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O candidato presidencial

Witzel diz ter “capacidade intelectual” para chegar lá, faz ressalvas a Bolsonaro e a Moro — demora, mas acaba condenando os oitenta tiros 

Por Monica Weinberg, Fernando Molica e Bruna Motta
Atualizado em 12 abr 2019, 07h00 - Publicado em 12 abr 2019, 07h00

Antes de ocupar o gabinete reservado ao governador do Rio de Janeiro no Palácio Guanabara, o paulista Wilson José Witzel, de 51 anos, mandou buscar no depósito a cadeira de um antecessor longínquo, Marcello Alencar, que nela se sentou entre 1995 e 1998. “Não queria usar a mesma dos presidiários”, diz, referindo-se aos cinco ex-­governadores fluminenses com passagem pela prisão. Novato na política, Witzel deixou a carreira de juiz federal, filiou-se ao PSC e venceu a eleição, para surpresa geral, ao colar sua imagem à do clã Bolsonaro. Na campanha, prometeu endurecer a luta contra a violência e incentivar policiais a atirar “na cabecinha” de suspeitos armados de fuzil. Sobre os soldados do Exército que dispararam oitenta tiros contra um carro que levava uma família, deixando um morto e dois feridos (veja a reportagem na pág. 34), a VEJA o governador lamentou, mas ressaltou que não era com ele: “A ação não foi da PM”. Dias depois, condenou o “erro grosseiro” dos soldados, um ato que qualificou de “abominável”. A seguir, sua entrevista.

O senhor disse que na sua gestão a polícia ia “mirar na cabecinha e… fogo”. É o que está acontecendo? Sim, inclusive com o uso de snipers (atiradores de elite), e é para ser assim mesmo. Bandido com fuzil na mão pode matar qualquer um e, diante de agressão iminente, o policial deve atirar. É ato de legítima defesa, previsto no artigo 25 do Código Penal desde 1940.

O Código Penal também diz para usar “moderadamente os meios necessários”. Sua leitura não contém um grau de subjetividade? Tenho autoridade intelectual para dizer que meu entendimento do Código Penal é o melhor possível. Nenhum tribunal de Justiça registrou qualquer denúncia de abuso até agora.

O que é mais difícil de combater: milícia ou tráfico? O tráfico é mais violento, mas a milícia é mais forte, uma estrutura mafiosa entranhada no poder que age na escuridão. Montei um departamento para investigar a lavagem de dinheiro, o que deve ajudar, mas precisamos de apoio federal. Falo sempre com o ministro Sergio Moro e digo a ele que a Polícia Federal precisa estar mais próxima da Polícia Civil. Nossas fronteiras estão fragmentadas, entram armas e drogas de tudo que é lado.

O senhor é a favor do pacote anticrime de Moro? Apoio o Moro, embora, na minha visão, melhor seria fazer funcionar os mecanismos que já existem: temos leis suficientes para prender quem quer que seja. Agora, olhar para o sistema penitenciário, por exemplo, é fundamental. De que adianta endurecer as penas se não há lugar para colocar os caras?

A intervenção militar no Rio deixou boa herança? Tem um lado bom e um ruim. A polícia está mais aparelhada e as estruturas da segurança, mais organizadas. Mas a presença dos tanques nas ruas foi um equívoco. O carioca gosta, porém isso passa uma péssima imagem da cidade lá fora.

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O senhor esteve recentemente com o presidente Bolsonaro e manifestou sua intenção de ser seu sucessor. Não é cedo demais para quem acabou de estrear na política? Quando contei às pessoas que ia tentar o governo do Rio, muita gente me disse: comece como vereador. Pelo amor de Deus, minha capacidade intelectual me credencia. Estou terminando uma tese de doutorado em ciência política. Mas deixei claro para Bolsonaro: se ele tentar a reeleição, não entrarei na disputa.

E se um dos filhos dele concorrer ao cargo? Reitero que serei o primeiro a apoiar o presidente Bolsonaro se ele fizer um bom governo. Não tenho compromisso com mais ninguém.

Bolsonaro definiu o nazismo como um movimento de esquerda. O senhor concorda? Não importa se era de direita ou de esquerda. Para mim, foi um movimento de pessoas alucinadas, de monstros. Descobri uma Witzel que foi morta pelos nazistas. Quando viajei à Alemanha como governador, um grupo me chamou de nazista, de genocida. Foi muito duro.

O presidente falha nas costuras com o Congresso? O governo está demorando a construir uma base. Não converso diariamente com Bolsonaro. Falo mais com o Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que é do Rio. Ele está com o espírito colaborador e sinalizou isso para o Planalto. Não sou a melhor pessoa para ensinar nada ao presidente. O que posso dizer é que aqui já montei uma base com cinquenta parlamentares. Fiz o dever de casa.

Na campanha, o senhor afirmou que reduziria o número de secretarias, mas aumentou de dezoito para vinte. Não é uma contradição? Sim, é contraditório, mas entendi que diminuir o número de secretarias não significa necessariamente um ganho financeiro nem de eficiência. O ministro Paulo Guedes, a meu ver, trabalha com uma estrutura pesada demais. No caso do Rio, a economia que fiz foi cortando cargos.

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Hoje, o Rio só sobrevive porque renegociou a dívida com a União. Como tornar o estado economicamente viável? Temos de apostar no turismo. Recebemos menos de 8 milhões de turistas no Brasil, quando deveria haver uns 50 milhões — só no Rio, quero 20 milhões. Para isso, é preciso mudar essa imagem de um lugar em guerra, com tanque na rua, e investir dinheiro.

Os salários de servidores fluminenses atrasaram muito no governo de Luiz Fernando Pezão. Isso acontecerá de novo? Não. Pode escrever.

O senhor acredita que o assassinato da vereadora Marielle Franco foi encomendado? Não tenho dúvida de que há uma estrutura criminosa que quis eliminar a vida dela. Essa parte da investigação, porém, ainda demora a ser solucionada.

O senhor se arrepende de ter participado de um ato em que uma placa de rua com o nome da vereadora foi quebrada? Não tive nada a ver com aquilo e já deixei claro que sou absolutamente contra atos desse tipo. Cheguei a conhecer a Marielle. Não concordava com todas as causas que ela defendia, como a liberação de substâncias entorpecentes, mas a respeitava.

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630

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