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“Dr. Hélio brincou com a responsabilidade”, diz prefeito

No comando de Campinas desde a última sexta-feira, Pedro Serafim herdou uma dívida de 280 milhões de reais e um leque de problemas técnicos e políticos

Por André Vargas
26 out 2011, 06h57

O novo prefeito de Campinas, Pedro Serafim (PDT), tem um tremendo problema nas mãos: colocar ordem no caos administrativo que herdou do prefeito cassado, Hélio de Oliveira Santos. Serafim assumiu o cargo na última sexta-feira, 21 de outubro, ao substituir o ex-vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT), igualmente afundado em denúncias de corrupção. Ex-presidente da Câmara Municipal, no primeiro dia do novo emprego deparou-se com uma dívida de 280 milhões de reais. Obrigou-se a atrasar o pagamento de fornecedores da prefeitura para poder quitar os salários dos funcionários municipais.

Colega de partido de Dr. Hélio e integrante da base de sustentação do PT, partido de Vilagra, Serafim não costuma poupar os aliados. Em entrevista ao site de VEJA, o ex-vereador admitiu que os dois antecessores conduziram a administração pessimamente, mesmo com o acesso livre às verbas federais – algo que, aliás, contribuiu com a roubalheira instalada no município paulista. Confira.

Como trazer de volta a Campinas a paz política e institucional? Basta cumprir as determinações legais e constitucionais. A parte constitucional foi oferecida pelo legislativo municipal, a parte Judicial, pelas decisões que sustentam as determinações da Câmara.

O senhor pretende dar uma atenção especial às companhias de saneamento e abastecimento, focos das denúncias de irregularidades? Não vou pensar só na Sanasa ou na Ceasa. Caso permaneça no cargo, quero criar um divisor de águas bem definido entre o “antes” e o “depois”. Vou licitar e contratar uma auditoria independente com acesso a todos os esqueletos guardados dentro dos armários da administração direta e indireta de Campinas. Não tenho ninguém para poupar. Respondo por isso e não posso ser omisso.

O secretariado vai mudar? Passaremos por dois momentos. Primeiro temos que aguardar a decisão da Justiça em acatar ou não o recurso do vice-prefeito petista, Demétrio Vilagra, que está afastado temporariamente. Se acatarem, volto para a Câmara. Caso contrário, continuo na prefeitura.

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O PCdoB saiu da prefeitura e o PT sinaliza com essa possibilidade. O que o senhor pretende fazer? Encaro a minha permanência na prefeitura como uma administração de um dia atrás do outro. Minha única vontade é deixar uma gestão limpa e transparente – melhor do que esta que peguei. Não importa se deixarei isso para o Demétrio ou para outro prefeito.

Mesmo sendo um aliado de Vilagra, o senhor votou pelo afastamento do vice-prefeito e pela cassação do prefeito Hélio? O regimento interno da Câmara Municipal de Campinas exige que, no plenário, o vereador vote quando assuntos de afastamento estão em discussão. Se votasse contra, seria uma demonstração de que concordava com o que estava acontecendo em Campinas. Optei pela saída de ambos.

O senhor vai concorrer à prefeitura em 2012? Antes de pensar nesse assunto, gostaria de terminar meu quarto mandato de vereador, mandar colocar minha foto emoldurada na Câmara e cuidar dos meus negócios privados. Portanto, não posso responder a essa pergunta.

O senhor é do PDT, mesmo partido que o prefeito cassado. Como fica a sua relação com o Dr. Hélio e seus apoiadores? Não tenho contato com ele. Dr. Hélio fez uma grande gestão para Campinas, mas muitos atos geraram inquéritos e uma grande desconfiança. Um prefeito como ele, que tinha mais de 70% de aprovação, tem muita responsabilidade. Dr. Hélio brincou com a responsabilidade delegada a ele pelas urnas. Campinas tinha a esperança de que ele fosse um grande estadista e que, futuramente, pudesse ocupar o governo do estado. Ele decepcionou os eleitores.

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Como fica a relação com o PT do vice-prefeito afastado, Demétrio Vilagra? Uma coisa é o PT que ocupou a prefeitura e outra é o PT formado pelos vereadores na Câmara.

E a oposição na Câmara, que é minoria, mas sabe se mobilizar? As contingências legais e constitucionais me colocaram no cargo de prefeito. Não posso renegar minhas origens. Sou presidente da Câmara e tive quase todo o apoio possível para ser eleito. Fui eleito com 30 dos 33 votos. Só os vereadores do PSDB não votaram em mim. O vereador tucano Valdir Terrazan, que entrou com a ação contra Vilagra, foi o responsável por uma desavença que culminou com a minha saída do PSDB há alguns anos. Veja só a ironia do destino. Quem praticamente me expulsou do partido agora ajudou a me colocar na prefeitura.

Como estão as contas da prefeitura? A situação é muito difícil. Temos um rombo de 280 milhões de reais para um orçamento de quase 3 bilhões de reais. Só que mais de 60% disso é para folha de pagamento e previdência. A primeira parcela do 13º salário não foi paga. Alguém tem que começar a arrumar a casa. Vamos suspender o pagamento dos grandes fornecedores, pois não temos dinheiro para o salário de dezembro. Com essa suspensão, até 28 de dezembro vamos conseguir pagar todos os servidores.

Antes a prefeitura era beneficiada com verbas federais. Onde elas estão? Dr. Hélio administrou Campinas com muito dinheiro federal. Isso é fácil. A cidade reconquistou sua qualidade de vida. Ele tinha ótimos relacionamentos em Brasília e conseguia os recursos. Só que descobrimos que muitos projetos foram malfeitos ou estão com problemas na execução. Temos 16 milhões de reais de verbas para merenda que não podem ser tocados, há verbas perdidas por descumprimento de exigências, temos problemas na área da saúde. Faltou eficiência. Se precisar passar o chapéu, vou pedir até ao governo estadual. Sou humilde o suficiente para isso.

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Não pagar fornecedores é municiar a campanha da oposição? Nem sei se serei candidato. Tenho a vantagem de ter assumido a prefeitura sem ter compromisso com nenhum lado. Se tratarmos da dívida, não atrasaremos mais o pagamento de ninguém.

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