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Estilo discreto de Dilma é desafio para comediantes

Reportagem de VEJA desta semana mostra que, apesar dos traços caricaturais carregados, humoristas não fazem imitações agressivas da presidente

Por Bruno Meier Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 out 2012, 11h10

Irritada com a inflação mensal, que passou de 6%, Dilma Rousseff telefona para o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Não satisfeita em cobri-lo de palavrões, a presidente ainda faz ameaças: “Eu sei onde você mora”, diz. E, em seguida, diante da reação do interlocutor: “Guido, engole esse choro. Você não tem que chorar, tem que resolver”. A cena aparecia, em 2010, em um vídeo amador com um tosco cenário caseiro que tentava reproduzir o gabinete presidencial. Bastou para popularizar, ao estilo viral típico da internet – primeiro pelo YouTube, depois no site de humor Kibe Loco -, um comediante mineiro até então conhecido só em bares de Juiz de Fora, onde fazia shows de stand-up com imitações das cantoras Ana Carolina e Maria Bethânia. “Sempre gostei de imitar mulheres bem femininas”, ironiza Gustavo Mendes, 23 anos. Alçado ao elenco da Globo, o ator trabalhou na novela Cheias de Charme e no Casseta & Planeta Vai Fundo – no qual fez sua versão da presidente, batizada de Dilmandona. Na televisão, Mendes abandonou a linguagem chula que tornava seus esquetes na internet impagáveis. Mas abusa da expressão “no que se refere” e do jeitão duro e direto (ele diz ter se inspirado no Capitão Nascimento, o truculento anti-herói de Tropa de Elite, para compor a personagem). Apesar dos traços caricaturais carregados, não é uma imitação agressiva. Mendes e os outros três humoristas retratados nesta reportagem – dois comediantes televisivos e um satirista das redes sociais – mostram, na verdade, simpatia pelo alvo da paródia. O traço mais enfatizado por eles, aliás, é percebido como qualidade por grande parte do eleitorado: o perfil de mulher austera, durona, que não transige com desvios.

“O fato de Dilma ser discreta facilita a imitação. Há uma curiosidade do público para saber quem é a mulher que está no poder”, afirma Mendes. O contraste com o predecessor, nesse ponto, não poderia ser maior. “Lula, o próprio, era nosso maior competidor”, diz Claudio Manoel, do Casseta & Planeta. Apesar disso, a imitação de Lula por Bussunda – morto em 2006 – era memorável. As melhores paródias dos presidentes anteriores também foram do Casseta: o Viajando (ou, nos momentos acadêmicos, Divagando) Henrique Cardoso, interpretado por Hubert, e o Devagar Franco, por Reinaldo. Hoje, com Dilma no Planalto, há uma concorrência humorística mais renhida. Márvio Lucio, 36 anos, intérprete da Dilma do Chefe, no Pânico na Band, também faz o gênero durona – embora talvez com mais escracho. Sua personagem já passou até cantada no tucano Aécio Neves (não um comediante que imitava Aécio, mas o próprio senador). Ao contrário de Mendes, que considera o estilo low profile da presidente uma chance de maior liberdade interpretativa, Lucio, que também já imitou Lula, se angustia com a circunspecção da mandatária: “Dilma não sai da toca e não se mete em confusão. Lula me dava um leque maior de pautas. Eu fazia a festa com tanto escândalo”, diz. Sua personagem é calcada no período em que Dilma foi ministra de Minas e Energia: “Já estava claro que ela era uma general”. Já Fabiana Karla, 36 anos, a Dil Maquinista do Zorra Total, na Globo, baseou sua imitação na observação atenta de Dilma durante a campanha eleitoral. Dos debates, a humorista absorveu a postura severa, com as mãos cruzadas para trás, e o cacoete de molhar os lábios com a língua. A única comediante mulher a retratar Dilma se diz uma adepta do caco – os momentos em que o humorista improvisa suas falas. No entanto, para fazer Dil Maquinista, atém-se rigorosamente ao texto, pois receia interpretações políticas indesejáveis. “Qualquer palavra ou entonação diferente pode dar outra conotação, pela qual não quero ser responsável”, diz. A personagem de Zorra Total é a mais suave das Dilmas televisivas. Fabiana já mandou flores ao Planalto, pelo aniversário de Dilma Rousseff – e a presidente retribuiu com mais flores e uma cartinha de Natal para a atriz.

Dilma Bolada

Jeferson Monteiro, com 75 000 seguidores no Facebook e 62 000 no Twitter

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Criado por um estudante de administração de 22 anos, esse perfil social não oficial apresenta uma Dilma brincalhona (#dilmoleka é sua hashtag favorita) e muito, muito convencida. “Sou linda, sou diva, sou Presidenta. Sou Dilma!”, diz, na apresentação de sua página no Facebook. Adora esnobar a colega Cristina Kirchner, da Argentina

A versão cômica mais original está não na TV, mas nas redes sociais. O estudante carioca de administração Jeferson Monteiro, 22 anos, criou a Dilma Bolada, seguida por mais de 100 000 pessoas no Facebook e no Twitter. Por “bolada”, entenda-se cheia de si: na contramão do estilo reservado, essa falsa Dilma adora contar vantagem. Pontua seus textos — todos muito breves, como manda a etiqueta das redes sociais — com exclamações do tipo “Eta presidenta maravilhosa!”. Dilma Bolada tem um cachorro, Boladinho, e transformou Marcela Temer — a estonteante mulher do vice, Michel Temer, que roubou a cena na posse presidencial — em sua doméstica. O sucesso do perfil ajudou Monteiro a conseguir um emprego em uma produtora de filmes, na função de agitar as mídias sociais. Mas ele ainda parece dispor de muito tempo livre: acompanha de forma exaustiva a agenda presidencial. O autoelogio hiperbólico de Dilma Bolada até funciona como crítica ao pendor promocional dos governos petistas, com seu “nunca antes neste país”. Mas ainda é, no fundo, humor a favor. “Tento passar o lado gestora da Dilma e deixá-la mais simpática e popular”, diz Monteiro. Dilma é diva.

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