A mulher de Élcio de Queiroz, um dos suspeitos envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, disse que o marido não frequentava a casa de Jair Bolsonaro e nunca nem teve relação com a família do presidente. Suzana Lameira de Souza de Queiroz afirmou a VEJA que o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, para onde Élcio de Queiroz se dirigiu horas antes da morte de Marielle, se confundiu ou mentiu ao dizer para a Polícia Civil que o marido havia pedido para ir à casa de Bolsonaro.
Está registrado no nome de Suzana o carro de modelo Logan, placa AGH 8202, que Élcio de Queiroz dirigiu até o Vivendas da Barra na noite de 14 de março de 2018, quando Marielle e Anderson foram mortos. Neste condomínio estão localizadas as casas de Bolsonaro e Ronnie Lessa, o suspeito de ter disparado contra as vítimas. Registros da portaria mostram que, no dia do crime, Élcio de Queiroz anunciou que iria visitar a residência de Bolsonaro, mas se encaminhou para a de Ronnie Lessa.
À polícia, o porteiro disse que ligou para a casa 58 e que uma pessoa, que ele identificou como “seu Jair”, liberou a entrada de Élcio de Queiroz. O suspeito, no entanto, foi até a casa 66, onde mora Lessa. O porteiro afirmou ter telefonado novamente, e o mesmo “seu Jair” teria dito que sabia para onde ele estava indo, segundo reportagem exibida na terça-feira 29 pela TV Globo. Bolsonaro não estava no Rio e registrou presença em duas votações realizadas naquele dia na Câmara dos Deputados.
“Por infelicidade do fato que está ocorrendo, o meu compadre residia junto com a minha comadre no mesmo condomínio do Jair Bolsonaro. Nós nunca tivemos contato nenhum com ele. Quando chegávamos lá, ocorria de ele estar passando com a filha para ir à praia e voltar, mas quem costumava ver eram as nossas crianças. Eu nunca consegui vê-lo. Meu esposo muito menos. Isso que está sendo cogitado, de que ele chegou e falou que ia na casa do Bolsonaro… Isso, infelizmente, é tudo mentira”, disse Suzana de Queiroz.
Ela afirmou que a casa de Lessa, na verdade, tinha uma numeração dupla: 65/66. “Foi uma confusão do porteiro”, disse. “Com a família Bolsonaro nunca tivemos relação nenhuma.”
Ela contou ter assistido nesta quarta-feira, 30, ao vídeo em que o vereador Carlos Bolsonaro mostrou a gravação do que seria um diálogo entre Lessa e o porteiro para autorizar a entrada de Élcio de Queiroz no condomínio. “Nada melhor do que a gravação para mostrar quem atendeu. Foi meu compadre. O porteiro diz uma coisa, mas o que vocês viram na gravação é outra totalmente diferente”, disse. Não há como garantir o local em que Carlos gravou as chamadas e o vídeo.
Sobre a foto que Élcio de Queiroz havia postado com Bolsonaro nas redes sociais, Suzana afirmou que ela ocorreu após um encontro fortuito num batalhão onde o marido trabalhava. “Meu marido não gosta de tirar foto com ninguém, nem com os filhos. Fiquei surpresa de ele ter tirado essa foto. O mais engraçado é que ele postou cortando as cabeças. Ele deve ter tirado porque outros amigos estavam tirando, mas nada além disso”, declarou.
Suzana afirmou que o marido é amigo desde os 8 anos de idade de Elaine Lessa, mulher do outro suspeito de envolvimento nas mortes e que foi presa no início de outubro sob a acusação de ocultar armas que teriam sido usadas no crime. “Nós estávamos sempre juntos. Nossas filhas têm diferença de quatro dias”, disse. Ela afirma não saber quem é o porteiro que fez a citação a Bolsonaro.
A mulher de Élcio de Queiroz também alegou que tanto ele quanto Ronnie Lessa não são responsáveis pela morte de Marielle Franco. “Cada hora é uma notícia que chega, uma coisa que inventam. Eles não têm prova nenhuma”, disse. “Só mesmo o que inventam. Ficamos desse lado rindo de tudo que é comentado, porque nada disso é verdade.”
Na noite de 14 de março, ela afirma que ficou em casa com os filhos e com uma comadre que havia feito uma cirurgia. “O Élcio sempre saía para beber com o Ronnie quando tinha jogo de futebol. Eu já estava acostumada de ele ir para lá e virar um, dois ou três dias. Ele voltou para casa no mesmo dia, de madrugada, como sempre fazia”, declarou. “Espero que sejam encontrados os verdadeiros assassinos e os mandantes. Tenho 100% de certeza que não foram eles.”
A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio apuram se o porteiro mentiu em seu depoimento. Uma fonte relatou a VEJA que o porteiro prestou dois depoimentos. No primeiro, contou que ligou para casa de Bolsonaro. No segundo, confrontado com o áudio da conversa, manteve a versão, mas deixou dúvidas nos investigadores em relação à veracidade da informação prestada. A menção ao nome de Bolsonaro pode fazer o Supremo Tribunal Federal assumir a apuração da morte de Marielle.