‘Não temos informação’ de brasileiros reféns, diz embaixador do Brasil
Frederico Meyer, diplomata baseado em Israel, afirmou que 'há desaparecidos', mas que nenhum órgão confirmou possíveis sequestros
O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, foi o entrevistado desta sexta-feira, 20, na live de Os Três Poderes. A atuação da diplomacia brasileira no conflito Israel-Hamas, que mostrou uma escalada de tensão nos últimos dias, está na pauta do programa, que analisa os principais fatos da semana com a participação dos colunistas Matheus Leitão, Robson Bonin e Ricardo Rangel.
Questionado pelo colunista Matheus Leitão sobre a possibilidade de haver brasileiros entre os reféns do Hamas, o diplomata revelou que 350 corpos ainda não foram identificados após o ataque do Hamas, a maioria da festa rave, mas que o governo de Israel não apontou detalhes sobre as vítimas que teriam sido sequestradas pelo grupo terrorista.
“Eu fui ao enterro da Celeste, que tava sendo dada como desaparecida e finalmente o corpo dela foi identificado… Então a gente não tem informação de nenhum órgão que haja brasileiros sequestrados [pelo Hamas]. Nós sabemos que há desaparecidos e esses desaparecidos podem ser pessoas que serão posteriormente identificadas ou que estejam na mão do Hamas, mas isso a gente não sabe”, disse.
Meyer também disse que existe a expectativa de uma solução, apesar de nenhum lado dar sinal disso até o momento. “Antes [Guerra do Yom Kippur] era uma guerra de estados. Agora é uma guerra com organizações. Em ambos os casos, as crises têm a capacidade de abrir janelas de oportunidades. Acho que tem a possibilidade de resultar numa solução, com diplomacia, com saliva, vontade e concessões”, opinou, demonstrando otimismo.
“Eu acho que a gente pode chegar num acordo. Os países podem chegar num acordo. Não é fácil, mas é possível”, acrescentou.
Questionado se as posições de autoridades ligadas ao governo e setores que apoiam o governo, como o MST e grupos de esquerda, de se posicionarem, muitas vezes contra Israel atrapalham o seu trabalho, o embaixador negou.
“O Brasil é uma sociedade plural, tem várias opiniões dentro e fora do governo e a gente convive com isso. A minha interlocução é com o governo. Eu não recebo instrução do MST, recebo do ministro Mauro Vieira e do presidente Lula. Opiniões você vai ter diversas, mas isso não interfere no meu trabalho”, afirmou.
Sobre o posicionamento do Brasil de não chamar o Hamas de grupo terrorista, Meyer ponderou que é normal. “É compreendido, porque é uma posição de política brasileira. Nós só reconhecemos organismos declarados terroristas uma vez que o Conselho de Segurança [da ONU] declare”, ressaltou.
Já em relação aos brasileiros que aguardam para deixar a região sul da Faixa de Gaza, o diplomata disse acordar esperançoso todo dia sobre a questão e que está “esperando a posição de Israel”, já que é o país quem vai abrir a fronteira. “Eu tenho esperança que seja aberta no domingo”, disse.
Por fim, o embaixador lamentou que inocentes de ambos os lados morram no conflito e comentou sobre o ataque ao hospital de Gaza que deixou centenas de mortos. “Os riscos [da guerra] são a perda de vida dos mesmos de sempre: idosos, crianças, mulheres, bebês. Por isso esse conflito tem que ter uma solução. Porque as pessoas que sofrem de ambos os lados são crianças, jovens, projetos de vida”, ressaltou.
“É difícil estabelecer quem atacou o hospital. Mas o que interessa é que morreram bebês, pessoas tratando câncer, as mesmas vítimas de sempre… eu acho que a escalada do conflito não é do interesse de ninguém”, concluiu.
Veja como foi a entrevista:
Com o mundo ainda sob impacto das atrocidades do Hamas contra Israel, uma mortal explosão em hospital em Gaza elevou a tensão e as incertezas sobre uma possível trégua na guerra no Oriente Médio. Conforme mostra capa de VEJA desta semana, o ataque é um sinal do longo caminho até o fim do conflito. Um indício disso foi a afirmação de um ministro israelense, de que seus soldados “em breve verão Gaza por dentro”, indicando uma entrada por terra. O país, contudo, tem discutido com os EUA “alternativas” à invasão total, segundo Joe Biden.