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Com blindados da Marinha, começa a ocupação da Rocinha

Polícia e Forças Armadas entraram por volta das 4h. Um ano depois da tomada do Alemão, forças de segurança vão assumir o controle de áreas cercadas por residênciase comércio de luxo

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 nov 2011, 04h26

Operação deve contar com 400 homens das polícias estaduais, PF e Forças Armadas. Quadrilha do traficante Nem teria arsenal com 200 fuzis

Assim como aconteceu no Complexo do Alemão, há quase um ano, a Rocinha, maior favela da zona sul e último grande reduto sob controle de traficantes na zona sul do Rio, começou a ser ocupada às 4h deste domingo. Com 194 fuzileiros navais e um total de cerca de 300 policiais civis, militares e federais, a operação “Choque de Paz” vai criar, nas favelas da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu a 19ª Unidade de Polícia Pacificadora do estado do Rio.

Às 6h20, o Bope informou que a favela estava completamente ocupada. Nesse momento havia mil homens no interior da favela. Eles tomam posições estratégicas e procuram criminosos, armas e drogas, com ajuda de cães farejadores, que podem localizar esconderijos na mata. Helicópteros orientam a movimentação das tropas.

Desde as 2h30 de hoje, os acessos ao bairro de São Conrado estão bloqueados. O objetivo é reduzir a chance de fuga e de confrontos, protegendo, assim, moradores, motoristas e passageiros de ônibus. Desde o sábado, a população das áreas próximas a Rocinha evita as ruas.

Pouco antes da partida dos policiais que estavam concentrados no 23º BPM (Leblon) para a favela, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, passou em revista às tropas, acompanhado do comandante-geral da Polícai Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho. Os policiais deixaram a unidade às 4h e ocuparam posições dentro da favela cerca de 15 minutos depois.

Beltrame, Costa Filho e o delegado da PF Vítor Poubel estão recebendo informações e monitorando a operação a partir de um centro de controle montado no batalhão do Leblon. O Bope levou cerca de 300 homens para a Rocinha. No Vidigal, a ocupação é feita pelo Batalhão de Choque da PM (BPChoque).

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Apesar de ainda não ter ocorrido confronto, bandidos tentaram dificultar a chegada das tropas, criando barreira com lixo e entulhos nas ruas. Nos arredores das favelas, todos os veículos particulares e coletivos são vistoriados.

Alemão e Rocinha eram, há décadas, pontos considerados impenetráveis para a polícia. Em parte, pelo poder bélico dos bandidos. Mas também pela promiscuidade da banda podre da polícia que, abastecendo-se do dinheiro da corrupção, sempre dificultou ou, no mínimo, vazou informações sobre as investidas do estado nesses locais. Beltrame e o governador Sérgio Cabral encabeçam, com o projeto das UPPs, uma reunião inédita de pessoal e recursos do estado, município e governo federal. O objetivo maior é recuperar para o estado territórios controlados por quadrilhas como a do bandido Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, capturado na madrugada de quinta-feira.

Se a tomada do Alemão foi decidida às pressas, em razão de uma sequência de ataques promovidos por bandidos que se concentravam naquela região, a retomada da Rocinha é marcada por um planejamento minucioso, com cuidado redobrado. Na labiríntica geografia de casas, ruelas e becos, colada à Auto-Estrada Lagoa-Barra, a condomínios e um shopping de luxo, perder o controle da situação teria repercussão danosa para o estado.

A prisão de Nem e de alguns de seus comparsas, não apenas ‘peixes pequenos’ da organização criminosa, é uma prova de que a polícia corrigiu falhas das operações anteriores. E os dias que antecederam a ocupação da favela serviram para enfraquecer uma quadrilha que, segundo a polícia, operam com 200 fuzis e tem, em seu arsenal, granadas, pistolas e armas antiaéreas. Entre chefes, soldados, informantes, entregadores que operam na zona sul e gente envolvida no refino e preparo da droga para revenda, seriam 400 criminosos – entre eles menores de idade.

Ao longo dos anos, a dificuldade da polícia para entrar na Rocinha – e a sinistra colaboração de maus policiais – criou em São Conrado, uma das áreas nobres da zona sul da cidade, um entreposto para diversos tipos de crime. Além das drogas, o local esconde comércio ilegal, fábrica e depósitos de produtos piratas, furto de sinal de TV a cabo e de energia e outros crimes.

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A ocupação – O planejamento para ocupar a Rocinha envolve entre 300 e 400 homens da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, Marinha e Polícia Rodoviária Federal. A participação do Exército, pelo menos nesta fase do trabalho, não está prevista.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que “todos os recursos necessários” serão disponibilizados ao governo do Rio para a operação e ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal. Cabe à União, também, um trabalho posterior à ocupação, que, Cardozo disse estar garantido. “Os presídios federais estão abertos para receber as pessoas que forem de alta periculosidade. Ou seja, nós temos quatro presídios de segurança máxima e temos vagas para receber todos aqueles que de alta periculosidade forem presos nessas operações”, disse o ministro.

A ocupação da Rocinha e do Vidigal completa um ciclo do programa de UPPs. A partir do momento em que o estado tiver formalmente o controle das duas favelas, a zona sul estará com todas as favelas ‘pacificadas’. Essa condição favorece a agenda de eventos internacionais previstos para o Rio, e o primeiro deles ocorre já em junho de 2012, com a Rio+20, reedição da conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável.

Realizar qualquer grande evento internacional no Rio sem total controle sobre a Rocinha é impensável. A favela tem população de cidade: cerca de 120 mil moradores, espalhados em 28 bairros que cresceram morro acima. Obviamente, a maioria sem qualquer relação com o tráfico de drogas. Mas o poder da quadrilha interfere, de alguma forma, na vida de toda a população. E isso se dá, por exemplo, na escolha dos presidentes das três associações comunitárias. Para o sociólogo e professor da PUC-Rio Marcelo Burgos, o fim do controle territorial pelo tráfico de drogas deve promover uma transformação social e econômica na Rocinha. “O básico é o direito à liberdade. As regras têm que ser as do do Estado. A UPP muda a situação da água para o vinho. Ela sozinha não resolve, mas cria condições para que o espaço se estruture politicamente”, afirma Burgos.

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