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Insatisfeitos com Ciro, pedetistas se reunirão para traçar ‘projeto Lula’

Candidatos a governador defendem que melhor caminho seria abrir mão de candidatura presidencial ou, no mínimo, ter garantia de palanques duplos

Por Caio Sartori Atualizado em 28 jan 2022, 20h22 - Publicado em 28 jan 2022, 11h48
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  • Preocupados com a vinculação a uma candidatura presidencial que não dá sinais de empolgação, pré-candidatos a governador pelo PDT de Ciro Gomes marcaram para o dia 4 de fevereiro, em Brasília, uma conversa na qual discutirão os palanques nos estados – especialmente o desejo de se associarem ao petista Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro será na casa do senador Weverton Rocha, do Maranhão, um dos que mais veem como necessário o apoio de Lula para ganhar a eleição. 

    Diálogos entre Rocha, Rodrigo Neves (Rio de Janeiro), Edvaldo Nogueira (Sergipe) e Lígia Feliciano (Paraíba) têm acontecido por telefone, mas os pedetistas sentiram a necessidade de criar essa ocasião presencial – que será realizada duas semanas depois da oficialização da pré-candidatura de Ciro. A ideia é alinhar uma linha de ação e conversar na semana seguinte, em São Paulo, com o próprio Lula, que tem Rocha como principal interlocutor no grupo. 

    Assim como parte da bancada federal do PDT, os pré-candidatos a governos prefeririam que o partido abrisse mão da candidatura presidencial, que consome parcela imensa dos recursos partidários e os vincula a um nome que tem menos de 10% nas pesquisas. Houve até uma cobrança para Ciro chegar a pelo menos 15% antes da janela partidária, em março, e evitar um amplo desembarque de quadros da legenda. 

    Cientes da dificuldade de desmobilizar a campanha de Ciro a essa altura do campeonato, os pedetistas querem pelo menos a garantia de que poderão contar com palanques duplos em seus estados, ou seja, de que a obrigação Ciro não inviabilizará o desejo Lula. A insatisfação no partido, no entanto, também se estende a outros fatores, especialmente no caso de deputados. Alguns preveem um cenário parecido com o que aconteceu com o ex-tucano Geraldo Alckmin em 2018, quando o PSDB apostou suas fichas – ou seja, seu dinheiro – na campanha minguada dele à Presidência da República e acabou elegendo uma bancada pequena na Câmara. 

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    Naquele ano, a direção nacional do PDT injetou R$ 23,3 milhões de verba pública no projeto eleitoral de Ciro, sendo que o total do fundo eleitoral destinado ao partido era de R$ 61,4 milhões. E o saldo foi considerado positivo, já que, na esteira daquela campanha, os trabalhistas conseguiram eleger 28 deputados, tendo seu melhor desempenho para a Câmara desde 1994, quando o presidenciável Leonel Brizola impulsionou a vitória de 34 parlamentares da legenda. Com Lula no páreo, porém, a avaliação é diferente da de quatro anos atrás. O candidato do PT naquela eleição, Fernando Haddad, não tinha a mesma popularidade, e a candidatura do PDT dava mais sinais de empolgação. 

    Na última pesquisa Datafolha, de dezembro do ano passado e divulgada antes da operação da Polícia Federal que atingiu Ciro, ele aparecia com apenas 7%. Há o risco de parlamentares da sigla, cuja bancada soma hoje 25 deputados, migrarem de casa se o candidato não crescer. Lula pontuou 48% na mesma pesquisa; Jair Bolsonaro, 22%; e Sergio Moro, 8%. Os levantamentos têm mostrado que, com Lula no jogo, Ciro tem uma dificuldade imensa de penetração nos setores mais pobres da sociedade, responsáveis pela maioria esmagadora de votos. 

    Nas disputas a governador, a candidatura presidencial do PDT acaba promovendo entraves às articulações locais. No caso do Rio, por exemplo, Rodrigo Neves chegou a se reunir com Lula há cerca de dois meses, mas quem desponta como o apadrinhado do ex-presidente é Marcelo Freixo – do PSB, que já está há meses em conversas complexas com o PT para viabilizar uma costura eleitoral vantajosa. Lula tem consciência das limitações de Freixo, que ainda precisa contornar a rejeição, e isso faz com que adversários do socialista sonhem com a concepção de um palanque que inclua mais de um candidato ao Palácio Guanabara. Além de Neves, o grupo do prefeito Eduardo Paes (PSD), cujo candidato é o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, flerta com o ex-presidente. 

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    O próprio Ciro já deu declarações em que alega ser normal ter palanques duplos em alguns Estados. Citou como exemplo o complexo Maranhão, onde Weverton Rocha tem a certeza de que precisa de Lula no palanque. Se a ideia de que uma terceira via dificilmente se consolidará no País é quase consensual em todos os lugares, ela é ainda maior no Nordeste, principal reduto lulista. No Sergipe, o atual prefeito da capital, o pedetista Edvaldo Nogueira, lidera as pesquisas e tenta ser o candidato de Lula, apesar do PT ter colocado o nome do senador Rogério Carvalho. 

    Presidente do PDT, Carlos Lupi tem batido o pé pela manutenção da candidatura de Ciro. Nos bastidores, contudo, nunca fechou as portas para o petista, com quem mantém conversas reservadas. Oficialmente, todos os pedetistas tentam demonstrar que há normalidade após o lançamento da pré-candidatura. 

    Após a publicação desta reportagem, o senador Weverton Rocha procurou VEJA para se manifestar por meio de uma nota. “É preciso esclarecer que não há insatisfação no PDT com a pré-candidatura de Ciro Gomes, cujo projeto conta com total apoio de todos nós. A reunião que irá acontecer entre os pré-candidatos ao governo tem como objetivo a troca de experiências e ideias para ajudar na construção de propostas de plano de governo e para o fortalecimento do partido”, alegou.

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    O maranhense disse ainda que “há unidade no PDT, único partido da minha vida”, e que os eventuais problemas envolvendo palanques nos estados para os presidenciáveis ocorrem “por conta das alianças que estão sendo construídas com diálogo em torno dos interesses regionais e do Brasil, como é natural da democracia.”

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