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Na reta final, a luta de Serra e Haddad contra o estresse

Na semana decisiva das eleições de São Paulo, candidatos esforçam-se para, mesmo em meio à correria, manter o equilíbrio. Eles usam como armas acupuntura, massagem, música, caminhadas e alimentação saudável

Por Carolina Freitas
20 out 2012, 14h09
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  • Sim, no peito de um candidato também bate um coração. Na semana decisiva das eleições municipais em São Paulo, Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) colocarão todo seu fôlego à prova para vencer mais sete dias de caminhadas, carreatas, gravações, debates e comícios – e, ao final, a eleição. Já são quatro meses nessa rotina. Haddad engordou tudo o que tinha emagrecido na pré-campanha e passou dos 90 quilos. Serra perdeu a paciência mais de uma vez em entrevistas. Afinal como ter equilíbrio em meio a tanto estresse? Os candidatos contam suas técnicas para – tentar – manter a cabeça no lugar. Leia também:

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    José Serra: ‘Nós somos a turma do não mensalão’ PSDB e PT partem para a conquista de território em SP Fernando Haddad admite que seu momento de maior estresse foi quando as pesquisas o mostravam com 3% de intenção de voto, em março. Mesmo liderando a corrida agora, o candidato se policia para evitar o clima de “já ganhou” e repete à sua equipe a tese de que eleição só se define do dia da votação. É nítido, especialmente nos debates e discursos de Haddad, que ele ganhou autoconfiança e aprendeu a domar o nervosismo. Experiente em eleições, José Serra mantém o foco, mas nem sempre a calma. Na última semana, irritou-se com a pergunta de uma repórter sobre um assunto da campanha. E mandou que ela fosse trabalhar com Haddad. O tucano começou na liderança da campanha mas, em agosto, foi ultrapassado por Celso Russomanno (PRB). Os paulistanos foram às urnas com os três principais candidatos empatados. Serra e Haddad passaram para o segundo turno com menos de dois pontos porcentuais de diferença entre eles. A indefinição até o último minuto trouxe uma carga extra de estresse aos candidatos. A psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que o estresse está associado a situações novas ou inesperadas. “Quem participa de uma disputa política tem muito em jogo: o cargo, o status e, às vezes, o futuro político”, diz Denise. “Além disso, os candidatos fazem um grande esforço físico durante a campanha, especialmente no corpo a corpo.” O estresse, diz a especialista, toma o organismo como um todo, corpo e mente. Por isso, candidato estressado está suscetível a dores no estômago e na cabeça, diarreia, picos de pressão alta e irritabilidade. Acupuntura e chocolate – Na luta pelo equilíbrio, Serra lança mão de massagens relaxantes, acupuntura e exercícios de alongamento de uma a duas vezes por semana. Haddad evita o noticiário, relaxa no trânsito ao som de músicas instrumentais e percorre trajetos a pé pelo centro da cidade. Quando dá tempo de almoçar, caminha do comitê de campanha até o tradicional restaurante Itamaraty, no centro da cidade. Serra e Haddad procuram ter uma alimentação equilibrada e pelo menos um momento de lazer todos os dias – mesmo que seja uma horinha diante da televisão antes de dormir. Fernando Haddad é chocólatra, tem como prato preferido o generoso cheese salada da lanchonete Joakin’s e costuma sair para jantar com a mulher, Ana Estela. Para contrabalançar, procura se alimentar bem durante o dia. O carro e o escritório do candidato estão sempre abastecidos com lanches naturais e frutas, que substituem o almoço, na correria das eleições. José Serra faz várias refeições leves ao longo do dia. Ele gosta de frutas e sanduíches com queijo branco, mas nem pense em oferecer algo com molho, alho ou cebola. Quando sente sonolência e antes de gravar a propaganda eleitoral Serra costuma tomar guaraná em pó diluído em água. Gosta também de chá verde quente e de Coca Zero. