Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Disputa por verbas e cargos provoca as primeiras rusgas no Centrão

Em conflito, dois dos principais partidos da base de apoio de Bolsonaro — o PL e o Progressistas

Por Letícia Casado Atualizado em 13 jun 2021, 08h49 - Publicado em 11 jun 2021, 06h00

Desde a adesão do Centrão à sua base aliada no Congresso, Jair Bolsonaro tem distribuído benesses ao grupo, considerado fundamental para a aprovação de projetos de interesse do governo, sobretudo na área econômica, e também para impedir o avanço de um eventual pedido de impeachment. Em março passado, quando anunciou uma minirreforma ministerial, o presidente entregou ao Centrão o comando da Secretaria de Governo, que cuida, entre outras coisas, da liberação de emendas parlamentares e da nomeação para cargos públicos, justamente os ativos que servem para consolidar a aliança entre as partes. Foi escalada para chefiar a pasta a deputada de primeiro mandato Flávia Arruda. A escolha parecia perfeita, já que Flávia é filiada ao PL de Valdemar Costa Neto, tinha como padrinho o comandante da Câmara, Arthur Lira, do Progressistas, e recebeu o aval do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira, homem da estrita confiança de Bolsonaro. Empossada na presença de próceres do Congresso, a ministra era vista como símbolo da boa relação entre governo e Centrão e da harmonia entre os partidos que integram esse grupo.

DEMANDAS - Arthur Lira: tentando acomodar os interesses conflitantes -
DEMANDAS - Arthur Lira: tentando acomodar os interesses conflitantes – (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Passados menos de quatro meses desde a posse de Flávia, a tal harmonia dentro do Centrão, se existiu, já não é a mesma. Em conversas reservadas, a ministra é alvo de fritura, como ocorre com quase todos os ocupantes desse cargo. Líderes de partido e parlamentares reclamam que indicações para postos na máquina pública combinadas ainda na gestão do antecessor de Flávia, o general Luiz Eduardo Ramos, que foi deslocado para a Casa Civil, ainda não foram formalizadas. Queixam-se também de que certas legendas, como o Progressistas, têm mais emendas liberadas do que outras, inclusive o próprio PL da ministra. Flávia, conforme o relato dos descontentes, não teria força para fazer os ministérios atenderem aos pedidos de cargos e verbas encaminhados por ela. Essa suposta fraqueza pessoal não é o principal problema para o presidente da República. Há outro bem mais grave. Avalistas da escolha da ministra, o Progressistas, que comandou a operação de embarque no governo Bolsonaro, e o PL, que pegou carona na oportunidade, têm entrado em rota de colisão. Um exemplo de disputa entre eles ocorreu na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura.

O PL tinha indicado um nome para a presidência da Conab, que tem um orçamento bilionário neste ano, mas no fim de maio o cargo acabou nas mãos de Guilherme Ribeiro, que é filiado ao Republicanos e próximo do ex-deputado Paulo Maluf, um quadro histórico do Progressistas. Valdemar Costa Neto cobrou Flávia Arruda pelo fato de a legenda dos dois ter sido preterida, deixou clara a sua insatisfação e também fez pressão por outras nomeações que ainda não vingaram, inclusive para diretorias da própria Conab. Progressistas e PL também duelam pelo controle do caixa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujos recursos e capilaridade são considerados grandes trunfos eleitorais. Com orçamento anual de 54 bilhões de reais, o FNDE é utilizado por prefeitos para programas de alimentação e transporte escolar, financiamento de creches e repasses de verbas para matrículas em instituições de ensino. O atual presidente do fundo é Marcelo Lopes da Ponte, que já foi chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, mas o PL de Valdemar Costa Neto pressiona para que um indicado seu assuma o órgão.

**ATENÇÃO** NÃO REUTILIZAR ESTA IMAGEM, SUJEITO A COBRANÇA POR USO INDEVIDO**FOTO EXCLUSIVA PARA A UTILIZAÇÃO APENAS NA REVISTA VEJA**
GULA - Valdemar Costa Neto, do PL: disputa por mais espaço no governo – (Pedro Ladeira/Folhapress/.)

Como é costume em embates desse tipo, os partidos não estão empenhados em implantar suas ideias para a área da educação — se é que elas realmente existem. Os interesses são outros. Em março, uma reportagem de VEJA mostrou que uma diretora do FNDE disse ter sido demitida após alertar o presidente do fundo sobre a irregularidade no repasse de 150 milhões de reais a uma instituição de ensino superior de São Paulo. Segundo o seu relato, Marcelo Lopes — o afilhado de Ciro Nogueira que Valdemar Costa Neto quer substituir — teria abafado o caso porque a falcatrua teria como beneficiários finais caciques políticos. “Se eu denunciasse, ia prejudicar os presidentes do Progressistas e do PL”, declarou a servidora na ocasião, relatando o que teria ouvido de seu antigo superior.

Principal base de apoio de Bolsonaro no Congresso, o Centrão é formado por legendas que sempre marcham ao lado do presidente de turno. E cobram caro por isso. Hoje, seus integrantes querem cargos em estatais do setor elétrico, conhecidas por seus orçamentos bilionários, e reivindicam mais espaço nos ministérios. O líder do Progressistas na Câmara, Ricardo Barros, por exemplo, sonha em voltar ao Ministério da Saúde, pasta que comandou no governo de Michel Temer. Outras legendas, como Republicanos e PTB, fazem lobby pela recriação de ministérios como Trabalho e Desenvolvimento, os quais já comandaram. Além do governismo atávico, o Centrão tem outra característica bem conhecida: dividir-se, nos períodos eleitorais, entre os candidatos favoritos à Presidência, privilegiando obviamente o nome que lidera as pesquisas de intenção de voto. Bolsonaro conhece bem esse histórico. Com passagem por partidos do Centrão, como o próprio Progressistas, o ex-capitão sabe que a parceria só será mantida se as siglas — todas elas — forem devidamente contempladas em suas velhas e conhecidas demandas.

Publicado em VEJA de 16 de junho de 2021, edição nº 2742

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.