Responsável por enviar para todas as Embaixadas do Brasil no exterior um telegrama em que alerta para a possibilidade de um “golpe” político no país, o servidor do Itamaraty Milton Rondó Filho não esconde suas preferências ideológicas. Nas redes sociais, o diplomata compartilha dezenas de mensagens de apoio à presidente Dilma Rousseff e notícias de blog e sites que servem ao governo e ao Partido dos Trabalhadores – e tem todo direito de fazê-lo. Mas sua indefensável decisão de transpor a barreira das opiniões pessoais para o trabalho – tratando-se de funcionário do Itamaraty – acabou provocando dor de cabeça para o próprio governo. Senadores da oposição já apresentaram requerimento de convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para explicar o envio de mensagens.
A mensagem de Rondó foi enviada pela Secretaria de Estado de Relações Exteriores do Itamaraty (SERE) e solicitava que cada posto diplomático designasse alguém para dialogar com as organizações da sociedade civil locais. Logo em seguida, o texto foi encaminhado ao meio-dia da sexta-feira, dia 18, data das manifestações favoráveis ao governo. Um segundo texto, também feito por Rondó e assinado pela Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que manifestou “profunda preocupação” com a crise política no Brasil e defendeu a luta pela democracia. A mensagem da Abong termina com “Não ao Golpe! Nossa luta continua!”. A ordem foi abortada pelo Itamaraty com um comunicado em que o secretário-geral do MRE, Sérgio Danese, pediu que os telegramas anteriores fossem desconsiderados. Mesmo depois desse aviso, outra circular foi enviada, reproduzindo uma carta aos movimentos sociais da América Latina. “Denunciamos o processo reacionário que está em curso no país contra o Estado Democrático de Direito”, diz o texto, que também foi anulado. (Da redação)