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E la nave va

Publicado em VEJA de 13 de março de 2019, edição nº 2625

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 8 mar 2019, 07h00 - Publicado em 8 mar 2019, 07h00

1 O professor Ricardo Vélez Rodríguez anda sem dúvida confuso, depois do remelexo em sua vida que foi a inesperada ascensão a ministro da Educação do governo Bolsonaro. Na hoje famosa entrevista a VEJA, disse que “o brasileiro viajando é um canibal — rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião”. Ora, canibal tem interesse em comer gente (às vezes com a melhor das intenções, como a de absorver as virtudes da pessoa deglutida), não em assentos salva-vidas. Há em sua assertiva um descompasso entre o agente e a ação a ele atribuída. Na mesma entrevista chamou dom João VI de “dom Joãozinho”. Ora, dom João VI nunca foi “dom Joãozinho”, apelido de um seu descendente que é fotógrafo e vive em Paraty. O colombiano Vélez tratava de defender dom João VI da imagem de bobo com que aparece no filme de Carla Camurati, mas, talvez por não ter cursado o ensino fundamental no Brasil, agiu tal o advogado que ainda não decorou o nome do cliente.

2 Fabrício Queiroz, o simpático amigo e quebra-galho da família Bolsonaro, apresentou finalmente ao Ministério Público uma explicação para a orgíaca transfusão de salários entre o pessoal do então deputado Flávio, o Zero Um. Parte do dinheiro escorria para sua conta em razão de uma “desconcentração de remuneração”, resultado do “gerenciamento financeiro dos valores” que executava com o fito de “expandir a atuação parlamentar do deputado”. As expressões são impressionantes. Quiçá até bonitas. Com elas Queiroz vestiu com traje de gala a confissão de que tungava o salário de uns para contratar outros, se é que quis dizer isso mesmo, e se é que agiu mesmo com esse propósito.

Bolsonaro elogiou o corrupto ditador Stroessner e postou vídeo pornográfico

3 A confusão ainda comandava a ação do ministro Vélez Rodríguez quando ele redigiu a carta em que instruía os diretores de escola a perfilar os alunos e fazê-los cantar o Hino Nacional. A carta continha problemas já sobejamente apontados. Pedia que as crianças fossem filmadas e incluía um texto, a ser lido antes da cantoria, cujo fecho era o slogan de campanha de Bolsonaro, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. A primeira exigência feria a privacidade das crianças; a segunda, à maneira dos regimes totalitários, confundia partido, governo e nação. O que não se enfatizou devidamente foi a malversação de hino nacional contida no plano do ministro. Hino nacional é, como champanhe, para ser sorvido em ocasiões especiais. Emociona ouvi-lo em comemoração de vitórias em olimpíadas (ainda mais quando são raras, como as brasileiras) ou num 7 de setembro longe da pátria. Já a obrigação de ser executado antes dos jogos de futebol é exemplo de seu mau uso. A plateia não está nem aí para o hino. Continua a manifestar-se ruidosamente por seu time, enquanto os jogadores, mesmo os que fingem sussurrar a letra, não escondem o tédio. Execuções frequentes por imposição burocrática são a melhor forma de desprestigiar o hino.

4 No último dia de fevereiro o presidente Bolsonaro garantiu, em café da manhã com jornalistas, que seus filhos não mandam no governo. Estava fresca na memória a atuação de Carlos, o Zero Dois, na demissão do ministro Gustavo Bebianno. Naquele mesmo dia o ministro Sergio Moro cancelou o convite à cientista política Ilona Szabó para que integrasse o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do ministério, atribuindo a decisão à “repercussão negativa em alguns segmentos”. Os “segmentos” eram as redes sociais. “Grande dia”, tuitou o filho Eduardo, o Zero Três, festejando a desnomeação. O que temos, em conclusão, é: (1) os filhos não mandam no governo; (2) as redes sociais mandam; (3) os filhos mandam um bocado nas redes sociais.

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5 Não foi a manifestação mais ruidosa do Zero Três. Superou-a seu tuíte no dia da morte do neto do ex-presi­dente Lula: “Quando o parente de outro preso morrer, ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado”. Problemas: (1) a lei permite que qualquer preso compareça ao funeral de parente; (2) a escolta da PF, longe de privilégio, foi um constrangimento para dificultar manifestações em favor do preso; (3) ninguém posa de coitado, nem de coisa alguma, na hora devastadora da perda de um neto de 7 anos.

6 Num intervalo de oito dias Bolsonaro teceu elogios ao corrupto ditador paraguaio Alfredo Stroessner e postou vídeo pornográfico, a título de denunciar o que ocorreria nos blocos de Carnaval. Há controvérsias sobre qual das iniciativas seria a mais chocante.

Publicado em VEJA de 13 de março de 2019, edição nº 2625

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