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Ex-presidente da Eletronuclear pediu ‘contribuição política’ para PT e PMDB em Angra 3, diz ex-executivo

Em depoimento no Rio de Janeiro nesta segunda-feira, Rogério Nora de Sá, ex-presidente da Andrade Gutierrez, revelou que os partidos e Othon Luiz Pinheiro da Silva ficavam cada um com 1% dos contratos da empreiteira na construção da usina nuclear

Por Da Redação
25 abr 2016, 17h30

Em audiência aberta na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro nesta segunda-feira, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Rogério Nora de Sá revelou que o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva, investigado por suposto recebimento de propina no âmbito das obras da usina nuclear de Angra 3, solicitou à empreiteira que fizesse “contribuições políticas” ao PT e ao PMDB a partir da assinatura do contrato de retomada da obra, em 2008. A Andrade é responsável pelas obras de construção civil da usina, hoje suspensas e sob investigação na Operação Lava Jato.

“Pelo que eu entendi, o apoio político para que Othon assumisse (a presidência) veio dos dois partidos, e em troca ele viabilizaria o aporte financeiro para esses partidos”, disse Sá, que presidiu a Construtora Andrade Gutierrez de 2002 até 2011. Othon assumiu a presidência da Eletronuclear em 2005, cerca de três anos antes de o contrato da obra de Angra 3, suspenso desde a década de 80, ser reativado.

Segundo o ex-executivo da empreiteira, houve uma reunião em 2008 para acertar detalhes sobre a assinatura do contrato da obra de Angra 3. Na ocasião, Othon teria defendido a ideia de que houvesse um acordo para contribuições ao PT e ao PMDB, uma vez que “havia compromissos políticos”. Os pagamentos seriam de 1% do contrato para cada partido. “Outro 1% deveria ser para ele (Othon), para que pudesse antever seus projetos. Eu concordei com essa tese, e assim ficou definido. Quando o contrato ficasse pronto, nós contribuiríamos politicamente com PT e PMDB”, afirmou Sá.

Os contatos da Andrade Gutierrez no PMDB, segundo o depoimento, eram os senadores Romero Jucá (RR) e Edison Lobão (MA). No PT, o interlocutor era o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, já condenado pelo juiz Sergio Moro, que conduz a Lava Jato em Curitiba, a 15 anos e 4 meses de prisão. A empresa ainda distribuiu pagamentos a outros integrantes da cúpula da Eletronuclear.

De acordo com Rogério Nora de Sá, Othon teria chegado a pedir que a própria Andrade Gutierrez o apoiasse na corrida pela presidência da estatal. “Mas não tínhamos relações políticas para ajudá-lo”, explicou o ex-executivo, que relatou que a relação do almirante com a construtora já vinha de antes da repactuação do contrato de Angra 3. Antes de 2008, segundo Sá, a Andrade fez pagamentos esporádicos e em espécie a Othon, com valores entre 20.000 reais e 30.000 reais, como “colaboração” para que ele fizesse pesquisas e desenvolvimento de projetos pessoais.

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Esses repasses foram confirmados por Clóvis Peixoto Primo, diretor-geral da Andrade Gutierrez entre 2008 e 2013, que também presta depoimento na tarde de hoje e passou a ser o interlocutor de Othon na empreiteira após substituir Marcos Teixeira no posto. “Essa troca levou Othon a me procurar. Ele perguntou se, com essa mudança, tudo o que havia sido combinado estava mantido. Por coincidência, Clóvis estava em São Paulo (local da reunião) e nós reafirmamos que tudo que havia sido combinado estava mantido”, contou Sá.

Os dois ex-executivos da Andrade Gutierrez afirmaram que os pagamentos não visavam à obtenção de benefícios no âmbito das obras de Angra 3, mas sim à celeridade dos trâmites necessários para a realização da obra. “Era uma obra muito complexa, se não houvesse esforço do cliente, liberação ambiental… isso era fator de risco grande, que aumentaria prejuízo de forma substancial. Na verdade, o objetivo era que não nos prejudicasse em termos de andamento, que não sofresse malefício ou atrasos”, afirmou o ex-presidente da construtora. “A gente pagava para poder garantir os recebimentos de contrato. Não tinha vantagem nenhuma, não, era para não ser prejudicada, para garantir os recebimentos do mês”, disse Primo, negando superfaturamento no contrato.

Ao todo, Primo calcula que a Andrade Gutierrez tenha pago entre 3 milhões e 4 milhões de reais a Othon e montante semelhante dividido entre diretores da Eletronuclear. Nenhum dos executivos estimou o valor repassado a partidos.

(com Estadão Conteúdo)

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