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Negromonte: “Só saio se eu quiser e se a Dilma quiser”

Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, ministro das Cidades enfrenta bancada do PP e diz que tem apoio do Palácio do Planalto

Por Luciana Marques
6 out 2011, 19h03

Ainda que alguns parlamentares do PP já ventilem nomes para substituir Mário Negromonte no Ministério das Cidades, o ministro diz que resistirá no cargo enquanto tiver o apoio da presidente Dilma Rousseff. A guerra entre os integrantes do PP esquentou depois que Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) tornou-se líder do partido na Câmara dos Deputados, em agosto, com a ajuda do ex-ministro das Cidades Márcio Fortes. O deputado Nelson Meurer (PP-PR), que é aliado de Negromonte, saiu derrotado. Em meio à disputa por cargos, os parlamentares reclamam que suas emendas não foram empenhadas e até ameaçam destinar as emendas a outros ministérios.

Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, Negromonte não titubeou: citou nomes dos parlamentares envolvidos na briga interna no PP, atacou os adversários, explicou os motivos que levaram à crise em sua pasta e disse que partidos como PMDB e PT também enfrentam disputas internas. O ministro, no entanto, não soube explicar o fato de alguns de seus correligionários terem revelado a VEJA que ele ofereceu até 30.000 reais em troca de apoio político.

O senhor tem sustentação política para continuar à frente do ministério? A presidente Dilma já disse que o regime é presidencialista e estou muito tranquilo porque só saio se eu quiser e se ela quiser. A presidente me disse, após uma reportagem de um jornal, em uma viagem dentro de um avião: “Não liga para isso não. Não dê ouvidos a essas coisas”. Ela sabe do meu comportamento e me deu apoio.

Mas o senhor não tem apoio da bancada do PP. Tenho um relacionamento com a maioria da bancada, existe uma insatisfação de meia dúzia. Mas a insatisfação é por emendas, que independem da gente. Há deputados novos que não têm emendas e o governo está tentando contemplá-los. Da minha parte, tenho a maior boa vontade. Falei com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, hoje de manhã e ontem pelo telefone. Ela mandou a relação dos deputados, mas não temos orçamento. Estamos construindo isso juntos, eu e ela.

Há uma crise no Ministério das Cidades? É um ministério que contraria muitos interesses, muita gente está de olho. Tenho seis mandatos, não tenho uma mancha na minha vida pública, não tenho um processo. Mas sei como é esse jogo, é um jogo bruto.

Jogo bruto de quem? Existe uma briga regional de deputados contra deputados do PP nos estados e essa briga vem para dentro do ministério, em âmbito nacional. Cada estado tem uma briga. Na Bahia está tudo harmonizado, mas posso dizer que, em Pernambuco, Roberto Teixeira e Eduardo da Fonte não se entendem. Roberto Teixeira tem simpatia por mim. Eduardo da Fonte fica com raiva e alimenta a imprensa. Santa Catarina tem Esperidião Amin contra João Pizzolatti. Rio Grande do Sul tem José Otávio Germano contra Jerônimo Goergen e por aí vai. Uns têm simpatia por mim, outros ficam com raiva. Eles acham que, batendo em mim, batem no deputado que é adversário dele no estado.

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Qual a origem dessa disputa? Esse é um ministério que muitos gostariam de ter. Os ex-ministros gostariam de permanecer, tem fogo amigo. Tem muita gente que acha que político pode tudo e não sou daqueles que acham que político pode tudo. A gente contraria certos interesses. Às vezes há pedidos que não estão ao nosso alcance. As pessoas vêm me fazer um pedido e eu falo: Você quer que eu te enrole ou fale a verdade? Prefiro falar a verdade, que é dura, mas duradora. Sempre agi dessa forma, não vai ser no ministério que eu vou errar.

Esses pedidos dizem respeito à liberação de emendas? Os deputados novos estão com mais dificuldades porque temos que buscar a dotação orçamentária. O Tesouro já ligou querendo passar o dinheiro, estamos só esperando a lista que a Ideli Salvatti me mandou. Chegando dinheiro, mandamos pagar as emendas de todo o mundo. Esses novos deputados é que estão chiando. Mas eles, coitados, não conhecem o orçamento e não sabem como funciona. A Ideli me mandou a lista no papel com os valores. Mas, pelo o que eu estava conversando com ela, não há dotação orçamentária. Não tenho autorização da ministra para falar os valores, que ela me passou na semana passada.

