A CPI da Pandemia ouviu nesta quinta-feira, 13, o ex-presidente da Pfizer no Brasil Carlos Murillo. Ele comandava a representação brasileira da empresa farmacêutica americana quando se iniciaram as negociações com o governo brasileiro para a compra de vacinas contra a Covid-19.
Em depoimento à CPI na quarta-feira, o ex-secretário de Comunicação Social do governo Fabio Wajngarten confirmou que o contato da Pfizer com autoridades brasileiras se deu no dia 12 de setembro, por meio de carta oficial endereçada à cúpula do governo e do Ministério da Saúde.
Em entrevista a VEJA em outubro de 2020, Murillo relatou que a empresa havia feito uma proposta formal, seguida de uma carta, de fornecimento de vacinas ao governo brasileiro. O executivo afirmou que, até aquele momento, não havia recebido resposta.
O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que se reuniu com a direção da Pfizer no Brasil no dia 22 de fevereiro, em videoconferência junto ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirma que o governo só aderiu à vacina da empresa no dia seguinte a essa reunião, 23 de fevereiro, após a direção da Pfizer convencer o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Membros da CPI da Covid acreditam que, se o governo tivesse aderido à proposta da Pfizer já em setembro, muitas vidas poderiam ter sido salvas pela vacinação antecipada.
O depoimento
Em sua fala inicial, Murillo afirmou que as primeiras reuniões entre a empresa e o governo brasileiro para as negociações de venda das vacinas aconteceram em maio. O executivo explicou que o contato principal era com o Ministério da Saúde, mas que também havia diálogo com outras agências governamentais. O representante da Pfizer citou ainda Fabio Wajngarten, então chefe da Secom, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o então secretário-executivo da pasta da Saúde, Elcio Franco, como interlocutores, sem especificar datas desses contatos.
O representante relatou a primeira oferta formal de venda de doses feita ao Brasil e declarou que a empresa “não teve resposta” do governo brasileiro. Murillo confirmou que uma carta foi enviada pela Pfizer retomando a proposta. A missiva foi endereçada ao presidente Jair Bolsonaro, com cópia para o vice Hamilton Mourão, o ministro da Casa Civil, Braga Netto, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster. A carta também não foi respondida pelas autoridades.
Murillo detalhou as propostas apresentadas ao Brasil desde agosto. No dia 14, a Pfizer fez as primeiras ofertas: a primeira de 30 milhões de doses e a outra de 70 milhões, sendo que 500 mil doses chegariam ao país ainda em 2020. Ao todo, de acordo com o executivo, foram três ofertas em agosto, com atualização do número de vacinas a serem entregues ainda em 2020: 1,5 milhão. Em novembro, houve nova atualização da proposta, para venda de 70 milhões de doses para o Brasil, com entrega a partir do primeiro trimestre de 2021.
O executivo afirmou ainda que o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), segundo filho do presidente Bolsonaro, Filipe Martins, assessor da Presidência, e Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência, participaram de parte da reunião com a diretora Jurídica da Pfizer, Shirley Meschke, no Planalto em 7 de dezembro. Murillo, por sua vez, disse que não esteve na reunião, que foi pedida pela própria empresa e conduzida pelo departamento jurídico para explicar cláusulas do contrato.
CPI da Pandemia
Até o momento, a comissão no Senado já ouviu os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e Fabio Wajngarten. Na próxima semana será a vez do ex-ministro Eduardo Pazuello prestar depoimento, além de outro ex-ministro, o ex-chanceler Ernesto Araújo.
A CPI também pode aprovar nesta semana novos requerimentos. Entre eles, o pedido de Randolfe que solicita a Pazuello o resultado de exame para detecção do coronavírus, motivo do adiamento de sua oitiva. Também deve ser votada a convocação de Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho no Ministério da Saúde. Ela é conhecida por sua posição favorável ao chamado “tratamento precoce” contra a doença, que inclui medicamentos sem comprovação científica.
(Com Agência Senado)