‘Meu erro talvez tenha sido confiar no Queiroz’, diz Flávio Bolsonaro
Em entrevista ao 'Estadão', senador diz que investigação do MP que o envolve é ilegal e deve ser arquivada
O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) se manifestou neste domingo, 11, sobre o caso Queiroz. Em entrevista ao site do jornal O Estado de S. Paulo, ele diz que a investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro quebrou seu sigilo bancário de forma ilegal e deve ser arquivada. Apesar disso, o parlamentar reconhece que as versões dadas até agora por seu ex-assessor soam estranhas e que são necessárias explicações. Flávio disse não saber onde Queiroz está e lamentou ter confiado nele, mas negou qualquer participação em irregularidades.
Fabrício Queiroz é investigado porque o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou uma movimentação considerada suspeita: entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, 1,2 milhão de reais passou pela sua conta bancária. Durante esse período, Queiroz atuava como assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, que era então deputado estadual.
“A última vez que falei com Queiroz, foi quando ele teve cirurgia do câncer e liguei para saber se estava tudo bem. E nunca mais falei com ele. Não sei onde ele está, não tenho informação da família, não sei nada”, disse Flávio ao jornal. “Ele tinha a minha confiança, mas está comprovado que não era merecedor dela. O Queiroz tinha muita autonomia dentro do gabinete para escolher as pessoas, principalmente as equipes que eu chamo de equipe de rua. Ele que geria isso tudo. Talvez tenha sido meu erro confiar demais nele”, acrescentou.
“Quem tem que cobrar agora explicações é o Ministério Público. Óbvio que cobrei também, mas ele não me deu as explicações precisas à época, me deu de forma genérica”, prosseguiu o senador em relação ao ex-funcionário.
Questionado se seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, também confiava em Queiroz, Flávio disse: “Com certeza, ou não teria vindo trabalhar comigo. Ele convivia mais comigo. Mais de dez anos trabalhando comigo quase todo dia. Eu estava mais junto com o Queiroz algumas vezes do que com a minha família. A relação foi sendo construída, de confiança. Mas eu não tinha como prever, como ainda não há posso ter convicção de que houve ilegalidade”.
‘Não quero ser prejudicado porque sou filho do presidente’
Apesar da proximidade, o parlamentar diz que foi um “jogo sujo” da Justiça envolver seu nome na investigação que apura as contas de Queiroz. Flávio reconhece que acha “estranhas” algumas versões apresentadas pelo ex-assesor, como de que fazia dinheiro com venda de carros, mas se isenta no caso: “Ele tem que explicar qual é a verdade”.
Se sentindo perseguido pelo Ministério Público, Flávio explica porque resolveu conceder a entrevista: “Vejo que há grande intenção de alguns do Ministério Público de me sacanear, de mais uma vez colocar em evidência coisas que não fiz. Estou preferindo me antecipar, porque meu processo corre em sigilo de Justiça, mas sempre que vai para o Ministério Público os caras vazam tudo”.
“Sou investigado há quase um ano e meio e, até ontem, o chefe do Ministério Público estava falando que eu não era investigado. Então, ele quer a verdade ou ele quer me prejudicar? É óbvio que tem de andar, sou a favor de qualquer investigação, sempre estive aberto para prestar quaisquer informações. Só que, a partir do momento que tomo conhecimento do que estão fazendo comigo… Quebraram meu sigilo bancário sem autorização da Justiça e expuseram isso em rede nacional. Como eu me defendo disso?”, questiona o senador, que diz que há “militantes” no Ministério Público tentando atacá-lo para atingir o governo de Jair Bolsonaro.
“Não quero privilégio, mas não quero ser prejudicado porque sou filho do presidente. O Coaf pode ter acesso às movimentações financeiras de qualquer pessoa sem autorização judicial. Não pode compartilhar essas informações com o Ministério Público se for de forma tão específica, como foi meu caso. Meu caso foi tão absurdo que o Ministério Público pedia por e-mail ao Coaf para que notificasse o banco e tivesse informações que nem o Coaf tinha. Por que tem de ter o controle jurisdicional? Para evitar a pirotecnia, essa perseguição que está acontecendo comigo”, alegou o senador.
Flávio diz que já apresentou seu extrato bancário na televisão e que não há necessidade de seu sigilo ser quebrado. “Fui para a televisão e expliquei passo a passo. Está eternizado. Por que estão querendo agora pedir autorização para quebrar meu sigilo bancário se meu extrato já apareceu na televisão? Eles querem requentar uma informação que eles conseguiram de forma ilegal, inconstitucional. Como viram a cagada que fizeram, agora querem requentar, dar um verniz de legalidade naquilo que já está contaminado e não tem mais jeito.”
“Não tem outro caminho para a investigação a não ser ela ser arquivada – e eles sabem disso”, afirma o senador, que vê um “desespero” de promotores para “tentar justificar e requerer a quebra do meu sigilo bancário e fiscal”.