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Líder do Livres: Bolsonaro é incompatível com ideia de liberdade

Paulo Gontijo, presidente interino de grupo que deixou PSL após legenda fechar com pré-candidato à Presidência, diz que sigla agiu por pragmatismo eleitoral

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 jan 2018, 11h48 - Publicado em 9 jan 2018, 22h31

Jair Bolsonaro  não é liberal e defende valores que ameaçam as liberdades civis. A opinião é do publicitário Paulo Gontijo, presidente interino do Livres, movimento que decidiu deixar o PSL após o acordo para que o deputado federal, que irá deixar o PSC, dispute a Presidência da República pelo partido na eleição deste ano. Com o grupo, vão embora os presidentes de doze dos 27 diretórios estaduais (incluindo Gontijo, que estava à frente da legenda no Rio de Janeiro), pré-candidatos às eleições de 2018 e intelectuais alinhados com o discurso liberal.

Gontijo reconhece que o agora futuro partido de Bolsonaro fazia parte de uma estratégia do Livres para pegar um atalho no demorado caminho que é criar, do zero, uma legenda. Sobre o rompimento, diz que não houve nem sequer um contato da direção do PSL e que o Livres só ficou sabendo do acordo com o deputado por meio das redes sociais. Ele faz questão de dizer, no entanto, que o grupo não era minoritário na legenda, versão classificada por ele como “mentirosa e deselegante”. “Não éramos um grupo pequeno. Um grupo pequeno não controla doze diretórios, comanda programa de TV e orienta toda a comunicação de um partido.”

Em entrevista a VEJA, ele diz não querer “personalizar” o conflito com o presidente do PSL, o deputado suplente Luciano Bivar (PE), pai de um dos fundadores do movimento, Sérgio Bivar, e supõe que o dirigente agiu por “pragmatismo eleitoral”. Agora, Gontijo reflete sobre o futuro do movimento e diz que o Livres recebeu elogios de representantes de cinco partidos, entre eles o Novo e o PSDB.

O que é o Livres? É um movimento político liberal que defende ações políticas que juntem liberdade econômica com liberdade civil. E ele surgiu como um movimento de renovação incubado dentro do PSL, com a ideia de transformar o partido em uma legenda cuja prática fosse alinhada às suas ideias.

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Como essa ‘incubação’ funcionaria e por que o PSL? Nós tínhamos uma oportunidade clara, que era formar o nosso projeto em um partido já existente. As outras alternativas eram entrar em uma legenda maior, com estruturas mais definidas, ou fundar uma do zero, o que é muito demorado. A opção de ingressar no PSL era a possibilidade de crescer rápido em uma sigla que não era tão estruturada internamente.

A decisão de atrair Bolsonaro foi de Luciano Bivar, presidente do PSL. A impressão que fica é a de que o Livres talvez não tivesse a força que dizia ter dentro do partido. O Livres foi gradualmente crescendo, a ponto de chegar a ocupar doze diretórios do PSL e a ponto de todos os programas de televisão do partido em 2017 serem sobre o Livres. Claro que tínhamos resistência do velho PSL em alguns estados, mas estávamos crescendo. Agora, a estrutura partidária do Brasil é muito centralizada nas mãos dos presidentes, a ponto de projetos como o nosso serem comprometidos facilmente. São dois os fatores que tornaram inviável a nossa permanência. Um é o fato de Bolsonaro ser o Bolsonaro e não estar de acordo com os valores do Livres; outro é a forma como a negociação foi conduzida.

Você fala de “Bolsonaro ser o Bolsonaro”. O que isso significa? Por que ele, que tem se definido como liberal, é incompatível com o Livres? Primeiro, o desalinhamento nos dois campos de liberdade: o econômico e o civil. Apesar de ele querer criar um verniz de liberal, Bolsonaro não demonstrou consistentemente nenhuma capacidade de gerir uma economia menos centralizada no estado. E a outra são os costumes e liberdades civis. No voto mais importante da vida dele [no impeachment de Dilma Rousseff], Bolsonaro homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra [que dirigiu o DOI-Codi durante a ditadura militar], por exemplo. É incompatível com a ideia de liberdade. Esses dois campos que eu citei são fundamentais para entender por que o Livres e ele são incompatíveis. Todo o autoritarismo que ele tem professado e deixado transpassar não são coerentes com o que defendemos.

