Arthur Lira e Rui Costa: da pressão pela demissão ao armistício
Ministro pediu ajuda a um adversário político na Bahia para se aproximar do deputado, com quem agora conversa com regularidade
O ministro Rui Costa é alvo de críticas diversas à frente da Casa Civil. Do Palácio do Planalto ao Congresso, diz-se que ele não faz política, tem péssima relação com os parlamentares e atropela colegas de governo. Responsável por coordenar a equipe do terceiro mandato do presidente Lula, Costa conseguiu, em pouco meses de trabalho, tornar-se o alvo preferencial das reclamações até dos congressistas, com os quais não costuma lidar diretamente.
Em conversas reservadas, ele já foi chamado por integrantes da cúpula do Legislativo de “troglodita” e “desleal”, entre outros termos menos edificantes. Até petistas diziam — e ainda dizem — que acordos firmados pelo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, não eram cumpridos por serem barrados pelo chefe da Casa Civil.
A insatisfação chegou a tal ponto que o presidente da Câmara, Arthur Lira, sugeriu a Lula, em maio, a demissão de Rui Costa, que passou recibo em público com um frase desastrosa, da qual se desculpou depois: “Brasília é difícil. É difícil porque lá fazer o certo, para muitos, está errado. E fazer o errado, para muitos, é que é o certo na cabeça deles”.
Acossado, o chefe da Casa Civil resolveu reagir. Primeiro, procurou o líder do União Brasil na Câmara, deputado Elmar Nascimento, um dos generais do Centrão e seu adversário político na Bahia. Costa, que havia aconselhado Lula a não nomear Nascimento para o ministério, pediu ajuda ao deputado para se aproximar de Arthur Lira. Conseguiu depois de dizer que não trabalharia contra a candidatura de Nascimento ao comando da Câmara, em 2025.
A VEJA, o líder do União Brasil disse que articulou a conversa pedida pelo ministro e que, atualmente, Rui Costa e Arthur Lira conversam com frequência. Há sinais evidentes da aproximação entre eles. Sob a alegação de ausência de “fato determinado”, o presidente da Câmara anulou a convocação do ministro para depor na CPI do MST, controlada por bolsonaristas.
Tempos depois, Lira indicou ao próprio Rui Costa — e não a Fernando Haddad, titular da Fazenda, ou Padilha, articulador político do governo — o nome que queria ver empossado na Caixa Econômica Federal. Rui Costa pode até não gostar de fazer política, mas abriu uma exceção providencial diante da necessidade de se resguardar.