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Bolsonaro, Lula e Moro: Padrinhos que não ajudam na escolha dos prefeitos

Prováveis protagonistas das eleições em 2022, eles são, por enquanto, meros coadjuvantes na disputa municipal

Por Daniel Pereira Atualizado em 19 mar 2021, 01h46 - Publicado em 30 out 2020, 06h00

A dois anos da votação, despontam como favoritos para a próxima corrida ao Palácio do Planalto o presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente Lula, que ainda é considerado inelegível pela Justiça, e o ex-juiz Sergio Moro, um dos símbolos da Operação Lava-Jato. Pesquisa do Paraná Pesquisas divulgada por VEJA em julho mostrou que os três lideram nas intenções de voto com, respectivamente, 27,5%, 21,9% e 16,8%. Com pequenas variações nos porcentuais, outros levantamentos também detectaram o trio na dianteira. No meio político, uma das apostas correntes é na reedição, em 2022, da disputa entre o ex-capitão e o PT, como ocorreu em 2018. Fala-se também na possibilidade de um nome de centro, como Moro ou o governador João Doria (PSDB), romper essa polarização, aproveitando-se do desgaste dos rivais. O fato é que Bolsonaro, Lula e Moro são tidos desde já como protagonistas da sucessão presidencial. No caso das eleições municipais, porém, eles desempenham até aqui papéis de meros coadjuvantes. Os candidatos do presidente e do ex-presidente nas disputas pelas maiores prefeituras enfrentam dificuldades para deslanchar. Já Moro, sem caneta na mão e sem cargo público, submergiu e pouco se fala dele no pleito municipal.

O caso de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, é emblemático. Mesmo com a entrada de Lula na campanha, o candidato do PT à prefeitura, Jilmar Tatto, registra apenas 4% das intenções de voto e está na quinta colocação, segundo pesquisa do Datafolha realizada nos dias 20 e 21 de outubro. Diante desse resultado, setores da esquerda, e até estrelas petistas, passaram a defender a ideia de que Tatto desista de concorrer e o partido trabalhe por Guilherme Boulos, do PSOL, que aparece em terceiro lugar, com 14%. Se a desistência for consumada, o PT, que já elegeu três prefeitos em São Paulo, trocará o antigo sonho de hegemonia pela pragmática posição de satélite. Sinal dos tempos. Já Bolsonaro não tinha nem mesmo candidato na capital, mas, embalado pelo noivado com o Centrão, ele resolveu apoiar o deputado Celso Russomanno,, do Republicanos, partido ao qual se filiaram seus filhos Flávio e Carlos. Pode ser só coincidência, mas, após a associação com o presidente, Russomanno, despencou e perdeu a liderança para o prefeito Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição.

No Rio de Janeiro, o risco de o candidato de Bolsonaro não chegar ao segundo turno é ainda maior. Também filiado ao Republicanos, o prefeito Marcelo Crivella está na segunda colocação, empatado tecnicamente com Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT). O líder, com folga, é o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). Ex-ministro de Dilma, Crivella reza cegamente pela bíblia bolsonarista numa tentativa de deslanchar. Até agora não conseguiu embalar devido, entre outros motivos, à rejeição estratosférica que lhe serve de âncora. O desempenho claudicante de nomes apoiados por Bolsonaro e Lula não significa um prenúncio de votações ruins para ambos em 2022 — no caso, obviamente, de o ex-presidente conseguir reverter a sua inelegibilidade. Segundo especialistas e políticos, as eleições municipais têm pautas e panos de fundo muito diferentes das disputas nacionais. “De um modo geral, o cidadão está mais preocupado com questões locais, mais próximas do seu dia a dia, do que com a ideia de país ou de sociedade, quando vai ter de escolher seu prefeito ou vereador”, diz o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro O Voto do Brasileiro. “Eleição para presidente faz o eleitor pensar na sociedade que ele projeta, enquanto na eleição para prefeito o sujeito quer que o ônibus circule, o posto de saúde funcione e que o buraco na rua seja tapado.”

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Dados de uma pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) ao instituto MDA chancelam essa análise. Do total de entrevistados, 44,8% disseram que o apoio de Bolsonaro não influencia na escolha do seu voto no pleito municipal. No caso de Lula, o porcentual é de 38,2%. Menos de um terço dos entrevistados se diz disposto a votar de acordo com a recomendação desses dois padrinhos poderosos (veja o quadro). Professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, o cientista político George Avelino destaca que nem a pandemia de Covid-19, com seus custos econômicos e as quase 160 000 mortes registradas, nacionalizou a eleição municipal. Esse entendimento de que não há relação direta entre 2020 e 2022 talvez explique por que Sergio Moro se mantém distante da arena. Cortejado por diferentes partidos, o ex-juiz deve empunhar numa eventual campanha presidencial a bandeira do combate à corrupção. A pesquisa encomendada pela CNT lhe traz um dado ao mesmo tempo positivo e negativo. Para quase 40% dos entrevistados, a corrupção aumentou nos últimos dois anos. O número pode ser usado contra Bolsonaro, pois abrange o mandato do ex-capitão, mas também contra Moro, que durante a maior parte desse período era festejado como o “superministro” da Justiça.

Colaborou Nonato Viegas

Publicado em VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711

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