamos livres, leves e soltos para trilhar nosso caminho”, afirma o deputado Carlos Gomes, presidente do Republicanos gaúcho, que deve deixar a aliança formada em torno de Eduardo Leite. O governador tucano, aliás, está prestes a trocar o PSDB pelo PSD de Gilberto Kassab para tentar entrar no páreo presidencial.

Uma das principais concorrentes de Mourão para a vaga do Senado será justamente a política apoiada por Leite: a ex-senadora Ana Amélia, secretária de Relações Federativas e Internacionais. Mas nenhum outro desafio se compara ao de reconquistar a confiança do eleitorado e dos políticos bolsonaristas gaúchos. Nos últimos dias, caiu muito mal nesse grupo um encontro entre Mourão e o embaixador chinês Yang Wanming. O diplomata, que deixava o cargo, protagonizou embates duros entre o governo federal e a China, que, como costuma lembrar com frequência o presidente, é comunista. “Aquilo caiu como querosene”, diz um político próximo a Onyx. Em um lugar tão apegado a suas tradições, há quem torça o nariz até para as “carioquices” de Mourão, como torcer pelo Flamengo em um estado dividido entre Grêmio e Internacional. Por isso, sempre que pode, o vice-presidente exibe suas raízes gaúchas. Ele nasceu em Porto Alegre e, durante a carreira militar, foi comandante da Região Sul, baseada na capital.

Continua após a publicidade
PALANQUE - Onyx Lorenzoni: a prioridade é ter unidade em torno do seu nome -
PALANQUE - Onyx Lorenzoni: a prioridade é ter unidade em torno do seu nome – (@onyxlorenzoni/Twitter)

Apesar das desconfianças, Mourão pontua bem nas pesquisas — em janeiro, apareceu empatado na margem de erro com Manuela d’Ávila (PCdoB), Ana Amélia, José Ivo Sartori (MDB) e Lasier Martins (Podemos), segundo o RealTime Big Data. Nas entrevistas, ele se refere à gestão federal como “nosso governo” (o vice não precisará renunciar para disputar a eleição — mas não poderá mais assumir a Presidência). Agora está em curso uma costura política delicada que tem o objetivo de unificar o bolsonarismo no estado. Para isso, será preciso tirar do páreo a candidatura ao governo do senador Luis Carlos Heinze (PP), também aliado entusiasmado de Bolsonaro. Embora o senador negue, o desfecho visto como mais provável é a sua desistência. Heinze ganharia como consolo o Ministério da Agricultura quando a ministra Tereza Cristina deixar o posto, em abril (veja a reportagem na pág. 28). Assim, o caminho ficaria livre para Onyx Lorenzoni. “Os votos à direita ficariam mais consolidados se houvesse apenas um candidato claramente identificado com o bolsonarismo”, diz o cientista político Augusto Neftali, da PUCRS. A propalada habilidade de estrategista do vice será posta à prova nesse batismo de fogo na guerra eleitoral gaúcha.

Publicado em VEJA de 16 de março de 2022, edição nº 2780

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.