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“Corrupção é do DNA da nossa cultura política”, diz historiadora

Para autora de livro sobre escândalos do Brasil no período colonial, país sempre foi visto como um lugar onde se podia fazer fortunas

Por Rafael Moraes Moura Atualizado em 12 mar 2022, 14h56 - Publicado em 12 mar 2022, 14h56

“A ideia de que é lícito assaltar o Estado faz parte da nossa cultura há mais de 500 anos”, diz Adriana Romeiro, professora de História do Brasil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do livro Corrupção e poder no Brasil: uma história, séculos XVI a XVIII. O espinhoso tema deve voltar ao centro do debate político na campanha deste ano, ao lado de outra praga que assola o País há mais de quatro séculos – a fome. Tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) apostam em narrativas eleitoreiras para atacar o  que consideram ponto frágil do adversário – e tentar ofuscar, claro, problemas que cada um semeou no período em que ocuparam o poder.

“A gente pode falar de corrupção no Brasil desde o século XVI, desde o momento em que Cabral pisa aqui. É do DNA da nossa cultura política. A corrupção é uma tradição arraigada, mas acredito na possibilidade de mudança, de superar isso”, diz a historiadora a VEJA. O dicionário Houaiss define corrupção como “depravação de hábitos, costumes”, “devassidão”, a disposição de um funcionário público de agir em interesse próprio, sem cumprir suas funções. A origem da palavra está associada ao termo “corruptione”, que significa em latim putrefação e decomposição.

“Desde o momento que o Brasil foi descoberto, foi visto pelos portugueses como um lugar de enriquecimento, onde se podia fazer fortunas facilmente. E isso não só para os governadores, que vinham pra cá, mas a própria população achava que viver no Brasil era uma forma para alcançar fortunas, era um bom negócio”, acrescenta a professora.

Adriana Romeiro aponta que o tema da corrupção vem sendo usado como bandeira política há mais de 80 anos, desde os tempos de Getúlio Vargas – e que volta e meia surgem personagens que prometem erradicar o problema. “Temos de combater a corrupção, mas ela não é uma bandeira política adequada e legítima. Porque eu não conheço ninguém que defenda publicamente a corrupção. O que me parece é que o problema fundamental do Brasil, o que impede o Brasil de ser a nação de primeiro mundo, é a desigualdade social. Esse de fato é o câncer que está no DNA do Brasil. E muitas vezes a corrupção é uma bandeira usada para ocultar essa questão mais central, que é a desigualdade social. A corrupção provoca fome, miséria e desigualdade social.”

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Um dos primeiros registros oficiais de corrupção e enriquecimento ilícito da nossa história vem de 1562, quando um grupo de vereadores da Bahia enviou uma carta para o rei de Portugal, Sebastião I, com críticas contundentes ao então governador-geral do Brasil, Mem de Sá. A administração de Sá foi marcada pela expulsão de franceses da Guanabara e a fundação da cidade do Rio de Janeiro, mas o documento levantava pontos graves que manchavam a reputação do português escolhido para administrar a colônia, que reunia cerca de 15 mil habitantes na época.

O governador era acusado de aproveitar o alto posto para se apropriar da escravização de índios e do comércio de âmbar, uma substância extraída do intestino de baleias com grande valor por conta de suas propriedades medicinais. Ao final da carta, os oficiais da câmara de Salvador chegaram a implorar ao rei que enviasse um novo governador, alguém que “fosse homem fidalgo, virtuoso e que não seja cobiçoso”.  O apelo foi ignorado pela Coroa portuguesa e Mem de Sá continuou no posto. RelacionadasPolíticaRio associa Bolsonaro a combate à corrupção e Lula a emprego e rendaPolíticaOs dois temas que vão dominar embate eleitoral de petistas e bolsonaristasPolítica“Você contrataria um ex-presidiário em sua casa?”

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