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Advogada diz que Prevent Senior obrigava médicos a receitar ‘kit Covid’

Entre as acusações, está a de que a operadora de saúde fez uso de medicamentos sem eficácia em pacientes com Covid-19

Por Da Redação Atualizado em 1 out 2021, 12h43 - Publicado em 28 set 2021, 10h25

Com requerimento de convocação apresentado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), Bruna Morato, advogada dos médicos que trabalham ou trabalharam na Prevent Senior e que denunciaram a operadora de saúde à CPI da Pandemia, prestou depoimento nesta terça-feira, 28. Os funcionários elaboraram um dossiê entregue à comissão com diversas denúncias sobre o tratamento da empresa aos pacientes com Covid-19, inclusive com a alteração de prontuários.

O depoimento

Ao iniciar seu depoimento, Bruna Morato relatou que ela e seus clientes têm sofrido “ataques infundados” da Prevent Senior e afirmou que os fatos denunciados pelos médicos a deixaram “aterrorizada”. “Falta de autonomia médica, ocultação e manipulação de dados, falta de transparência em relação aos pacientes e falta de respeito em relação à vida das pessoas”, afirmou.

Segundo a advogada, os primeiros relatos que chegaram a ela eram sobre a falta de equipamentos de proteção individuais dentro dos hospitais. Ainda em março, de acordo com a depoente, o problema passou a ser a obrigatoriedade de usar um conjunto de medicamentos.

“Esse kit era composto por oito itens. O plantonista dizia ao paciente: ‘Preciso te dar. Porque se eu não der, posso ser demitido'”, afirmou. Segundo ela, os médicos recomendavam aos pacientes para tomar “só as vitaminas e proteínas” e não tomar os outros medicamentos, pela falta de eficácia e por serem “muito perigosos”.

A advogada confirmou que tentou um acordo com a Prevent Senior, que não seria financeiro, diante das ameaças que os seus clientes estavam sofrendo. Ela afirmou que seus clientes pediram que a empresa tomasse três atitudes.

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Os pedidos eram que a Prevent Senior assumisse publicamente que o estudo sobre “tratamento precoce” foi inconclusivo, além de assumir o protocolo institucional da empresa, deixando claro que os profissionais não tinham autonomia. Os médicos também exigiam que a empresa fizesse um documento se responsabilizando a arcar com custos de possíveis processos vindos de famílias das vítimas.

De acordo com a depoente, a ideologia da empresa sempre foi “lealdade e obediência” e os médicos nunca tiveram autonomia. “Os médicos eram, sim, orientados à prescrição do kit. Esse kit vinha em um pacote fechado e lacrado. Não existia autonomia com relação até a retirada de itens desse kit”, afirmou.

Segundo ela, a receita para os pacientes já vinha pronta e com manual de instruções. Bruna Morato afirmou que, durante a segunda onda, não existia a permissão de fazer determinados exames. “Se prescrevia hidroxicloroquina sem a realização de eletrocardiograma. Existia a dispensação de ivermectina, e o médico não tinha autonomia para retirar esse item”, revelou.

“Os pacientes que utilizavam esses kits eram pacientes que já tinham muitas vezes comorbidades associadas. Então, o conjunto de medicamentos, apesar de ser ineficaz, para aquela população ele se tornava potencialmente letal”, afirmou a advogada.

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A depoente negou declaração do diretor da Prevent, Pedro Batista, de que os médicos tinham autonomia. “Nunca deu [autonomia]. Tanto não dava que esses médicos eram sujeitos a cursos e aulas promovidos pelo Instituto Prevent Senior”, revelou.

“A Prevent tem uma política de coerção. Todos os clientes que resistiam eles foram demitidos da operadora. Existiam aqueles que já tinham sido demitidos e achavam a situação repugnante. Outros que ainda estavam na operadora, eles ainda lutavam pelo bem estar do paciente. Quando eles me procuraram, eles pediram para não ser identificados, porque eles sabiam que se fossem identificados seriam demitidos”, ressaltou. “A Prevent Senior costuma fazer demissões em massa toda vez que algum médico ou circunstância desagrada a instituição”, completou.

Segundo a depoente, no início da pandemia o diretor da Prevent, Pedro Batista Júnior, tentou se aproximar do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que havia criticado a empresa após várias mortes por Covid-19 no hospital Sancta Maggiore, em São Paulo.

Sem êxito na aproximação com Mandetta, a Prevent teria fechado uma “aliança” com um grupo de médicos que assessoravam o governo federal, “totalmente alinhados com o Ministério da Economia”. Esse grupo de médicos seria o chamado “gabinete paralelo”.

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“Existia um interesse do Ministério da Economia para que o país não parasse. Existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo”, denunciou Bruna, que ressaltou nunca ter ouvido o nome do ministro Paulo Guedes nas conversas.