Como está sua relação com o Palácio do Planalto? Tenho conversado com Ideli, Gilberto Carvalho, Gleisi Hoffmann. A relação está normal, tranquilo. Não sou midiático, sou discreto, não gosto de holofotes. Com o Planalto, meu relacionamento é o melhor possível, com todos os ministros.

O senhor se sente excluído das reuniões sobre a Copa do Mundo de 2014? Nunca participei de tanta reunião. Se eu ficasse esvaziado você acha que iria continuar no Ministério das Cidades? Defendo o governo com unhas e dentes, mas se eu me sentir desprestigiado e acuado, não me sinto bem. Quem conhece a presidente sabe que ela não é de indicar ninguém a contragosto dela. E quem me conhece sabe que eu não fico em um lugar se não sou bem recebido. Se eu sentisse que ela não gostasse de mim e não estivesse satisfeita com o meu trabalho, iria falar com ela. A presidente é tão autêntica que, se não gostasse de mim, não tinha me convidado.

O senhor tem recebido parlamentares em seu gabinete? Tenho o maior prazer em atender a bancada, porque sou partidário. Hoje tem gente insatisfeita comigo, mas amanhã eu conquisto e resolvo os problemas e vamos levando. O problema é momentâneo, ocorre nas outras bancadas também, no PMDB, no PT. Mas tem gente que é inteligente e não coloca isso para fora. Se você exteriorizar isso – que é uma ferida interna, um problema interno – é ruim para os partidos, ruim para os companheiros.

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Pensou em deixar o PP? Nunca pensei em sair do PP, pelo contrário. Nem fui chamado para integrar outro partido porque todo o mundo sabe que sou partidário. Sempre fui agregador, por isso fui líder quatro vezes, algo histórico no nosso partido. A maioria da bancada está satisfeita comigo, o presidente do partido, Francisco Dornelles, está satisfeito comigo. Sei que tem meia dúzia contra, mas isso é normal. Nem Jesus Cristo conseguiu agradar a todo o mundo e o colocaram na cruz ao lado de dois ladrões.

Tem se encontrado com os parlamentares insatisfeitos com o senhor? Estou pronto para conversar, para dialogar. Meu pai me disse o seguinte: quando o sol se põe, deixa a raiva, o rancor, a inveja, tudo ir embora junto. Já recebi trezentos parlamentares de todos os partidos desde o início do governo. Hoje mesmo recebi três parlamentares na minha residência. Já liguei diversas vezes para o líder [Aguinaldo Ribeiro], converso com todo o mundo. Da minha parte, não tem clima tenso nenhum.

Como anda sua relação com o ex-ministro Márcio Fortes? O Márcio Fortes saiu do ministério e não gostaria de ter saído. Alguns amigos dizem que ele planta notinha na imprensa contra mim. Eu, quando era líder, fui o grande defensor dele. A bancada é que não quis, eu não tenho nada contra isso. Se a bancada quisesse, por mim ele teria continuado no cargo. Faz tempo que eu não o vejo, desde que assumi o ministério.

Mas ele é o presidente da Autoridade Pública Olímpica, o senhor pode ter que encontrá-lo em reuniões. Por enquanto não tive contato nenhum com ele.

Como o senhor explica o fato de ter oferecido 30.000 reais aos parlamentares que o apoiassem, durante reuniões no ministério? Se alguém disser que eu estava na roda enquanto se falou desse assunto, vamos fazer uma CPI para me investigar. E os deputados que estão dizendo isso podem ir lá dizer. Isso não mancha a minha vida. Havia dois grupos de deputados dentro do partido, um se digladiando contra o outro. O Márcio Fortes foi lá na bancada prestigiar o apoio ao novo líder [Aguinaldo Ribeiro]. A outra parte da bancada, que foi derrotada quando saiu o Nelson Meurer, foi até o meu gabinete pedir apoio. Irei para as barbas da Justiça contra quem falou algo contra mim sem provas.

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