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Fabiano Contarato: ‘Orientação sexual não define competência’

O senador pelo Espírito Santo, filiado à Rede, é declaradamente gay — mas não usa sua sexualidade como bandeira

Por Fabiano Contarato
Atualizado em 15 jul 2019, 12h45 - Publicado em 28 jun 2019, 07h00

Eu nasci filho de pai motorista de ônibus e mãe semianalfabeta, sendo o caçula de seis irmãos. Fui criado em um ambiente católico. Estudei em escola pública a vida toda. Fiz colégio técnico e, com meu salário em uma empresa de engenharia, paguei a faculdade de direito. Aos 24 anos, fui aprovado no concurso para delegado de polícia e conciliei meu cotidiano com a atividade de professor de direito penal. Ambos os trabalhos estão inseridos em ambiente machista e preconceituoso. Só fui ter minha primeira relação homoafetiva aos 27 anos de idade. Antes disso, eu me ajoelhava na igreja e pedia a Deus que meu desejo passasse. Vivia reprimido. Seria cômodo ter uma vida dupla, mas eu não conseguiria olhar para a outra pessoa. Existem várias formas de corrupção, e mentir a uma companheira seria uma delas. Ao contrário do que dizem, a ocasião não faz o ladrão, mas, sim, o revela. Nunca dei abertura para falarem da minha vida, mas não posso afirmar que não tenha sofrido. As pessoas sempre diziam coisas do tipo: “Você é bem-sucedido, onde está a namorada?”. Já escutei demais a frase: “O Contarato é muito inteligente, mas é gay”. Isso é horrível. Fiquei em primeiro lugar no concurso para a Academia Civil, mas nunca fui promovido, porque teria de obedecer a dois critérios: análises de merecimento e de atividade. No quesito merecimento, eu estava no topo. Já na questão de atividade, foi-me dito que eu não tinha “comportamento ou disciplina”. O que seria isso? Era algo sutil. A verdade é que o preconceito é social. É fácil para a minha família, colegas de Congresso e qualquer pessoa me aceitar, mas sempre questiono: essa aceitação é de direito ou mascarada? O preconceito sempre passa pela questão econômica. Jamais saí levantando bandeira sobre a minha vida particular, mas nunca escondi nada. Sou casado com o Rodrigo Groberio, e juntos adotamos o nosso filho, o Gabriel.

O 1,1 milhão de capixabas que votaram em mim sabia da minha orientação sexual. Eles se pautaram pelo meu trabalho de anos como delegado e serviços públicos prestados. Podemos dizer que a sociedade evoluiu. A orientação sexual não define a competência de ninguém. As minhas pautas são amplas. Por ter sido delegado de trânsito, sei como as leis são permissivas, a ponto de um motorista imprudente nunca ir para a prisão. Fico injuriado ao perceber que o presidente Bolsonaro deseja mudar regras como o uso de cadeirinha para criança e eliminar radares. Ao dizer querer acabar com a indústria da multa, ele fortalecerá a indústria da morte. Além da repercussão que haverá no sistema de saúde, a Previdência será afetada com o aumento de pensões por morte e invalidez. Hoje, 50 000 pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito no Brasil e outras 450 000 ficam com sequelas. Apresentei um projeto de lei para que o condutor responsável por acidente com homicídio ou lesão corporal culposo sob influência de álcool e droga vá para a prisão, não possa substituir a pena por pagamento de multa e serviços comunitários, por exemplo. Percebe-se, pelo que defendo, que não faço de minha vida pessoal uma bandeira. E, no entanto, venci a eleição para o Senado sendo alvo de ataques. Algumas pessoas postaram a foto da nossa família e indagaram se aquele era um modelo que o povo queria. Fiquei feliz com a criminalização da homofobia pelo STF. O Legislativo é covarde em não enfrentar pautas sensíveis à vida e aos costumes. O direito não é estático. Em quarenta anos de militância da população LGBTI (e, ressalvo, não sou militante), nenhuma das conquistas foi obtida por lei — elas foram implementadas por determinação jurídica. Foi assim, por exemplo, com o casamento e o direito à adoção e à inclusão do companheiro como dependente no IR.

Depoimento dado a João Batista Jr.

Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641

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