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Ninguém mais lembra de Belo Monte. Só quem vai ter as terras alagadas

Nas comunidades ribeirinhas que serão alagadas, colonos sofrem com a insegurança sobre o futuruo

Por La Vanguardia
30 set 2010, 18h05

Perto de São Francisco das Chagas, já se vêem os primeiros sinais de que as obras predatórias de Belo Monte já estão operando

O cadáver de um búfalo, um festim para os urubus, não era o único mau presságio na viagem interminável até São Francisco das Chagas, uma comunidade numa área desmatada da Amazônia ameaçada por projetos hidrelétricos.

Primeiro, pela chamada estrada Transamazônica, com asfalto em apenas 70 de seus 2 500 quilômetros; logo, por um dos caminhos perpendiculares que fazem a espinha de peixe, a rota do desmatamento nas fotos de satélite.

Troncos brancos de árvores mortas surgiam nas áreas queimadas como totens da colonização. “Se queima e logo se planta cacau ou se mete gado”, disse Mayumi, uma jovem pesquisadora das comunidades indígenas.

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Ninguém questiona as conquistas dos governos de Lula na luta contra o desmatamento, que baixou de 2,7 milhões para 740 mil hectares destruídos entre 2004 e 2009, segundo a ONU. Foram firmados acordos com multinacionais de soja e madeira, e marcas de calçados como Nike e Timberland, para recusar matérias primas provenientes do desmatamento ilegal.

Mas os biólogos e ecologistas que vivem na selva do estado do Pará dizem que as queimadas e derrubadas ilegais estão se acelerando, situação agravada pela seca. “Verá que a Lua, às vezes, é vermelha como o Sol por causa dos incêndios”, disse Rodolfo Salm, ecologista da Universidade do Pará.

O certo é que é difícil convencer os pequenos agricultores e pecuaristas empobrecidos que não deveriam colonizar a selva quando o modelo de desenvolvimento oficial consiste em converter o Brasil em exportador número 1 de matérias primas, minerais e alimentos básicos. “É exatamente o que se fez nos Estados Unidos e não sobra muita selva lá”, disse o ativista Marcelo Salazar.

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As sete represas do projeto hidrelétrico centrado em Belo Monte são a chave nesse modelo. Há um debate sobre se a energia gerada ajudará a atender as crescentes necessidades da população do sul. O que se sabe é que a multinacional de mineração Alcoa precisa dos quilowatts de Belo Monte para fabricar alumínio ao lado de sua mina próxima de Santarém. As minas não são o maior perigo para a floresta, disse Armin Mathis, especialista em mineração da Universidade Federal do Pará. Mas “atraem gente, estradas, urbanizações e isso tudo se traduz em desmatamento”.

Perto de São Francisco das Chagas, já se vêem os primeiros sinais de que as obras predatórias de Belo Monte já estão operando. “Aqui vão construir um canal maior que o do Panamá”, disse Sonia Magalhães, da Universidade de Belém, que percorre as comunidades ilegais para explicar seus direitos. Mas então, São Francisco das Chagas, com suas 80 famílias, principalmente plantadores de cacau, banana e pimenta, ficará submersa.

Magalhães explica essa crua realidade a trinta residentes cujos gestos passam do interesse ao pavor. “A água vai chegar até aqui?”, perguntou o jovem Francivaldo. “Ninguém nos consultou. Nenhum dos grandes candidatos presidenciais se opõe ao projeto?” Nem Marina Silva, a candidata verde. Ninguém se atreve a questionar o modelo de crescimento rápido nem a demanda energética que será criada.

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Na parede ao fundo, um cartaz oficial de informação eleitoral ilustrado com uma imagem de uma máquina de votação com teclado numérico profetiza: “Nesta máquina você pode escolher o seu destino”.

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