Eram 23h54 de domingo, 5, quando tocou o telefone no diretório nacional do PT, em São Paulo. Do outro lado da linha, representantes do PCdoB afirmavam que o partido tinha aceito a proposta petista e estava informando à Justiça Eleitoral da retirada da candidatura de Manuela D’Ávila, para a formalização de uma coligação com o PT, o Pros e o PCO em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A pressa dos petistas para fazer o mesmo e incluir o PCdoB em suas deliberações tinha uma razão de ser: técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entenderam, durante a última semana, que à zero hora desta segunda-feira — após o período de convenções, portanto — não seria mais possível indicar vice nem incluir coligações.
Resolvidos os trâmites burocráticos, dirigentes das legendas fizeram um anúncio conjunto. A candidata a vice do PT será Manuela, mas, até que a situação jurídica do ex-presidente esteja “regularizada”, o nome que será registrado é o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O discurso é que, escalado como “representante” de Lula, Haddad precisará estar registrado como vice para ter a legitimidade de falar em nome da candidatura.
Na prática, a escolha de “dois vices” é a preparação para um anúncio que deve vir no próximo mês, quando a candidatura de Lula provavelmente será barrada na Justiça Eleitoral, uma vez que ele foi condenado em segunda instância e, portanto, se enquadra na Lei da Ficha Limpa. Nesse momento, o PT deve promover Haddad para a cabeça de chapa e incluir Manuela como sua candidata a vice-presidente.
O anúncio dos petistas encerra a longa novela que marcou a escolha do vice nas chapas presidenciais de 2018. Além de Haddad/Manuela com Lula, foram conhecidos neste domingo os companheiros de candidatura de Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB) e Jair Bolsonaro (PSL), que serão, respectivamente, a senadora Kátia Abreu (PDT), o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB) e o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB).
A escolha não representou, para Ciro e Meirelles, a aquisição de uma nova aliança. Como ambos são de partidos tradicionais e fecharam apenas coligação com legendas muito menores (Ciro com o Avante; Meirelles com o PHS), a opção por uma solução caseira foi natural. O PDT ainda tinha esperança de romper a neutralidade do PSB, mas, diante da impossibilidade desse acerto, escolheu o nome de Kátia, ex-ministra da Agricultura no governo de Dilma Rousseff (PT).
Já Meirelles e o MDB, antes de buscarem Rigotto, sondaram a ex-prefeita e senadora Marta Suplicy sobre a possibilidade. Na sexta, Marta anunciou que não disputaria a eleição para nenhum cargo neste ano e que estava se desfiliando do MDB. Com a recusa, o nome do ex-governador surgiu como alternativa para a candidatura do partido.
Além do PDT e do MDB, dois nanicos anunciaram no fim de semana chapas puras: o Patriota lançou como candidato à Presidência o deputado federal pelo Rio de Janeiro Cabo Daciolo (cuja vice será a pedagoga Suelene Balduino); o PPL vai para a disputa presidencial com João Goulart Filho como cabeça de chapa e o professor Léo Alves para vice.
Bolsonaro
Já com Jair Bolsonaro as coisas foram mais complicadas. Depois que o capitão da reserva recebeu a negativa da advogada Janaina Paschoal, ele passou a considerar como quase certo o nome do empresário Luiz Philippe de Orleans e Bragança, conhecido como “príncipe”, herdeiro da família real brasileira. No entanto, muita gente, inclusive os próprios militantes do PSL, foi surpreendida quando o deputado anunciou no palco da convenção estadual uma coligação com o PRTB, que ocuparia a vaga de vice-presidente na chapa.
Falando com a imprensa após seu primeiro discurso como candidato, o general Mourão confirmou que só soube que seria vice no próprio domingo, após uma ligação de Bolsonaro. Antes da formalização, o PSL e o PRTB, de Levy Fidélix, acertaram alianças para governos estaduais e as candidaturas ao Legislativo. Em São Paulo, por exemplo, Bolsonaro e seu partido apoiarão o advogado Rodrigo Tavares (PRTB), lançado à disputa para governador com a bênção de Fidélix.
Nos capítulos anteriores…
Os demais acertos de vices se dividem em dois grandes grupos: os que bateram o martelo um pouco antes de a água chegar à altura da cintura e os que já haviam resolvido essa questão há mais tempo. No primeiro grupo estão os candidatos que integram o grupo das seis melhores posições nas pesquisas: o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o senador Alvaro Dias (Podemos) e a ex-ministra Marina Silva (Rede).
Alckmin já tinha fechado aliança com oito partidos, mas não conseguia chegar a um acordo sobre um nome que representasse uma dessas legendas até confirmar, na quinta, a senadora gaúcha Ana Amélia (PP) para a vaga. Novos acordos garantiram o vice de Alvaro Dias (que vai para a disputa na companhia do economista Paulo Rabello de Castro, do PSC) e o de Marina Silva (que é o ex-deputado Eduardo Jorge, do PV).
O segundo grupo, o dos precoces, abarca as candidaturas que, desde o lançamento, já planejavam chapa pura, com candidato e vice do mesmo partido. São os casos do Novo (com o ex-banqueiro João Amoêdo e o cientista político Christian Lohbauer), PSOL (com o líder dos sem-teto Guilherme Boulos e a líder indígena Sonia Guajajara) e a Democracia Cristã (com o empresário José Maria Eymael e o pastor Helvio Costa).