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O país do samba ainda não leva o Carnaval a sério

Paixões populares, como a folia e o futebol, movimentam milhões de reais mas ainda não têm estrutura profissional. No Rio e em São Paulo, festa em 2012 foi marcada por escândalos

Por João Marcello Erthal e Rafael Lemos
25 fev 2012, 08h38

Potência inovadora do Carnaval, a Unidos da Tijuca, que conquistou na Quarta-Feira de Cinzas o seu terceiro campeonato, é uma espécie de embrião da mudança. A escola do carnavalesco Paulo Barros tem como trunfo uma gestão empresarial

Felizmente, reduzir o Brasil a algo como “país do samba e do futebol” é algo em desuso. Mas, por sua abrangência e intensidade, as duas paixões nacionais bem que merecem tratamento melhor daqueles que as organizam. Encerrado o Carnaval, e a um ano e meio da Copa do Mundo de 2014, o cenário é o seguinte: em São Paulo, o desfile das escolas de samba virou caso de polícia, depois da invasão da área de apuração do resultado; no Rio, a liga das escolas do grupo de acesso foi descredenciada, devido a uma polêmica sobre manipulação de resultados; e, no Brasil todo, a dor de cabeça dos dirigentes é o mar de lama em que está mergulhado o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

O respeito ao esporte e à tradição momesca não se faz necessário somente pela deferência que dirigentes e gestores públicos poderiam – e deveriam – ter com a bola e o samba. As duas atividades são indústrias milionárias que, inexplicavelmente, mantiveram-se à margem da profissionalização. Dentro das escolas de samba, o comando historicamente foi de banqueiros do jogo do bicho, que exploram e financiam as apresentações. Desfrutando de poder econômico e prestígio social, os bicheiros construíram o Carnaval que os sambistas gostam de chamar de o maior espetáculo da Terra. Particularmente no período que antecede a folia, o público ignora as atividades principais dos ‘patronos’ cuja feição criminosa só vem à tona quando a polícia resolve fazer seu trabalho. Invariavelmente, com alguns deles presos.

Os anos recentes mostraram o que acontece quando o Carnaval é levado a sério. Alçada à condição de potência inovadora do Carnaval, a Unidos da Tijuca, que conquistou na Quarta-Feira de Cinzas o seu terceiro campeonato, é uma espécie de embrião da mudança. A escola do carnavalesco Paulo Barros tem como trunfo uma gestão empresarial, com departamento de marketing e captação de patrocínios. Gerida sem a interferência de bicheiros, a Tijuca passou a ser uma fortíssima concorrente no reino de agremiações como a Beija-Flor, campeã em seis dos últimos 10 anos. O sucesso da escola de Nilópolis pode ser tributado ao patrono Aniz Abraão David, o Anísio, que acaba de se afastar do samba na tentativa de fugir dos holofotes que sempre perseguiu. Ele e outros chefões do bicho têm perdido poder diante da pressão natural por transparência e eficiência na administração do Carnaval.

O bloco Cordão do Boitatá reúne centenas de foliões.
O bloco Cordão do Boitatá reúne centenas de foliões. (VEJA)
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Em matéria de folia, a última década, no Rio de Janeiro, é emblemática. Nesse período, a festa que recebia críticas por ser “Carnaval para turista”, restrita aos desfiles no Sambódromo e poucas festas, evoluiu para algo que supera Salvador em número de foliões. Este ano foram 4 milhões de pessoas, em 316 blocos e 372 desfiles. Do ponto de vista dos negócios, não há o que discutir: o Carnaval é um sucesso. A discussão, agora, como afirma o economista Gilberto Braga, professor de finanças do IBMEC, no Rio, é sobre como comportar a festa. “É curioso. Discutíamos há 10 anos que o Carnaval tinha morrido, que o povo não participava e que a Sapucaí era cara, inacessível para o cidadão comum. Hoje, temos um Carnaval democrático. Estamos discutindo o ordenamento”, analisa Braga, que vê necessidade de melhorias na cultura de prestação de serviços da cidade. “Não existe cidade no mundo sem transporte público decente em seu aeroporto internacional. No Rio, até pegar táxi é uma aventura”, critica.

Transporte, segurança, capacidade hoteleira e serviços de forma geral conectam todos os grandes eventos. E de certa forma estão em andamento projetos para cada uma dessas áreas, na forma de compromissos públicos ao qual estão amarrados os três níveis de governo. No caso específico do futebol, estão em voga os legados de infraestrutura, urbano, econômico e social para o país. Pouco se fala do legado para o próprio esporte, que teria muito a ganhar com a profissionalização de gestão de negócios e de carreiras, dentro e fora do campo. “Não parece ser politicamente interessante para os órgãos organizadores que estão atualmente no poder. O futebol tem sistemas arcaicos de eleição, que favorece a manutenção de grupos encastelados. No Brasil, o futebol empresa não decolou”, afirma Braga.

“O que faria muito bem ao esporte seria a profissionalização de gestão, que não aconteceu ainda no Brasil. O futebol, ainda é administrado de forma feudal no Brasil, com uma cultura de autopatrocínio de dirigentes. Por outro lado, atletas são tratados como bibelôs, sem compromisso em relação a sua imagem pública. O caso do jogador Adriano é um bom exemplo: se fez gol, está perdoado”, analisa Braga.

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