“Está parecendo até que é uma determinação do governador para que os policiais compareçam uniformizados à passeata. Eu disse apenas que em países civilizados, como os Estados Unidos e na Europa, representantes de todas as entidades civis ou governamentais têm direito à sua expressão sexual”, disse Sérgio Cabral
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Fardas da polícia e dos bombeiros nas paradas do orgulho gay, no Rio de Janeiro, por enquanto, só as de fantasia. Apesar da “autorização” dada pelo governador Sérgio Cabral, na segunda-feira, para que os agentes de segurança do estado desfilem “fardados e com as viaturas” da corporação, o uso desses elementos para protestos fere os estatutos dessas instituições.
Passada a empolgação do anúncio de Cabral, coube ao comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, colocar ‘água na purpurina’ do governador.
Na manhã desta terça-feira, os dois se encontraram na cerimônia de inauguração da 17ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio, no Complexo de São Carlos. A polêmica foi ignorada durante a solenidade, mas depois veio à tona com as perguntas dos jornalistas. Diplomático, Cabral procurou negar qualquer divergência com o homem forte da PM.
“Achei até engraçado o comunicado do Mario Sérgio. Não é uma divergência minha com o comandante. Está parecendo até que é uma determinação do governador para que os policiais compareçam uniformizados à passeata. Eu disse apenas que em países civilizados, como os Estados Unidos e na Europa, representantes de todas as entidades civis ou governamentais têm direito à sua expressão sexual”, contemporizou o governador.
Cabral justificou sua tese contando que presenciou, em Nova York, uma passeata gay com a participação de policiais uniformizados, usando inclusive viaturas. “Eles estavam representando sua classe, assim como atletas, educadores e membros de todas as profissões. Acho que poderia sim ter uma viatura e alguns policiais. Mas, se existe uma determinação da entidade contrária a isso, que seja cumprida”, recuou.
Já o comandante Mário Sérgio deixou claro que o uso de viaturas e das fardas não está autorizado pelo regimento interno da corporação. “A Polícia Militar apoia todo tipo de manifestação da sociedade, principalmente uma grandiosa como essa. Mas o regimento interno proíbe o uso de uniforme e equipamentos, como viaturas, fora do trabalho. Nós respeitamos a individualidade de cada policial. Ele poderá ir sem uniforme, se estiver fora do horário de trabalho. A PM é uma instituição que respeita e não interfere na orientação de cada um, mas enquanto instituição, a Polícia Militar quer se manter viril”, afirmou.
Nova UPP e armas não-letais – A UPP inaugurada nesta terça-feira atuará no conjunto de favelas formado pelos morros São Carlos, Zinco, Mineira e Querosene. Nela, serão utilizados 250 policiais, sendo 200 homens e 50 mulheres. Em todas as 17 UPPs, já são 3.400 policiais. A meta do governo do estado é, até 2014, aumentar esses números para 40 UPPs e 11.000 policiais.
O evento contou com a participação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que entregou 315 armas não-letais para serem usadas nas UPPS. A estreia do equipamento será feita pelo contingente feminino da UPP São Carlos. As armas, do tipo Taser, liberam uma descarga elétrica que paralisa os músculos do alvo. O objetivo é imobilizar o agressor sem, contudo, colocar a vida dele em risco.
Esse tipo de arma já é adotado pelas forças policiais de mais de 40 países, como Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha e Austrália. O treinamento dos policiais das UPPs ficará a cargo dos integrantes da Força Nacional de Segurança Pública. Em breve, as UPPs receberão uma nova remessa do Ministério da Justiça, com mais 600 unidades. A meta é atingir, nos próximos anos, a entrega de 2.000 armas não-letais no Rio. Em todo o Brasil, o ministério pretende disponibilizar mais de 5.000 equipamentos. O ministro justificou a escolha do Rio para a implementação do projeto.
“O Rio de Janeiro está executando um trabalho sensacional através do Sérgio Cabral e do secretário José Mariano Beltrame. O trabalho das UPPs no Rio é um exemplo para todo o Brasil. Não só para o Brasil, mas também para vários países do mundo. Estou recebendo pedidos de vários países com comunidades em situação de risco, interessados em fazer o intercâmbio e aprender as técnicas do projeto da UPP e das invasões das áreas de risco praticadas pela polícia do Rio”, afirmou Cardozo.