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‘Finalmente acertamos o alvo’, diz criador de movimento contra Bolsonaro

Economista Eduardo Moreira cunhou a expressão 'Somos 70%', que ganhou força entre personalidades nas redes sociais e pautou atos contra o governo federal

Por André Siqueira Atualizado em 1 jun 2020, 20h39 - Publicado em 1 jun 2020, 19h38

Os acenos autoritários promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores mobilizaram diversos grupos em defesa da democracia pelo país nos últimos dias. No domingo 31, movimentos que levantavam bandeiras contra o fascismo e a ditadura, entre outros, confrontaram bolsonaristas em Copacabana, no Rio de Janeiro, e na Avenida Paulista, em São Paulo – nesta última, a manifestação foi basicamente formada por torcidas organizadas rivais de futebol e terminou em confronto com a Polícia Militar.

Apesar da articulação ainda prematura dessa frente de oposição ao bolsonarismo, um movimento ganhou força nas redes sociais nos últimos dias, o Somos 70%. O termo, cunhado pelo economista Eduardo Moreira, faz alusão ao percentual da população que avalia o governo Bolsonaro como regular, ruim ou péssimo.

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A hashtag #Somos70Porcento também passou a ser utilizada em resposta à campanha promovida por apoiadores de Bolsonaro, que fizeram posts com a hashtag #Somos57Milhões, em referência ao número de votos recebidos pelo então candidato do PSL nas eleições presidenciais de 2018 contra o petista Fernando Haddad.

Para Eduardo Moreira, a repercussão imediata mostra que “finalmente acertamos o alvo”. Em entrevista a VEJA, o economista afirmou que é um erro se prender à ideia de que atores antagônicos no espectro político devem defender as mesmas ideias para que possa haver uma união contra Bolsonaro. “O movimento não precisa se unir na pauta, na ideologia e nos pleitos. Este é o erro”, afirmou.

Para o economista, a resposta do governo virá através da aproximação cada vez maior com os militares e na truculência das respostas nas redes sociais. “Por isso defendo que as pessoas não recuem. Se há reação, é porque acertamos o alvo”, complementa.

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Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Eduardo Moreira:

Por que o senhor cunhou a expressão “Somos 70%”? Estava participando de uma live e uma pesquisa do Datafolha havia acabado de sair. Na discussão, as pessoas estavam frustradas pelo apoio do governo se manter em 30%, mas, então, os convidei pra uma reflexão: se 30% enxergam positivamente o governo, significa que 70% tinham uma impressão contrária. Ou seja, esta era, de fato a maioria. Naquele comentário, senti que a ficha das pessoas havia caído. Disse a eles que o grande problema, na verdade, era que os 70% se comportavam como se fossem 30% e vice-versa. Foi daí que tudo começou.

Por que esta maioria demorou para se posicionar? O grande empecilho para a formação dessas frentes de oposição está no fato de as pessoas quererem ver o Lula abraçado com o Ciro Gomes, o Flávio Dino com o Luciano Huck. Isso não vai ocorrer. Precisamos sair do personagem e ir para a causa. Temos que deixar os heróis da resistência de lado e ser a causa da resistência. Queremos botar o nome das pessoas, mas, na verdade, o mais legal é que pessoas do Brasil inteiro se mobilizam por uma causa. Eles lutam por países diferentes, são modelos diferentes. Mas se os 70% que não aceitam e rejeitam isso que está no poder hoje se posicionarem sem medo, significa que o jogo virou.

Na avaliação do senhor, porque os 30% dominaram a narrativa até agora? Porque o exército bolsonarista nas redes é volumoso, mas também é agressivo e falso. Por isso eles precisam tanto dos robôs e dos dislikes (“descurtir”, na linguagem das redes sociais). Se essa tática funciona, eles parecem maioria. Se há sucesso nessa empreitada, o outro lado parece ser minoria. E isso se agrava quando o lado que tenta dominar a narrativa lança mão da máquina de assassinato de reputações. Este modus operandi faz as pessoas se calarem.

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“O grande empecilho para a formação dessas frentes de oposição está no fato de as pessoas quererem ver o Lula abraçado com o Ciro, o Dino com o Huck. Isso não vai ocorrer. Eles lutam por países diferentes, são modelos diferentes”

A que o senhor atribui o despertar desses grupos de oposição? Há uma sequência de eventos. A escalada autoritária tem impacto, sim, mas o outro pedaço disso é estarmos vivendo uma pandemia, com milhares de pessoas morrendo, com recordes negativos sendo quebrados diariamente enquanto se vê a reação de um governo insensível. O governo está lá para proteger a vida, para proteger o grupo enquanto nação. Por isso, não é à toa que as manifestações tenham eclodido no final de semana seguinte a esses fatos (recordes no número de novos casos e óbitos notificados). O desrespeito por este grupo faz o terreno fértil para as pessoas abraçarem esta ideia.

Em poucos dias, personalidades distintas aderiram ao movimento, de políticos a artistas como a apresentadora Xuxa Meneghel. O que une um grupo tão difuso? Não há nada mais contagioso do que a coragem. Nos Estados Unidos, você vê o povo bradando contra as injustiças, contra a violência de uma morte covarde como a de George Floyd. Você vê uma jovem como a ambientalista Greta Thunberg se posicionando com eloquência, torcedores rivais marchando, pedindo simplesmente democracia. Eu sinto vontade de estar lá com eles. Esse sentimento une.

O senhor esperava essa repercussão? Fiquei feliz que a minha fala se tornou um movimento. Quando analisei os números do Datafolha, não tinha essa pretensão. Mas pegou porque é algo tangível. Os 70% representam, de fato, a realidade. Somos uma maioria tangível, palpável. É um número que existe. As pesquisas mostram isso: a reprovação à aproximação de Bolsonaro com o Centrão, às propostas de armar a população, a repulsa à fala do ministro Ricardo Salles [Meio Ambiente], sugerindo passar a boiada durante a pandemia. Enfim, esses temas são reprovados aproximadamente pelo mesmo estrato da população, os 70%.

“Somos uma maioria tangível, palpável. É um número que existe. As pesquisas mostram isso”

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De que forma o governo irá reagir aos movimentos contra ele? Já está reagindo. Alguns apoiadores tentam deslegitimar a causa, por exemplo. Mas acredito que a reação será dura. O governo se tornará mais violento, vai passar a atacar as reputações, aumentar a disseminação de fake news. O governo vai querer se aproximar mais dos militares, mas tudo isso tem que ser visto como um sinal positivo: finalmente acertamos o alvo. Se há esta reação, é sinal de que há incômodo.

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