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Maior aterro de lixo da América Latina fecha as portas às vésperas da Rio+20

Adiado dezenas de vezes, fim do despejo de lixo em Gramacho está marcado para 1º de junho. Local reúne 20.000 pessoas que vivem de catar materiais no lixo

Por Da Redação
24 Maio 2012, 13h35

Em uma montanha de lixo, um homem descansa embaixo de um guarda-sol antes de retomar seu trabalho no aterro controlado de Gramacho, o maior depósito de lixo da América Latina, às margens da Baía de Guanabara e que é o meio de subsistência de 20.000 pessoas, mas que será fechado definitivamente pelo governo antes da Rio+20. O terreno é instável, e com o peso dos caminhões é possível sentir a terra tremer nesta área que já foi um mangue, onde o lixo, incluindo alguns materiais tóxicos, se acumula desde a criação do lixão, em 1976, em plena ditadura militar, sem jamais ter recebido tratamento adequado.

Em 2004, uma série de rachaduras apareceram na colina de detritos, que chegou a receber 8.000 toneladas de lixo diariamente. Era mais um alerta de que a destinação inadequada dos detritos de uma cidade de mais de 6 milhões de habitantes, anos a fio, estava prestes a cobrar seu preço. O iminente desastre sócioambiental que obrigou a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro optar por seu fechamento. O fim dass atividades foi adiado várias vezes e finalmente fixado para 1º de junho, pouco antes da Rio+20, agendada para acontecer entre 13 e 22. A cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável, onde são esperados 115 chefes de Estado e 50.000 participantes de todo o mundo, parece algo completamente incompatível com a infinidade de problemas ambientais e sociais no lixão.

Antes de seu encerramento, cerca de dois mil catadores se uniram para reivindicar seus direitos e cobrar do município uma indenização, que após muitos protestos, promessas e reuniões foi determinada em 14.865 reais para cada trabalhador na lista aprovada pelo Conselho de Catadores. O presidente da Associação dos Catadores de Jardim Gramacho, Sebastião dos Santos, 33 anos, explica que os trabalhadores “travaram uma batalha para garantir, além desses direitos, a entrada do catador na cadeia produtiva da reciclagem, que hoje é muito lucrativa, mas não beneficia o trabalhador”.

Mas nem todos os catadores estão satisfeitos e muitos se perguntam sobre o futuro de centenas de famílias do bairro Jardim Gramacho, que surgiu no entorno do lixão, quando este dinheiro acabar. “O fechamento do lixão terá um impacto muito grande sobre nós, porque para muitos era a única fonte de renda. Muita gente depende disso aqui, o que será dessas famílias? Receber 14 mil reais para quem trabalhou a vida inteira não é nada”, declarou à AFP Ana Carla Nistaldo, 32 anos, que há 16 vive dos resíduos retirados do aterro.

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Em sua casa alugada no mesmo bairro, duas televisões, microondas e um DVD, ela mostra com orgulho os anéis, quadros e porta-retratos feitos por ela a partir do material vindo do aterro. “Eu criei meus filhos com o dinheiro do lixo e nunca deixei faltar nada”, diz. Segundo a Comlurb, a companhia de limpeza urbana do Rio de Janeiro, a separação manual do lixo reciclável de Gramacho movimentou no último ano cerca de 24 milhões de reais.

Cada catador trabalha com um material (plástico, metal, papel ou vidro) que é revendido para um dos 42 depósitos do bairro ou para terceiros. Apesar dos riscos, como o gás metano, resultado da decomposição do lixo, acidentes com os caminhões e até mesmo doenças, trabalhar no lixão era para muitos a única e, às vezes, a melhor opção. “A gente recebe dinheiro todo dia, dava para tirar 90 reais, melhor do que trabalhar fora”, onde o salário mínimo é de 622 reais, declara o jovem Everton, que não se abate e já faz planos para o futuro. “Estou disposto a gastar metade do dinheiro da indenização para estudar”, explicou.

Quase todo o lixo que chegava a Gramacho já foi transferido para outro aterro sanitário em Seropédica. Uma empresa privada, a Nova Gramacho, ficará encarregada da exploração do gás metano de Gramacho, atividade que em 15 anos deve gerar cerca de 232 milhões de dólares em créditos de carbono, de acordo com a Prefeitura do Rio. A situação da destinação precária do lixo no Rio não é uma exceção no Brasil. O Ministério do Meio Ambiente informou que mais de 60% das cidades brasileiras não tratam seu lixo de forma adequada.

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(Com AFP)

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