O inquérito da Operação Monte Carlo da Polícia Federal deixa cada vez menos dúvidas de que uma das principais atribuições da CPI do Cachoeira deve ser a de investigar os tentáculos da Delta Construções. A empreiteira teve um crescimento espetacular nos últimos anos, tornando-se a principal parceira do governo federal nas obras do PAC. Em maio de 2011, reportagem de VEJA revelou que os serviços de consultoria do ex-ministro e deputado cassado (mas eterno grão-petista) José Dirceu ajudaram a Delta em sua ascensão. Mostrou também que o dono da empresa, Fernando Cavendish, enxergava na propina um meio para progredir em Brasília. “Se eu botar 30 milhões de reais na mão de políticos, sou convidado para coisas pra c…”, disse ele em conversa com ex-sócios. Cavendish, mais tarde, tentaria qualificar como bravata essa afirmação. Mas as páginas do inquérito mostram que o empresário incentivava o ex-diretor da Delta para o Centro Oeste, Cláudio Abreu, a usar quaisquer métodos para conseguir negócios.
Preso pela Polícia Civil do Distrito Federal sob a acusação de fraude em licitações, Abreu é apontado pela PF como integrante do esquema de corrupção de Carlinhos Cachoeira, chefe da máfia dos caça-níqueis de Goiás. Nos grampos da PF, Abreu aparece contando a Cachoeira que Cavendish o orientou a ter cautela, mas não recuar, num embate com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. A empresa cobrava na época do governo faturas atrasadas de um contrato de coleta de lixo assinado com a Delta. Para pressionar pelo repasse do dinheiro, os diretores da Delta agiam em conjunto com o bando de Cachoeira e contavam com a ajuda do senador Demóstenes Torres, que atacava o governador no congresso.
Uma das conversas flagradas pela PF começa às 20h20 de uma terça-feira, 31 de janeiro, quando Abreu aguarda para falar com Agnelo na antessala de seu gabinete. Ele narra ao contraventor a fala de Cavendish: “Hoje, quem é o cara mais visado na imprensa? O Fernando, não é verdade? O segundo mais visado, disparado em relação a qualquer outro diretor, pela sua audácia e por tudo aí é você. Então você tem que tomar cuidado. Eu falei: chefe eu tenho todo o cuidado disso aí. Você quer que eu recue? Ele falou: não, não é recuar. Você tem que tomar cuidado e criar urna rede de proteção a isso. Eu falei: chefe você não conhece minha vida, eu não apareço em lugar nenhum, as minhas ações são os meus movimentos. Então é isso que você tem que tomar cuidado e se precaver.”
Abreu conta que Cavendish o orientou a não recuar diante de Agnelo. E Cachoeira encoraja o diretor da Delta: “Eu acho que você tem que dizer, tem que aproveitar agora, você tem que dominar é na conversa, viu?”
Numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo no dia 19 de abril, Cavendish asseverou que não sabia como Cláudio Abreu conduzia os negócios da empresa no Centro-Oeste. “Sou presidente do conselho, no Rio. Não sei o que está acontecendo em Goiás, no Nordeste, no Nortes.” Na última quarta-feira, dia 25, Cavendish se afastou da empresa enquanto um procedimento de auditoria é realizado.
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