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Ensaio para o Planalto

Com a filiação ao PSDB do deputado estadual Carlos Roberto Osório, ex-aliado do prefeito Eduardo Paes, o tucanato tenta ganhar envergadura no Rio já com os olhos na sucessão em Brasília

Por Da Redação 2 mar 2016, 18h13

Há apenas quatro meses, a disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro não animava nem conversa de motorista de táxi, categoria sabidamente empolgada com o assunto. Imaginava-se que o prefeito Eduardo Paes, do PMDB, bem avaliado nas pesquisas e com uma Olimpíada para chamar de sua, elegeria sem tropeços seu candidato e braço direito, o deputado federal Pedro Paulo Carvalho. No curto período entre novembro e fevereiro, a situação mudou. Pedro Paulo sofre o desgaste de ser alvo de um inquérito por agressão à ex-mulher, e os adversários se multiplicaram. Agora, a entrada de um nome novo veio embaralhar ainda mais o exercício das previsões: Carlos Roberto Osório, ex-quadro do próprio governo Paes e ex-secretário estadual dos Transportes, filiou-se ao PSDB em cerimônia com toda a pompa em Brasília, apadrinhado por Aécio Neves em pessoa, e tornou-se a chance de os tucanos enfim pousarem com firmeza no Rio. A briga pela prefeitura carioca caminha para extrapolar os limites da cidade e confrontar, dois anos antes da sucessão de Dilma Rousseff, o poder de fogo de Aécio e Paes, ambos potenciais presidenciáveis.

Terceiro maior colégio eleitoral do Brasil, o Rio não é governado pelo PSDB desde os tempos de Marcello Alencar, prefeito por dois mandatos nos anos 1980 e governador entre 1995 e 1998. Na última eleição para a prefeitura carioca, em 2012, o tucano Otávio Leite teve menos de 3% dos votos. Com Osório, nome com cacife suficiente para ter sido até visto por uma ala do PMDB como alternativa ao desgastado Pedro Paulo, o alto tucanato enxerga um caminho para ganhar envergadura. “A chegada de Osório, com seu conhecimento do Rio e experiência de gestão pública, dá novo vigor ao partido”, avaliou Aécio a VEJA.

De seu lado do ringue, o prefeito Paes, sempre atento à ainda distante sucessão em Brasília, reclama do que afirma ser um excesso de preocupação do PSDB com sua eventual candidatura presidencial. “Já falei que não sou adversário deles em 2018, que não sairei presidente. Aí vem turista querendo transformar a prefeitura em disputa nacional”, disse a VEJA, alfinetando tanto Aécio quanto Marina Silva, que também pretende turbinar no Rio a candidatura do deputado federal Alessandro Molon, da Rede. A possibilidade de um pré-candidato tucano forte, por sinal, não foi a única má notícia no embate municipal para Paes na semana passada. Com bom desempenho na última eleição estadual, o ex-ministro Marcelo Crivella, em primeiro lugar nas pesquisas preliminares, selou acordo com o senador Romário Faria — a quem o prefeito havia dado uma secretaria para ter do seu lado — e vai se mudar esta semana do PRB para o PSB do ex-jogador. Sobrinho do bispo Edir Macedo, pretende assim reduzir sua rejeição entre eleitores não evangélicos.

Prova da dimensão da aposta do PSDB na candidatura de Osório é o plano traçado por Aécio Neves para 2016: ele priorizará, com presença e apoio intensos, as campanhas nos dois redutos onde sofreu derrotas importantes na eleição presidencial, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A definição do candidato carioca, ainda não oficializada, é um passo essencial neste processo, mas Aécio terá muito trabalho pela frente. Nascido na elite da Zona Sul e ainda novato na política, Osório é pouco conhecido no eleitorado principalmente das zonas Norte e Oeste da cidade, que concentram mais de 60% dos votos.

Aos 50 anos, o ex-secretário ostenta um eclético currículo profissional que inclui passagens pelo canal de notícias CNN e pela cervejaria Brahma. Foi casado por vinte anos e tem dois filhos com Anna Vitória, filha de Jorge Paulo Lemann, dono da Ambev. Sua trajetória mais longa deu-se no Comitê Olímpico Brasileiro (COB), onde virou braço direito do presidente Carlos Nuzman e onde conheceu o prefeito, de quem se aproximou primeiro na campanha para o Rio sediar os Jogos Pan Americanos (Paes era então secretário dos Esportes) e, mais ainda, na candidatura para receber a Olimpíada. Este elo o fez aceitar o convite para compor a equipe de Paes em 2010. Teve, de início, prestígio e visibilidade na secretaria de Conservação, onde era uma espécie de zelador da cidade, que percorria diariamente para resolver problemas. “Não ficava no ar condicionado, como Pedro Paulo. Ia para a rua mesmo”, comentou em entrevista a VEJA.

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Já nesta época passou pela primeira decepção com seu padrinho político: em uma mesma semana, Paes o colocou em sua lista de candidatos a deputado federal pelo PMDB e em seguida o rebaixou para deputado estadual, alegando que sua presença podia prejudicar outros nomes — um deles justamente o de Pedro Paulo. Depois disso, Osório foi vendo seu voo político perder impulso. Foi removido para a problemática secretaria municipal de Transportes e, no ano passado, afastou-se de Paes ao aceitar a transferência para a mesma secretaria, só que no governo estadual. Falante, articulado e desenvolto em público — em frase famosa, o governador Luiz Fernando Pezão brincou que, “se abrir a geladeira, ele acha que é flash e faz pose” –, Osório avalia, sem modéstia, que o bom desempenho no trabalho e a vontade de subir de patamar lhe renderam desafetos que acabaram minando o projeto de crescer no PMDB.

Sentindo seu espaço encolhido, iniciou em janeiro a aproximação com o PSDB – ajudado por tucanos cariocas como o empresário Alexandre Accioly e o técnico Bernardinho — que resultou na filiação na semana passada. Ele relata que o primeiro a ser comunicado da troca de partido foi Paes, com quem almoçou no exato dia em que o Comitê Olímpico Internacional (COI) recebeu um email do prefeito alertando para atrasos na extensão do metrô, obra vital para a Olimpíada. O email vazou e Osório, ainda secretário dos Transportes e responsável pela obra, acabou exonerado do governo Pezão no domingo, 21.

Três dias depois, já fora inclusive do partido, Osório deu mostras do posicionamento que buscará nesta tão intrincada disputa. Primeiro, fará críticas à aliança do PMDB fluminense com o governo Dilma: “Não concordo com a visão de Brasil do PT”, falou na entrevista a VEJA. Ele diz ter convicção de que não terá dificuldade em popularizar sua imagem: “Tenho certeza que não vai colar em mim a pecha do candidato riquinho. Todos os garis do Rio me conhecem”. Na iminência de eleições animadas, com no mínimo três potenciais candidatos fortes além de Pedro Paulo e Osório, não vai faltar assunto aos taxistas.

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