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As operações no exterior do dono do Grupo Petrópolis

Documentos obtidos por VEJA revelam transações suspeitas realizadas por meio de offshores ligadas ao empresário Walter Faria

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 jul 2019, 14h53 - Publicado em 31 jul 2019, 10h24

O grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava, é alvo da nova fase da Lava-Jato em Curitiba. Na mira dos investigadores estão transações financeiras suspeitas realizadas pela companhia por meio de uma rede de offshores. A investigação é baseada numa farta documentação enviada pelas autoridades da Suíça para o Ministério Público Federal do Paraná. O material, obtido por VEJA, revela como foram realizadas operações que movimentaram centenas de milhões de reais — e, segundo os investigadores, tinham como objetivo pagar propinas para políticos no Brasil.

Para os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, há evidências de que o executivo Walter Faria, dono grupo Petrópolis, “atuou em larga escala na lavagem de ativos e desempenhou substancial papel como grande operador de propina”. O esquema, de acordo com os investigadores, funcionava com uma complexa estrutura financeira montada no exterior. As contas bancárias de offshores ligadas à companhia eram irrigadas com diversas transferências de recursos. Em contrapartida, o grupo disponibilizava dinheiro em espécie no Brasil para pagamentos de propinas.

(Lava-Jato/VEJA)

A investigação mostra que havia ao menos 38 contas relacionadas a Walter Faria na Suíça. Uma delas era operada pela empresa Somert AS – que recebeu 18 milhões de dólares da Odebrecht durante as eleições de 2014. Em delações premiadas, executivos da empreiteira disseram que utilizavam o grupo Petrópolis tanto para arrecadar dinheiro vivo como laranja para disfarçar repasses de propinas por meio de doações de campanha para diversos políticos. Os procuradores apontam que a fabricante de cerveja disponibilizou 208 milhões de reais em espécie à Odebrecht no Brasil, entre junho de 2007 e fevereiro de 2011, e repassou 121,5 milhões de reais em vantagens indevidas “travestidas de doações eleitorais”, entre 2008 e 2014.

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“É possível concluir que Walter Faria foi uma das engrenagens do aparato montado pela Odebrecht para movimentar valores ilícitos, destinados principalmente a pagar propina a funcionários públicos da Petrobras e da administração pública brasileira e estrangeira, por meio da troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior, expediente conhecido como operações dólar-cabo, e por meio de entrega de propina travestida de doação de campanha eleitoral realizada por empresas do grupo Petrópolis em nome da Odebrecht”, dizem os procuradores da Lava-Jato.

Outras duas empresas offshores utilizadas pelo grupo Petrópolis para repassar propina seriam a Headliner e Gallpert Co SA. As companhias receberam, ao todo, 3,4 milhões de dólares de Julio Camargo e Jorge Luz, operadores e delatores do petrolão. De acordo com a força-tarefa de Curitiba, esses recursos seriam parte de pagamento de propina decorrente do navio-sonda Petrobras 10.000 para parlamentares do PMDB.

Segundo investigadores da Lava-Jato, Walter Faria aderiu ao regime especial de regularização cambial e tributária (RERCT) e passou a declarar 1,3 bilhão de reais em seus impostos de renda. “Destaca-se que os ativos mantidos por Walter Faria no exterior não poderiam integrar o RERCT, pois a origem desses ativos — em grande parte ainda mantidos no exterior pelos investigados — são, em sua maioria, decorrentes dos crimes de corrupção ou faziam parte de complexa engrenagem de sistema de lavagem de dinheiro do grupo Odebrecht, principalmente relacionados a desvios na Petrobras”, diz o Ministério Público Federal.

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Um relatório do Coaf, órgão de inteligência financeira ligado ao Ministério da Economia, revela que Walter Faria trouxe de volta para o país 185,8 milhões de reais e tentou adquirir em abril deste ano uma cédula de crédito bancário (CDB) junto a uma corretora. No entanto, o banco envolvido nessa operação não aceitou o dinheiro. Em parecer, disse que não concordava com a transação realizada por “falta de conformidade documental, da origem do dinheiro”. O documento ainda ressalta que havia a informação de que o empresário era investigado na Lava-Jato e utilizou a “repatriação junto à Receita Federal para legalizar contas na Suíça usadas como intermediárias do pagamento de propinas da Odebrecht no Brasil”.

(Lava-Jato/VEJA)

Procurado, o grupo Petrópolis “informa que seus executivos já prestaram anteriormente todos os esclarecimentos sobre o assunto aos órgãos competentes” e afirma “que sempre esteve e continua à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos”.

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