“A não extradição de Battisti é uma ofensa grave às instituições italianas”
PublicidadeTrecho de reportagem do II Giornale
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar até o fim desta semana sua decisão sobre o destino do terrorista italiano Cesare Battisti. E a possibilidade de que Lula decida conceder refúgio a Battisti provocou duras reações, nesta quinta-feira, por parte das autoridades italianas. O ministro da Defesa italiano, Ignazio La Russa, afirmou que as relações de seu país com o Brasil ficariam “seriamente abaladas” caso o terrorista não seja extraditado.
“Não se deve imaginar que um ‘não’ à extradição de Battisti seria livre de consequências”, disse La Russa em entrevista ao jornal Corriere della Sera. “Eu consideraria isso um grande dano às relações bilaterais”, completou.
A imprensa italiana dá como cerca a concessão de refúgio ao terrorista pelo governo brasileiro. O Il Giornale, jornal que pertence à família do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, estampou em sua capa a seguinte manchete: “Battisti fica livre para assassinar a justiça”. A publicação ainda afirma que “a não extradição de Battisti é uma ofensa grave às instituições italianas”.
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália, sob acusação de ter cometido quatro assassinatos nos anos 1970. No entanto, ele nunca cumpriu pena. Fugiu para a França, onde viveu até 2004, quando o então presidente do país, Jacques Chirac, se posicionou a favor da extradição. Battisti fugiu de novo e veio parar no Brasil. Em março de 2007, foi preso no Rio de Janeiro e transferido para Brasília. Em 2009, o STF autorizou sua extradição para a Itália e deixou a palavra final ao presidente Lula, que adiou seu posicionamento até o último minuto.
O ministro La Russa classificou ainda como “falta de coragem” a demora de Lula em anunciar sua decisão – e fazê-lo pouco antes de deixar o cargo. O presidente já disse que vai levar em consideração o parecer da Advocacia Geral da União (AGU) sobre o futuro de Battisti. Lula esteve reunido com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, na manhã de terça e teria recebido um parecer recomendando a permanência do terrorista no Brasil.
O jornal La Repubblica entrevistou os familiares das vítimas do terrorista, que manifestaram “amargura” com a situação e pretendem organizar um protesto caso o asilo ao terrorista seja confirmado. “Teria sido suficiente pelo menos um sinal de arrependimento”, comentou Adriano Sabbadin, filho de Lino, uma das quatro pessoas assassinadas por Battisti.
Para o jornal Il Messaggero “a piada do asilo político” a Battisti obriga a Itália a adotar medidas para apresentar recursos e continuar solicitando o retorno do terrorista, que é considerado um fugitivo há 30 anos. “A decisão de Lula nem sequer goza de consenso em sua pátria”, destaca o colunista Massimo Martinelli, que garante que o governo da Itália já tem preparados os recursos que apresentará no início de 2011.
(Com agências Reuters e France-Presse)