Mesmo antes de aderir oficialmente ao governo de Jair Bolsonaro (PL), o Centrão impõe derrotas a Paulo Guedes, o outrora superministro da Economia. Uma das primeiras delas foi na definição do valor inicial do auxílio emergencial. A equipe econômica sugeriu 200 reais, mas os parlamentares, com a ajuda da oposição, aumentaram para 600 reais, o que contribuiu para que a gestão Bolsonaro fosse considerada ótima ou boa, em dezembro de 2020, por 35% dos entrevistados, segundo pesquisa Ibope divulgada naquela ocasião.
O mais recente revés de Guedes ocorreu no início deste ano, quando o presidente da República determinou que mudanças na execução do Orçamento, como remanejamento ou congelamento de recursos, tenham de ser chancelados previamente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, mandachuva do PP e prócer do Centrão. A ideia é impedir que Guedes segure a liberação, por exemplo, de emendas parlamentares, que são usadas para custear obras nos redutos eleitorais e consideradas essenciais para dar fôlego à imagem do governo.
Fortalecidos, os políticos do Centrão passaram a defender medidas que afrontam a cartilha liberal — e a promessa de Guedes de zelar pelas contas públicas — como forma de impulsionar a avaliação positiva de Bolsonaro. Preocupados com a inflação, aliados do presidente sugeriram nos bastidores, entre outras coisas, congelamento do preço dos combustíveis e da carne e um reajuste do valor do recém-implantado Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família, de 400 reais, na média, para 600 reais.
Essa ofensiva está diretamente relacionada ao desempenho do governo nas pesquisas. A gestão Bolsonaro é reprovada pela metade da população. Já o presidente está em segundo lugar nas pesquisas e seria derrotado por Lula em eventual segundo turno. Oficialmente, o governo não cogita nem o congelamento de preços nem o reajuste do Auxílio Brasil.