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Morre o general Newton Cruz, figura emblemática da ditadura militar

Chefe por seis anos da Agência Central do SNI, órgão de espionagem do regime, tinha 97 anos

Por Da Redação Atualizado em 16 abr 2022, 15h36 - Publicado em 16 abr 2022, 15h10

Morreu na sexta-feira, 15, o general de divisão Newton Cruz, que ocupou um dos cargos mais altos do Serviço Nacional de Informações (SNI) durante a ditadura militar e se tornou um figura emblemática do regime. Cruz tinha 97 anos e estava internado no Hospital Central do Exército.

O general comandou a Agência Central do SNI, no Rio de Janeiro, de 1977 a 1983 — sob chefia dos generais João Figueiredo, que se tornaria presidente, e Octávio Aguiar de Medeiros. Cruz entrou no Exército em 1941, oriundo da arma de artilharia. Ele foi nomeado para órgãos de inteligência desde os primeiros meses da ditadura: em 1964, após servir no Conselho de Segurança Nacional, ele se tornou adjunto no Serviço Federal de Informação e Contra-Informação e, logo depois, no recém-criado SNI. Durante o governo Figueiredo, deixou a Agência Central para assumir o Comando Militar do Planalto.

Ele ficou conhecido por episódios de agressividade e por suspeitas de envolvimento em escândalos da ditadura. Segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DPDOC), houve diversos incidentes enquanto ele chefiava o Comando Militar do Planalto. Em outubro de 1983, por exemplo, ele teria determinado que a polícia do Distrito Federal interditasse e invadisse a sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF). No local teriam sido apreendidas fitas e documentos sobre uma manifestação contrária ao regime militar — essa informação seria desmentida pelo próprio Newton Cruz.

Em dezembro daquele ano, o general se envolveu em um episódio de truculência contra um jornalista que se tornou célebre. Durante uma entrevista coletiva, Cruz irritou-se com as perguntas do repórter de rádio Honório Dantas, mandou-o desligar o gravador. O repórter obedeceu mas reclamou, enquanto se retirava, de um empurrão que havia levado do general . Ao ouvir os comentários, Newton Cruz, chamou o repórter de “moleque” e obrigou-o a pedir desculpas, torcendo-lhe o braço. Em abril de 1984, ainda segundo o FGV-CPDOC, durante a votação da emenda Dante de Oliveira (que propunha a volta das eleições diretas), o general, irritado por estar sendo fotografado durante um atrito com estudantes, teria sacado um revólver e o encostado na barriga de um fotógrafo.

Caso Baumgarten

Em janeiro de 1983, VEJA publicou um dossiê escrito pelo jornalista Alexandre von Baumgarten, em que ele acusava Newton Cruz de ser o principal interessado em sua morte. Ex-diretor da extinta revista O Cruzeiro, Baumgarten havia sido encontrado morto meses antes numa praia Recreio dos Bandeirantes, no Rio, com marcas de tiros. O jornalista alegava, na carta, que o SNI havia acertado um repasse de verbas a O Cruzeiro em meio a uma campanha para promover o governo. Ele dizia nas primeiras linhas: “A esta altura já deve ter sido decidida minha eliminação. A minha dúvida é se foi pelo chefe da Agência Central do SNI (Newton Cruz) ou pelo titular (Otávio Medeiros).”

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Cruz deixou o SNI logo em seguida do escândalo. Ele foi denunciado pela suposta participação no assassinado de Baumgarten, de sua mulher e do barqueiro Manuel Pires em agosto de 1986. Uma testemunha chegou a afirmar ter visto Newton Cruz na praça XV de Novembro, na madrugada do seqüestro do casal. O caso só teve desfecho em julho de 1992. Depois de 30 horas de julgamento, o tribunal do júri absolveu Newton Cruz da acusação de assassinato, por sete votos a zero.

Cruz passou para a reserva em 1985, já sob o governo de José Sarney. Ele estava apto a ser promovido a general-de-exército, mas seu nome não foi levado pelo então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves. Seu nome teria sido excluído da lista em votação unânime do Alto Comando do Exército. Ele se candidatou a deputado constituinte em 1986,e a governador do Rio em 1994, mas não se elegeu em nenhuma das ocasiões.

Em 2014, ele chegou a ser denunciado por participação no caso Riocentro, de 1981, quando duas bombas explodiram no local onde um show comemorava o 1º de Maio. O ato foi planejado por integrantes de uma ala do regime contrária à abertura política, e os explosivos acabaram, acidentalmente, detonados dentro de um automóvel com dois militares. Cruz, no entanto, recebeu um habeas corpus em segunda instância que considerava que o crime havia prescrito.

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