Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

As obras de arte na ‘lavanderia’ do petrolão

Perícia avalia autenticidade e valor de 48 telas apreendidas na casa de Zwi Skornicki, apontado como operador na nona etapa da operação Lava Jato

Por Mariana Zylberkan
1 mar 2015, 09h23

Reproduções e telas do popular Romero Britto não constituem necessariamente uma coleção de arte milionária, digna de despertar desconfianças sobre lavagem de dinheiro. A opinião, consenso entre especialistas do mercado de arte sobre as 48 obras apreendidas há cerca de 20 dias na casa do lobista Zwi Skornicki, investigado na Operação Lava Jato, diverge da avaliação da Polícia Federal, que investiga o uso das obras em esquema de corrupção na Petrobras. Desde a apreensão, as telas foram catalogadas e armazenadas no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR), mesmo destino das obras apreendidas com a doleira Nelma Kodama no ano passado. Agora, peritos da PF trabalham para avaliar o valor real e constatar se foram realmente usadas pelo empresário em atos ilícitos.

Leia também:

Empresa asiática Keppel Fels diz que vai ‘rever contrato’ com operador do petrolão

Nova fase da Lava Jato revela propinoduto de empresas estrangeiras

Continua após a publicidade

Comparados ao montante de dinheiro desviado no maior propinoduto da história contemporânea, o baixo valor das obras, segundo analistas, seria o motivo pelo qual o empresário as preteriu em comparação aos carros de luxo também apreendidos, esses sim objeto de um pedido de devolução feito pelos seus advogados. Segundo a petição, “há risco de significativa depreciação de seu valor, decorrente da falta de uso e manutenção adequados”, escreveram os advogados sobre os carros.

Citado na delação premiada do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, Zwi Skornicki é apontado como um dos operadores do esquema de corrupção que sangrou a Petrobras. Segundo Barusco, o lobista manobrava propina em nome do estaleiro Keppel Fels, em troca de contratos para construir sondas de perfuração assinados com a Petrobras e Sete Brasil, empresa montada por Petrobras, BNDES, bancos privados e fundos de pensão para fornecer sondas para exploração do pré-sal. Além do Keppel Fels, outros quatro estaleiros participaram da negociata e seus representantes foram ouvidos na nona fase da Operação Lava Jato. Durante interrogatório, Skornicki permaneceu em silêncio e não respondeu a nenhuma pergunta dos investigadores.

Os estaleiros contratados deveriam pagar 1% do valor do projeto de propina, desse percentual dois terços seriam pagos ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o restante dividido entre o diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o presidente da Sete Brasil, João Carlos de Medeiros Ferraz. Descontente com a distribuição determinada por Vaccari, Barusco afirmou que passou a cobrar 0,1% de propina adicional aos estaleiros, valores que foram depositados por Skornicki em sua conta aberta no banco Delta, em Genebra, na Suíça.

A maioria das obras apreendidas continha certificado de autenticação emitido por uma conhecida galeria de arte localizada no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. De acordo com a proprietária, que não quis se identificar, ela foi procurada pela arquiteta do empresário há cerca de dois anos para avaliar e constatar a autenticidade de obras de artistas como Nelson Leirner, Pedro Motta, Amilcar de Castro, Daniel Senise e Miguel Rio Branco. Foram contratados também, na ocasião, serviços de restauro de molduras, algumas deterioradas pelo tempo.

Continua após a publicidade

De acordo com planilhas do escritório Jacobsen Arquitetura, contratado pelo empresário para realizar a reforma de sua casa, em 2010, a galerista vendeu 550.000 reais em obras para decorar a mansão no Rio de Janeiro. Entre elas, a obra Dollar, de Vik Muniz, negociada por 9.000 dólares – a tela não foi encontrada pela PF durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão.

De Vik Muniz foram encontradas apenas reproduções seriadas, que são como cópias com baixo valor de mercado. Mesmo caso dos pôsters de Salvador Dalí, que assina reproduções da série Destino, criada em parceria com Walt Disney, na década de 1940.

De acordo com o delegado da Polícia Federal Marcio Adriano Anselmo, que iniciou as investigações da Lava Jato, a maioria das obras foi adquirida recentemente e suas compras não foram registradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), conforme prevê a legislação. O delegado afirma que a coleção foi avaliada preliminarmente em 20 milhões de dólares. Negociadores do mercado de arte a avaliaram em cerca de 500.000 reais.

O mesmo valor foi atribuído ao conjunto de obras apreendido na casa da doleira Nelma Kodama, no ano passado. Apesar do baixo valor, o delegado não descarta seu uso para lavagem de dinheiro. “Ela não teria capacidade financeira de ter aquelas obras; foram adquiridas para manter o capital”, diz.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.