A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro indiciaram o ex-vereador Cristiano Girão Matias e o PM aposentado Ronnie Lessa como, respectivamente, mandante e executor da morte de um rival do ex-parlamentar no bairro Gardênia Azul, zona oeste da capital fluminense, em 2014. A denúncia foi feita antes da saída do delegado Moysés Santana e das promotoras Simone Sibilio e Leticia Emile, que faziam parte da força-tarefa que investiga os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018 no Estácio, região central da cidade. Ex-bombeiro, Girão foi apontado pela CPI das Milícias de 2008 como o chefe de um grupo paramilitar no bairro onde o PM André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, e sua mulher, Juliana Sales de Oliveira, foram assassinados a tiros, em 14 de junho de 2014. Segundo a denúncia, quem executou o duplo homicídio foi Lessa, que já é réu pela morte de Marielle e Anderson e preso pelo crime desde março de 2019.
A existência de um documento que registra o elo entre Girão e Lessa em relação à morte do casal foi revelada em uma reportagem veiculada pelo telejornal SBT Brasil em agosto do ano passado. No mês seguinte, os investigadores do caso fizeram busca e apreensão contra ambos. Na visão dos investigadores, tanto o duplo homicídio na área dominada por Girão quanto os assassinatos de Marielle e Anderson guardam similaridades. Ambos os crimes foram executados com carros em movimento, com uma precisão que, segundo a polícia, seria uma assinatura de Lessa.
O indiciamento e a denúncia apontam para um possível nexo de Girão com as mortes da vereadora e de seu motorista. Preso em dezembro de 2009 após a CPI das Milícias, o ex-vereador ficou quase cinco anos em presídios federais devido à sua periculosidade. Quando lhe foi concedida liberdade condicional, em 2015, ele foi proibido de permanecer no Rio de Janeiro. Ele foi beneficiado com um indulto em 2017. Dias antes de Marielle e Anderson serem executados, Girão foi fotografado dentro da Câmara dos Vereadores do Rio, conforme mostrou o site The Intercept Brasil. Caso a polícia comprove a ligação de Girão ao crime, a hipótese de motivação seria uma vingança contra o PSOL e contra o padrinho político de Marielle, o deputado federal Marcelo Freixo, atualmente no PSB e que, à época, conduziu a comissão parlamentar, que levou ao indiciamento de Girão e outros 225 membros de grupos paramilitares. Em março deste ano, a polícia trabalhava com uma tese que envolvia um complô entre intermediários e mandantes, conforme VEJA revelou.
Atualmente residindo em São Paulo, Girão estava no Rio de Janeiro desde as vésperas do crime, mas disse, em depoimento prestado à polícia na época, que passou dez horas almoçando em uma churrascaria na Barra da Tijuca, Zona Oeste, no dia em que o atentado aconteceu. Na ocasião, quem o acompanhava era seu braço-direito: o ex-policial civil Wallace de Almeida Pires, o Robocop, assassinado a tiros em suposta queima de arquivo no ano de 2019. Informações do Disque Denúncia obtidas por VEJA no final do ano passado davam conta de que Lessa teria guardado armas com Robocop. Investigadores, no entanto, não conseguiram rastrear o espólio bélico que teria sido armazenado com o ex-policial. Procurada pela reportagem, a defesa de Girão não foi localizada para comentar o assunto.