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Lula diz ter ‘dúvidas’ de que Marisa pediu obras em sítio à Odebrecht

Sobre cozinha instalada pela OAS na propriedade, Lula afirmou que, se ex-primeira-dama não pagou, é porque foi 'convencida' que não seria necessário

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 mar 2021, 17h25 - Publicado em 14 nov 2018, 19h56

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento nesta quarta-feira, 14, no processo da Operação Lava Jato que apura se ele recebeu 1 milhão de reais em propina de empreiteiras por meio de reformas e obras de benfeitorias em um sítio em Atibaia (SP). Na oitiva, que durou cerca de três horas, Lula negou à juíza federal substituta Gabriela Hardt que seja dono oculto da propriedade e afirmou não saber sobre as obras no sítio, que começaram no final de 2010, quando ele se preparava para deixar o Palácio do Planalto.

“As obras não foram feitas para mim, portanto eu não tinha que pagar porque achei que o dono tinha pago”, disse Lula.

O petista declarou que tem “muita dúvida” a respeito das versões de delatores da Lava Jato, como os empresários Marcelo e Emílio Odebrecht, de que a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, falecida em fevereiro de 2017, pediu para que a empreiteira assumisse as obras no sítio diante de atrasos nos trabalhos de uma equipe contratada pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), a Odebrecht gastou 700.000 reais em obras no sítio. A existência do sítio de Atibaia e os favores da Odebrecht a Lula foram reveladas em 2015 por VEJA.

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“Eu tenho muita dúvida se a dona Marisa pediu pra fazer reforma, como ela não está aqui para se explicar, eu fico com a minha dúvida”, disse.

Diante de citações feitas por Gabriela de que tanto Bumlai quanto o ex-assessor presidencial Rogério Aurélio Pimentel relataram em seus depoimentos terem ido ao sítio de Atibaia com Marisa, o ex-presidente declarou que “agora fica fácil citar o nome de dona Marisa porque ela morreu”. “Não acredito que a dona Marisa tivesse relação para pedir para uma empresa fazer obras”, completou.

“A Marisa não tinha, no meu conhecimento, nenhuma relação com a Odebrecht”, declarou o ex-presidente. Ele afirmou que quando conheceu o sítio, no dia 15 de janeiro de 2011, as obras já estavam concluídas. “A única coisa que eu tenho tranquilidade de dizer que eu não sei quanto custou, quanto gastou, quem fez, porque fez e o que fez, quem pode dizer isso é o dono do sítio”, disse.

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Pimentel, que teve cargo de confiança junto à Presidência da República entre 2003 e 2011, admitiu em depoimento na última segunda-feira, 12, que fez pagamentos a fornecedores das obras no sítio. Ele recebia envelopes com dinheiro vivo do engenheiro da Odebrecht Frederico Barbosa, que por sua vez recebia os valores de Emyr Diniz Costa Júnior, outro engenheiro da empreiteira. O dinheiro entregue a Costa era retirado do setor de propinas da Odebrecht.

Já sobre Bumlai, que gastou 150.500 reais no início das obras e foi “despedido” por Marisa, Lula afirmou que também nunca questionou o pecuarista sobre o assunto do sítio. “O sítio não era meu e eu não tinha obrigação de perguntar”, respondeu, quando questionado pelo procurador Athayde Ribeiro Costa.

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“Nunca perguntei para o Bumlai e nem pra ninguém. Eu não sou aquele cidadão que entra na casa dos outros e vai abrindo a geladeira. O cara tem a propriedade, o cara me emprestava a propriedade, eu usava a propriedade e vou ficar perguntando o que ele fez? Isso não faz parte do meu comportamento”, ironizou.

Lula não soube explicar porque uma nota fiscal de material para a obra, emitida em nome de Frederico Barbosa, encarregado pela Odebrecht no sítio, foi encontrada pela Polícia Federal em seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP) na 24ª fase da Lava Jato.

Sobre os elementos apresentados pelo MPF de que Lula se comportaria como dono da propriedade, visitando-a com frequência e se hospedando na sede, além de manter lá alguns pertences, como roupas, o ex-presidente disse que era uma “deferência, que recebia tanto lá na chácara quanto recebia no palácio da rainha da Inglaterra, da rainha da suécia, inclusive no Kremlin [sede do governo da Rússia]”.

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Cozinha paga pela OAS

Lula também negou “veementemente” que o PT, por meio do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, tivesse uma “conta geral de propinas” com a OAS, alimentada com dinheiro desviado de contratos públicos, conforme depoimentos do empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira baiana. Segundo Pinheiro, os 170.000 reais usados pela OAS para comprar uma cozinha de luxo para o sítio, em 2014, saíram da suposta conta. Lula classificou como “mentira” a afirmação de que pediu pelos equipamentos.

O petista alegou à juíza que não sabe porque Léo Pinheiro e o arquiteto Paulo Gordilho, também da empreiteira, ofereceram “um pacote de mobília para a cozinha”. Lula relatou que eles disseram que seria algo “muito barato”. “A dona Marisa se recusou, dizendo que ela tinha as coisas prontas. Mas foi feito [a cozinha]. Se foi feito, eu trabalho com a ideia de que alguém pagou. Ou a Marisa ou o Fernando Bittar [dono formal do sítio] pagaram”, concluiu.

Quando a magistrada disse que Bittar declarou em depoimento que não pagou pela cozinha, o ex-presidente disse que não sabe se Marisa pagou, mas que confia plenamente na ex-primeira-dama. “Se ela não pagou é porque alguém convenceu ela que não precisava receber”, argumentou. “Eu não paguei porque não conversei com ele [Léo Pinheiro] sobre isso”, disse Lula.

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Indagado pela juíza federal se não estranhava que uma grande empreiteira com negócios em estatais e no governo oferecesse uma cozinha à sua mulher, Lula respondeu que não. “Não era uma grande empreiteira fazendo uma reforma, era uma pessoa com quem eu tinha relação há mais de 20 anos fazendo uma coisa sem dizer, sem falar de caixa geral, e acho que ele tinha cobrado, ou ele ou a empresa que fornece”.

“Nunca ninguém disse pagamos ou não pagamos, recebeu ou não recebeu”, disse.

Defesa de Lula

Por meio de nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirma que o ex-presidente “rebateu ponto a ponto as infundadas acusações do Ministério Público em seu depoimento, reforçando que durante o seu governo foram tomadas inúmeras providências voltadas ao combate à corrupção e ao controle da gestão pública e que nenhum ato de corrupção ocorrido na Petrobras foi detectado e levado ao seu conhecimento”.

“Embora o Ministério Público Federal tenha distribuído a ação penal à Lava Jato de Curitiba sob a afirmação de que 9 contratos específicos da Petrobras e subsidiárias teriam gerado vantagens indevidas, nenhuma pergunta foi dirigida a Lula pelos Procuradores da República presentes à audiência”, diz Zanin, para quem os contratos foram um “pretexto”.

A nota da defesa do petista afirma ainda que “o depoimento prestado pelo ex-Presidente Lula também reforçou sua indignação por estar preso sem ter cometido qualquer crime e por estar sofrendo uma perseguição judicial por motivação política materializada em diversas acusações ofensivas e despropositadas para alguém que governou atendendo exclusivamente aos interesses do país”.

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