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Se a direção do PSL estava alinhada com o Livres, por que agiu dessa forma e fechou com Bolsonaro? Acredito que tem um cálculo de pragmatismo eleitoral, pensando em projeção de votos e em superar a cláusula de barreira. Sinto que isso tenha sido feito destruindo um trabalho de dois anos, que transformava o PSL em um partido de verdade e não em plataforma para caçar votos desconexos. Entendo que é muito tentador ter alguém puxando votos para uma legenda com o potencial que Bolsonaro tem. É a vitória de uma perspectiva imediata sobre um projeto de longo prazo. É importante ressaltar que tínhamos um projeto político, que teríamos a filiação de deputados e que seríamos capazes de superar a cláusula de barreira já de largada. Por pragmatismo eleitoral, passou-se de um projeto que alcançaria a cláusula de barreira por um em que a perspectiva é maior em termos de voto, mas muito menor em coerência.

“No voto mais importante da vida dele [no impeachment de Dilma Rousseff], Bolsonaro homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra [que dirigiu o DOI-Codi durante a ditadura militar]. Isso é incompatível com a ideia de liberdade”

 

Como vocês ficaram sabendo do acordo? A direção do PSL esperava que vocês ficassem? Eu não sei o que eles esperavam porque não se manifestaram sobre isso oficialmente. É claro que ficamos sabendo nos bastidores que Luciano encontraria Bolsonaro, mas que eles haviam fechado um acordo só ficamos sabendo através da imprensa e das redes sociais. A certeza oficial veio com o comunicado assinado pelos dois. Antes ainda, já tínhamos ficado sabendo e decidido que, confirmada a vinda de Bolsonaro, estaríamos fora. Não quero personalizar nem transformar a saída do Livres em um drama pessoal de A contra B. Só tem uma coisa que realmente me incomoda no que está sendo dito: a tentativa de construir a narrativa de que o Livres era um movimento minoritário. Isso não é verdade. Não éramos um grupo pequeno: nenhum grupo pequeno controla doze de 27 estados, comanda o programa de TV, pauta a comunicação do partido, traz alguém como a Elena Landau [economista que integrou a equipe do Plano Real] para sua fundação. Um dos pontos mais importantes para mim é combater a narrativa de que o Livres era mais um, um grupo pequeno, o grupo dos meninos. Essa fala não é elegante e não é verdadeira.

“Sinto que isso [acordo com Bolsonaro] tenha sido feito destruindo um trabalho de dois anos, que transformava o PSL em um partido de verdade e não em plataforma para caçar votos desconexos”

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Qual é a vida para o movimento fora do PSL? Já estão programados os próximos passos? Temos percebido um grande sentido de grupo nas pessoas. Todo mundo se sentiu, como grupo, incomodado com a situação e decidido a manter a unidade. É reconfortante e animador. Nós ainda não temos nada definido. Isso ocorreu na sexta-feira e o final de semana foi o momento de digerir. Agora começam os trâmites de reorganização de lado a lado. Vamos escutar com mais calma os contatos de outros partidos, olhar com mais calma para a base, para os estados e tomar uma decisão baseado nisso. Reclamamos de autoritarismo e, portanto, agora queremos tomar uma decisão olhando para os grupos políticos que trazemos, sendo democráticos no processo, escutando as pessoas.

Jair Bolsonaro e Luciano Bivar
O deputado federal Jair Bolsonaro e o presidente do PSL, Luciano Bivar (PSL/Divulgação)

Mas vocês já foram convidados por algum partido? Recebemos sondagens e contatos de alguns partidos e estamos tentando entender. Não tivemos nenhum convite formal ainda, mas queremos entender o que essas sondagens significam. O Partido Novo fez um post nos elogiando, nós recebemos elogios de pessoas ligadas ao PSDB, PPS, Rede e Podemos. E agora é o momento de ouvir, refletir para tomar a decisão certa com calma.

Qual é a proposta para o Livres dentro desses partidos? O caso da Rede, abrigada pelo PSB em 2014, é um exemplo a ser levado em conta? Vamos considerar os partidos que nos permitam manter a estabilidade e a autonomia do nosso projeto. O que a Rede e o PSB fizeram em 2014 foi interessante nesse sentido. O que eu não acho comparável é que a aliança desses partidos estava baseada em duas lideranças nacionais, Marina Silva e Eduardo Campos, e envolvia uma chapa nacional, isso é diferente. No nosso caso, o objetivo é criar um espaço para políticas públicas que sejam liberais.

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Criar um partido está no horizonte? Se eu te disser que estamos pendendo para alguma possibilidade, não seria verdadeiro. Temos duas questões para decidir: uma é a eleição de 2018 e a outra é o que vem depois. Precisamos de uma estratégia para este ano. A discussão seguirá depois… se vamos virar um movimento suprapartidário ou o que é que vamos fazer. Fica para depois da eleição.

 

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