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), médico por formação, deu algumas orientações ao aliado: “Acupuntura, bom humor e um cafezinho. Uma pausa para o café sempre nos ajuda a pensar melhor.” Quando em campanha, Alckmin tomava mais de dez xícaras de café por dia. Serra prefere a bebida servida com leite ou em um cappuccino – e em menor dose. Música e insônia – Fã de rock, Haddad desenvolveu recentemente um novo gosto para música, por influência do filho Frederico, de 20 anos. Para aliviar a tensão, especialmente no trânsito, ele ouve melodias instrumentais tocadas no violão por Raphael Rabello e Angel Romero. O candidato tem como regra não ligar o rádio dentro do automóvel – outra medida antiestresse. Ele usa a internet no celular para assistir pelo Youtube a clipes de violão clássico. A música é um elemento tão relaxante na rotina do petista que, às vésperas do primeiro turno da eleição, ele quebrou a rotina de caminhadas e comícios para, ao lado de Ana Estela e Frederico, assistir ao show dos Titãs. “A música deixa as coisas do tamanho que elas realmente são”, explicou na manhã seguinte. Outra paixão musical de Haddad são os Beatles – um dos poucos pontos de convergência entre ele e José Serra. O noticiário, por outro lado, estressa o petista. Haddad não lê jornais. A psicóloga Denise Diniz explica que a atitude é uma tentativa de controlar o impacto do ambiente nos níveis de estresse. “É uma boa técnica, já que o ambiente de campanha, competitivo, é altamente estressor.” No início da campanha, os highlights do noticiário eram passados via SMS ao petista por sua assessora. A campanha esquentou, os questionamentos da imprensa aumentaram e ele passou a receber um briefing mais detalhado de sua assessoria, por telefone, às 8 horas. A manhã, aliás, é o horário em que Haddad funciona melhor. No máximo às 9 horas ele já está no estúdio para gravar a propaganda eleitoral. À noite, a energia vai se esvaindo e, no primeiro turno, o candidato chegou a cancelar eventos noturnos para ir para casa descansar e ver a família. Bem diferente do notívago Serra, que recorre à televisão para sossegar a mente e pegar no sono. Nessa hora, nada de política. O tucano assiste a filmes antigos ou a documentários sobre natureza do Discovery Channel. Quem trabalha com Serra notou que, nesta eleição, ele está mais disciplinado e seus atrasos – que superavam uma hora quando era governador – diminuíram. Se em 2010, ele ia para o estúdio de madrugada, agora a propaganda política é gravada em sessões de 40 minutos à tarde. O deputado federal Walter Feldman, um dos coordenadores da campanha tucana, afirma que Serra tem, mais do que nunca, delegado tarefas e mantido o diálogo com a equipe. “É uma ótima relação, ele está aberto a ouvir”, diz Feldman. O coordenador da campanha, Edson Aparecido, concorda: “Tudo tem sido muito bem conversado.” Um dos momentos que mais cansa José Serra são os deslocamentos pela cidade. Ao contrário de Haddad, que busca espantar o estresse do trânsito ouvindo música, o tucano fez do carro seu escritório itinerante. Com smartphone e iPad em mãos, o candidato aproveita o trajeto entre um compromisso e outro para ler, escrever e trocar e-mails com sua equipe. “Eu nunca desligo. Nunca fico off-line”, assume Serra. Ainda que exaustiva, a rotina pode ser positiva, diz a terapeuta Denise Diniz. “Se essa é uma dinâmica de comportamento dele e ele se sente bem assim, não há problema algum. É uma forma de gerenciar a ansiedade.” Mantra antiestresse – Tanto Serra quando Haddad elegem o contato com a população como o ponto alto da campanha. “Gosto muito quando as pessoas vêm me contar o quanto foram beneficiadas por algo que eu criei, como as escolas técnicas e o Programa Mãe Paulistana”, conta Serra. Haddad fica feliz quando um jovem do Programa Universidade para Todos (Prouni) chega perto para agradecer e contar suas experiências. E adora quando a criançada o cerca e faz bagunça na campanha de rua. A psicóloga Denise Diniz explica que se sentir reconhecido e respeitado é uma das fórmulas antiestresse mais eficazes, daí o bem-estar advindo dos elogios dos eleitores. “Recomendo que eles arquivem muito bem na memória esses momentos e relembrem sempre que desanimarem”, diz Denise. “Isso vai ajudar quem perder a eleição a lembrar que a vida nem sempre é justa, mas, enfim, é boa.”

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