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Na Turquia, Dilma terá mar de possibilidades – e armadilhas

No campo comercial, relação com o país muçulmano representa chances de elevar exportações brasileiras. Mas as relações diplomáticas escondem perigos

Por Carlos Graieb 6 out 2011, 08h45

Das relações diplomáticas herdadas por Dilma Roussef do governo anterior, poucas são mais cheias de possibilidades – e também de armadilhas – quanto aquela com a Turquia, país que a presidente visita nesta sexta-feira. A viagem oficial será aberta com um encontro com o presidente do país, Abdullah Gül, em Ankara. No sábado, Dilma se reunirá com o premiê turco, Recep Erdogan, em Istanbul.

O estreitamento de relações começou em 2009, quando Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o primeiro presidente brasileiro a visitar a Turquia. Antes dele, apenas o imperador Dom Pedro II havia passado pelo país. Lula encontrou no primeiro ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, um político de características semelhantes às suas: ambos eram donos de considerável popularidade, ancorada no crescimento econômico, e ambos ansiavam por deixar alguma marca na política internacional.

No ano seguinte, a oportunidade de ação se apresentou: em meio à apreensão causada pelas atividades atômicas do Irã, Lula e Erdogan intermediaram um acordo com a ditadura dos aiatolás. O acordo, como era de se esperar, não bastou para convencer a comunidade internacional das finalidades pacíficas do programa nuclear iraniano, e a ONU impôs sanções políticas e comerciais ao país. Antes disso, porém, Lula e Erdogan tiveram tempo para se encontrar no Brasil, onde celebraram sua jogada diplomática (reclamando da “inveja” e da “truculência” dos atores internacionais) e assinaram um plano de parceria estratégica.

A atual visita de Dilma é consequência direta da assinatura desse documento, que prevê colaboração política, mas também o fortalecimento do comércio e de programas em áreas como energia, tecnologia e equipamentos de defesa. “Levando em consideração a reputação da presidente como implementadora de projetos, esperamos que muitas dessas ideias saiam agora do papel”, diz um diplomata turco. O comércio entre Brasil e Turquia gira em torno de uma pequena cesta de produtos e tem crescido devagar. Em 2010, as exportações brasileiras foram de cerca de 1,4 bilhão de dólares, contra 600 milhões de dólares de importações. As projeções indicam que o volume de comércio entre os dois países será de 2,7 bilhões de dólares em 2011. “Esperamos acelerar as trocas, tendo a cifra de 10 bilhões de dólares como meta para um futuro próximo”, afirma o representante.

Essas, evidentemente, são as oportunidades. As armadilhas estão no campo da diplomacia. Reeleito em junho com votação expressiva, Erdogan não desfruta apenas de grande prestigio interno. Ele é hoje uma das figuras políticas mais populares do Oriente Médio, e trabalha para que a Turquia colha os frutos da primavera árabe. Embora em áreas como a autonomia do judiciário e a liberdade de imprensa a democracia no país continue entre parênteses, a Turquia tem, sim, um exemplo a oferecer: é um país muçulmano com um regime de eleições democráticas bastante consolidado.

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Há duas semanas, Erdogan fez um tour por Tunisia, Egito e Líbia, três nações que tiveram ditaduras derrubadas por movimentos populares. É difícil subestimar o significado simbólico da viagem. Também é difícil deixar de notar a rapidez com que o primeiro ministro turco se desvencilhou de antigas posições. A Turquia era bastante próxima do coronel Kadafi, da Líbia, e se opôs a uma intervenção da Otan quando a sublevação no país teve início. Agora, estende ao mão ao regime líbio em formação – da mesma forma como se posiciona ao lado dos rebeldes sírios contra outro antigo aliado, o ditador Bashar al-Assad.

Outro movimento surpreendente é a ruptura, cada vez mais acerba, com Israel. O ensejo da quebra de laços, cultivados por décadas com a benção dos Estados Unidos, foi o incidente do navio turco Mavi Marmara, interceptado por um comando israelense no ano passado quando tentava chegar à faixa de Gaza em suposta missão humanitária. Ativistas turcos morreram na abordagem. Desde então, o governo de Ankara exige que Israel se desculpe formalmente e indenize as famílias dos mortos. Mais que isso, passou a qualificar de ilegal o bloqueio a Gaza e expulsou o embaixador israelense no começo de setembro. Em passagem pela África do Sul nesta quarta-feira, Erdogan voltou à carga e disse que Israel, por deter armas nucleares, “representa uma ameaça para toda a região”.

A Turquia exercita os músculos. Recep Erdogan não tem medo de exercitar a retórica. É nessas circunstâncias que as armadilhas podem se apresentar para Dilma Rousseff, nas declarações conjuntas e entrevistas que venha a dar nesta sexta-feira. Será um teste para a habilidade diplomática da presidente.

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