Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Especialistas veem ‘fragilidade’ em flertes autoritários do governo

Para cientistas políticos, aceno ao uso da força e de instrumentos de repressão denotam temor de protestos por causa de má avaliação da gestão Bolsonaro

Por Leonardo Lellis Atualizado em 30 nov 2019, 08h00 - Publicado em 30 nov 2019, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Os últimos rompantes autoritários do governo de Jair Bolsonaro, materializados em reincidentes flertes com o AI-5, denotam, na avaliação de especialistas, alguma fragilidade do governo. Os cientistas políticos José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo, e Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco, concordam que o temor de protestos faz com o que o governo passe a cogitar o uso de mecanismos de força já repelidos pela implantação da democracia. Mais: a polarização interessa a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Publicidade

    O último aceno ao ato institucional que endureceu o regime militar que governou o país entre 1964 e 1985 veio do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Não se assustem se alguém então pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?”, afirmou quando questionado sobre as convocações de Lula para protestos. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, já havia colocado o ato ditatorial como uma resposta a uma eventual “radicalização” da esquerda ao avaliar a situação do Chile, onde protestos contra o governo tomaram as ruas.

    Publicidade

    “Internamente, o governo avalia que a probabilidade de manifestação é grande dado o seu desempenho. Ele não resolveu a questão do desemprego, por exemplo”, teoriza Moisés. “Nenhum governo que não tenho medo de manifestações fica levantando uma bandeira de que se elas acontecerem pode haver repressão”, conclui.

    Para Oliveira, a saída de Lula da prisão contribui para o Palácio do Planalto sentir-se ameaçado por protestos. “O governo receia manifestações. Bolsonaro quer que a prisão em segunda instância volte ao debate para impedir qualquer chance de Lula ser candidato em 2022 e ele também quer a polarização, mas sem pagar pra ver e correr risco de perder a eleição”, avalia o professor da UFPE. E não correr risco, na avaliação dele, inclui a implantação de operações de garantia de lei e da ordem (GLO) para reprimir protestos.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Ambos também concordam que há dificuldade do governo em se adequar à convivência democrática — que naturalmente inclui críticas e protestos. “As manifestações são normais porque há alta no desemprego, o sistema de saúde é ruim. Os resquícios de 2013 ainda continuam presentes no país. Qual é a razão de não ocorrer manifestações?”, indaga Oliveira.

    A partir do que considera “mentalidade autoritária” do governo, Moisés avalia que as declarações alusivas ao período militar podem ainda ser vistas como provocações. “Essas seguidas menções ao AI-5 podem significar um preparo psicológico da opinião pública para a adoção de medidas muito graves, se eles considerarem que isso pode se justificar por razões da lógica interna no funcionamento desse governo”, diz.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    A diferença na avaliação dos dois especialistas está em qual personagem alimenta a radicalização do outro. “Quando aparece o Lula com uma retórica extremamente agressiva contra o governo, especialmente contra Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e Sergio Moro [ministro da Justiça], ele dá um recurso de poder para o presidente, que é o de retomar a polarização e dizer quem é seu inimigo”, afirma Moisés.

    Já Oliveira considera que Bolsonaro foi quem mordeu a isca lançada pelo petista em seus discursos após 580 dias preso. “A própria radicalização do presidente pode sugerir que parte de seus eleitores volte ao lulismo”, afirma o cientista político. Moisés também vê interesse de Bolsonaro em manter a polarização para recuperar um apoio que vinha se corroendo com a indicação de Eduardo à embaixada brasileira em Washington, o aumento do desmatamento na Amazônia ou o vazamento de petróleo em praias do Nordeste. 

    Publicidade

    “Lula só tem uma salvação: sufocar a oposição e não dar vez a ela e, consequentemente, sufocar o centro. A polarização interessa aos dois. Ou Lula polariza com Bolsonaro, ou ele não tem chance”, acrescenta Oliveira, que vê nas eleições municipais de 2020 o grande teste para medir a força do lulismo e do bolsonarismo. Convém à democracia que a melhor resposta ao radicalismo e ao autoritarismo esteja no sufrágio universal.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.