Barroso quer conclusão de investigações antes de ‘virar página’
Ministro do Supremo Tribunal Federal defendeu uma reforma do sistema político como uma das ferramentas para combater a corrupção no país
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso defendeu nesta terça-feira a conclusão das investigações dos casos de corrupção do país antes de “virarmos a página”. “Se virarmos a página antes de fatos relevantes terem sido concluídos, analisados, não nos beneficiaremos das lições que a história pode nos trazer”, afirmou Barroso, em palestra numa feira do setor de seguros promovida pela Confederação Nacional das Empresas Seguradoras (CNseg), no Rio de Janeiro.
Em entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal, na semana passada, o ministro do STF Gilmar Mendes havia dito que “o ‘ethos’ [valores, ideias e crenças] de um país não pode ser a luta contra a corrupção”. Na segunda, Gilmar elogiou Raquel Dodge, a nova procuradora-geral da República, por ter afirmado em seu discurso de posse que pautará outros temas além do combate à corrupção no Ministério Público Federal (MPF).
Na quarta-feira, o plenário do STF também decidirá se acata recurso da defesa do presidente Michel Temer (PMDB), que pede a suspensão da análise da segunda denúncia contra o peemedebista até que novos áudios de delatores do grupo JBS, juntados aos autos, sejam totalmente analisados. A denúncia contra Temer chegou ao STF na quinta, mas o relator, ministro Luiz Edson Fachin, já havia decidido que o plenário deve dar a última palavra sobre a solicitação dos advogados de Temer.
Segundo Barroso, a corrupção no Brasil “foi um pacto oligárquico de saque ao Estado e que envolveu a iniciativa privada”. O ministro, no entanto, disse não estar pessimista com relação ao futuro do país. “Derrotamos a ditadura, a inflação, a pobreza extrema. Não há por que achar que a corrupção seja um desafio que não possamos vencer”, afirmou.
Reforma política
Barroso disse que a reforma política é uma das medidas que precisam ser adotadas para combater a corrupção. “Se não mudarmos o sistema político, não nos livraremos da corrupção associada ao sistema eleitoral”, declarou. “Temos que parar de pensar o país apenas em função da próxima eleição.”
Para o ministro, o Brasil precisa de novos atores políticos, que não tenham compromisso com a velha ordem. “O eleitor não sabe exatamente quem ele elegeu e muito menos o eleito sabe quem o elegeu, uma vez que 90% dos deputados eleitos não contam com votação direta.”
O ministro disse que o país passa por uma enorme judicialização, em que os mais diferentes tipos de conflito são levados ao Judiciário. “Uma matéria só chega ao Judiciário quando tem briga. Isso não é a forma normal de se viver a vida”, disse Barroso, antes de afirmar que há uma sobrecarga de trabalho no STF.
Barroso é contrário ao foro privilegiado, que transfere ao STF a responsabilidade de dar a última palavra sobre cada questão envolvendo integrantes do Executivo e Legislativo. “É problemático para o Supremo porque atrapalha a sua função principal, cria tensão”, afirmou.
(Com Estadão Conteúdo)