“Eles desenvolveram uma estratégia: através do aconselhamento de médicos, esse médicos eu posso citar de forma nominal – Anthony Wong, Nise Yamaguchi, Paolo Zanotto – e que a Prevent Senior ia entrar para colaborar com essas pessoas. É como se fosse uma troca a qual chamamos na denúncia de pacto, porque assim me foi dito”, afirmou.

Segundo ela, eles tinham que conceder esperança para as pessoas saírem as ruas e havia “alinhamento ideológico”. “Essa esperança tinha um nome: hidroxicloroquina”, acrescentou.

Respondendo a Renan Calheiros sobre o caso específico do médico Anthony Wong, defensor do tratamento precoce que morreu de Covid-19, em janeiro, no hospital da Prevent Senior, a advogada afirmou que não teve acesso “de forma espúria” ao prontuário do paciente.

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“Esses prontuários foram entregues pela própria Prevent Senior ao Conselho Regional de Medicina em um processo injustamente movido contra um médico acusado de vazar essas informações. Consta no prontuário que ele fez uso de hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e colchicina. Esses prontuários já foram disponibilizados pelo Cremesp à CPI”, salientou.

Bruna revelou ainda que Wong ficou internado junto a pacientes com outras doenças numa unidade da rede Prevent Senior não específica para Covid-19. Wong morreu em 15 de janeiro deste ano. A advogada falou também sobre a mãe do empresário Luciano Hang. Segundo ela, Regina Hang recebeu o chamado tratamento preventivo. Ela disse não saber se a família tinha conhecimento deste fato.

Para a depoente, a causa da morte da mãe do bolsonarista foi registrada oficialmente como falência múltipla dos órgãos decorrente de choque hemorrágico. Não houve a informação de que ela havia sido internada inicialmente por Covid-19, infringindo determinação do Ministério da Saúde. Bruna Morato não soube dizer se a omissão no atestado de óbito foi a pedido de alguém. O relator informou que a CPI já tem todos os documentos relativos ao caso, bem como outras informações relevantes.

Sobre a alteração de prontuários de pacientes após 14 dias da entrada na rede hospitalar, Bruna disse que intenção na medida era “para que houvesse uma falsa sensação de sucesso em relação ao tratamento preventivo”. Para ela, o diretor da Prevent Pedro Batista Júnior denunciou suposta violação de prontuários numa “tentativa desesperada de desconstruir a denúncia”.

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A depoente, ao ser questionada pelo senador Humberto Costa, confirmou que médicos e enfermeiros trabalharam mesmo infectados com o novo coronavírus. Segundo ela, a orientação para que os funcionários continuassem no exercício da função mesmo doentes partia da diretoria da Prevent Sernior e acontecia diante da “escassez do corpo clínico”.

Entenda o caso

Em sua oitiva aos senadores, o diretor-executivo da operadora, Pedro Benedito Batista Júnior, afirmou que as acusações feitas pelos médicos são “fraudulentas”, apesar de admitir a alteração do CID (Classificação Internacional de Doença) nos prontuários de pacientes que deram entrada nos hospitais da rede com Covid-19, Bruna Morato promete levar novos documentos à comissão que corroboram as denúncias de uso de medicamento ineficazes, como a hidroxicloroquina, para o tratamento da doença.

A CPI ainda analisa se a Prevent Senior realizou experimentos em pacientes, sem a autorização deles ou mesmo de seus familiares e, inclusive, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), e se os resultados teriam sido usados pelo Ministério da Saúde por meio de um “gabinete paralelo”.

“Eu ouvi relatos de médicos a respeito de questões e fatos que ocorreram durante a pandemia. São esses relatos que eu vou exteriorizar. Todos eles foram fundamentados em provas e documentos que serão levados à CPI. Na verdade, a maioria deles já inclusive está em posse da CPI”, disse a advogada ao Radar. A depoente afirma que a história de seus clientes – 12 médicos no total – é verdadeira e que espera que tudo seja devidamente investigado pelas autoridades.

A advogada disse acusou ainda a Prevent Senior de ter “perseguido alguns de seus clientes”. “Todos eles estão sendo ameaçados e hostilizados, e ainda não sabemos se algum se propõe a depor, se é interessante. É uma dúvida que todos nós temos, inclusive os próprios médicos. A gente feito inúmeras reuniões para tratar a respeito disso, para falar a respeito disso, porque a cada dia que passa eles mudam de denúncia, de ponto. A Prevent Senior vem atacando os clientes, ora dizendo que eles falsificaram provas, ora dizendo que eles não têm ética. Então por conta disso, por conta dessa política de coerção, eu não sei te responder se eu vou estar ou não acompanhada. Vai depender da postura da própria instituição até amanhã”, declarou a advogada.

(com Agência Senado)

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